Ela é diplomata, professora, pedagoga e poetisa, sua terra natal é o Chile, seu nome oficial é Lucila Godoy Alcayaga, mas é mundialmente conhecida como Gabriela Mistral. Nasceu no ano de 1889, em Vicuña, região central de seu país, a aproximadamente seiscentos metros do mar, e morreu em Nova York, em 1957.
Começou a trabalhar como docente em 1904, percorreu várias escolas em diversas regiões de seu país, algumas vezes foi criticada pelos preconceitos religiosos, mas ainda assim sempre progrediu como professora. Em 1910, então com vinte e um anos, prestou serviço como diretora de Liceu Feminino, no qual desenvolveu o ensino de trabalhos manuais, desenho, higiene e economia doméstica.
Nessa época, Mistral observou e comentou que os “indígenas sabem amar sua terra”, e a seguir a docente partiu para trabalhar em áreas nativas, junto aos autóctones. Já em 1922, ela foi contratada pelo governo do México para trabalhar conforme seu novo sistema educativo, e o foi a pedido do Ministério da Educação, o qual tinha conhecimento de sua intensa mobilização em favor do ensino rural.
A partir de então, acolhida no país mexicano, a docente anima-se em fazer progredir as plantações, aproveitando o mais possível da terra e, principalmente, incentivando a escrita e a leitura, ambas como meio preferencial para a criação de bibliotecas; seu trabalho perdura até hoje, reconhecido como base para o progresso cultural do país. Mistral sabia da importância de sua missão e, entre outras inovações, ela dará a conhecer aos mexicanos a riqueza da literatura chilena, agora exposta por ela.
A autora volta ao Chile em 1925, então foi nomeada delegada chilena do Instituto de Cooperação Intelectual da Sociedade das Nações. Em 1927 vai a Paris, e de lá apresenta seu artigo sobre os direitos das crianças, entre outros: o direito à saúde, à alegria, o direito ao trabalho, à liberdade, ao ensino secundário e até ao superior. Sabem os especialistas que esta concepção de mundo foi fundamental em sua produção literária.
Ela identifica-se com as mulheres que cuidam de seus filhos em um sentido maternal e também educativo, além do valor formal da educação escolar, ela ocupa-se com a humanidade que uma docente deve a seus alunos. Durante sua vida, escreveu dez obras originais, cerca de trinta colaborações com jornais e demais publicações, e praticamente cem publicações póstumas ( imprensa, pequenos textos, comentários diversos).
Recebeu oito importantes prêmios, sendo o primeiro datado de 1914, no Chile, e demais na França, em Cuba, no México, nos Estados Unidos; recebeu também próximo de dez láureas Honoris Causa; a maior de todas foi o Prêmio Nobel de 1945: a motivação para o prêmio “nos indica que foi sua obra lírica que, inspirada em poderosas emoções, converteu seu nome em um símbolo das aspirações idealistas de todo o mudo latino-americano”.
A autora recebeu a honraria e manifestou-se ; “Por uma ventura que me ultrapassa, sou neste momento a voz direta dos poetas de minha raça e a indireta dos nobres idiomas espanhol e português. Ambos se alegram de terem sido convidados ao convívio da vida nórdica, toda ela assistida por seu folclore e suas poesias milenares”. A obra de Gabriela Mistral é grandiosa e muito longa, por isso destacamos seis de seus poemas mais considerados: “Beijos”, “Pezinhos”, “Amor amor”, “Eu canto o que tu amavas”, “Carícia” e “Desolação”.
Podemos dedicar um pouco de nosso texto ao “Desolação”; este poema é de 1922 e à época, o Chile vivia, naquela metade do século XIX, o que chamavam de colonização seletiva. Isto significava que o governo havia aberto suas fronteiras para receber estrangeiros católicos e que tivessem ao mínimo a educação secundária. Assim chegaram os alemães, impondo sua língua e seus costumes, nas zonas que habitariam. Mistral, frente a essa situação, levanta sua voz para barrar essa transformação da paisagem afetiva, e perante a estranheza de um espaço que começa a perder sua identidade.
O poema; “A névoa espessa e eterna, / para que você esqueça onde / o mar me jogou em sua onda de salmoura. / A terra a que vim não tem nascente: / Tem sua longa noite aquilo que mamãe me esconde. / / O vento faz da minha casa sua roda de soluços / e de grito, e falência, como um vidro, meu grito. / E na planície branca, com um horizonte infinito, / Eu assisto intensos e dolorosos pores do sol morrerem.” (…) / / “Eu olho para a planície extática e recolho seu luto, / que vem ver as paisagens mortais. / A neve é o semblante que espreita através dos meus cristais: / Sempre será sua brancura descendo dos céus! / / Sempre ela, silenciosa, como o grande olhar / de Deus sobre mim; sempre sua flor de laranjeira em minha casa; / sempre, como o destino que não diminui nem passa, / Ele descerá para me cobrir, terrível e extasiado.”
Como sabemos, “Desolação” é o fluxo natural do palpitar dos sentimentos da autora, diante de situações, cenários e pensamentos que já seriam os temas capitais de toda sua obra poética; os versos deste poema têm origem na dor e nas oscilações emocionais causadas pela paixão e pela perda; a gama de sensações de solidão, saudade, tristeza, incerteza e abandono são sentidas em seus versos. Para além das palavras e das histórias que narram, os poemas falam de uma etapa vital de descoberta da vida e da morte – e isso acontece em qualquer verso, em qualquer estrofe.
É isto o que nos oferece a obra de Mistral: uma poesia extremamente sensível, seu acorde é íntimo e profundo, o que chamaríamos de nota tônica de sua personalidade. Em outros poemas, ela se dirige às crianças com delicadeza, ela cria inveções para elas, seu texto infanti será animado por seu sorriso. A autora também vai em direção da natureza em busca de apaziguamento e consegue exprimir a harmonia universal. Termino aqui meu texto sobre a obra poética de Gabriela Mistral: ela se sente em si mesma e se redescobre com o sentido da vida.