Ando pelas lonjuras
Por um caminho sem dono
Respiro ar fresco da brisa
Ao encontro à natureza.
A singular aragem
Em tuas mãos oclusa
Esvai-se…
Não consegues retê-la.
São como as juras
Pares enamorados
Trocam, rostos colados
Ao pé do ouvido!
Até parece extravagância, nesses dias que correm, lembrar pormenores de um tempo de antigamente, sentado preguiçosamente numa cadeira do papai. Pensamentos, assim do nada, ao consciente chegam, trazendo recordações de muito esquecidas.
Quanto gostaria de varrer as dores e deficiências aos últimos escaninhos – os mais remotos – da existência inconsciente, de onde jamais aflorassem, por somente trazer tristezas, quando tão triste as coisas do cotidiano já se nos oferecem. Como dizem alguns: É a idade!
Ao mesmo tempo questiono meu masoquismo, recordando o decurso das aflições; elas ficaram no passado e lá devem quedar. Lembro de um amigo apaixonado por uma moça interna do Jacob Renner. Casualmente se encontravam, trocavam olhares e algumas palavras e nada mais; ele se martirizava, queria mais. Depois ela formou, foi embora e tudo passou; até ele, que veio a óbito anos depois.
E então pergunto: De quanto valeu todo esse sofrimento? Digo que nada; um simples hiato de tempo. Os pares seguiram seus caminhos; novas alegrias, novos infortúnios… Por aquele tempo, o nosso universo era limitado aos que conosco conviviam: em bailes, reuniões dançantes, escolas e pelo bater pernas pelas ruas da cidade.
Tempo! Lembranças, medi-las porque nos surgem e depois desaparecem, tão rápidas quanto chegaram. Meu mundo coloco em uma redoma utópica, como se nela estivessem presas todas as fantasias que permearam minha existência, como um raio de luz iluminando espaço escuro da gama enorme de recordações inseridas mentalmente, num projeto identitário.
O caminho que mentalmente cruzo, já não tem dono! Simplesmente o enorme prazer de respirar o ar fresco, com a brisa ao meu rosto chega. Uma forma de sublimar a carência respiratória, que a antiga beleza do fumar, a mim deixou como indelével sequela, sem volta.
Em nossas mãos não podemos prender o tempo ou enfeixar o ar dessa fresca brisa. Tudo desvanece… Dissipa ao menor movimento. Ao menos sobra o recordar. Vejo corpos enlaçados, movimentando-se ao ritmo da orquestra. Música, dança, olhares e mãos!
Simbologia ao toque, interpretações ao longe se quedaram na aurora da nossa vida. Foram juras ou confissões trocadas ao pé do ouvido do casal de dançarinos? Quem sabe o nascer de um novo amor? Eu comecei pela dança e estou 59 anos (4 de namoro/ noivado e 55 casados) com a Nereida; e você, lembra de alguma jura ao pé do ouvido?