A UNESCO instituiu o dia 23 de abril como o Dia Internacional do livro, com o objetivo de fomentar o gosto pela leitura e sublinhar a sua importância. O livro é a grande porta que nos leva à descoberta da língua que, como dizia Fernando Pessoa, é a pátria de cada um de nós. Mas porquê escolher o dia 23 de abril? Por curiosa coincidência, foi nesta data que nasceu e morreu William Shakespeare, morreu Cervantes, e numerosos outros escritores famosos nasceram ou morreram, nesse dia.
A palavra livro, que nas línguas românicas é quase a mesma, livro em português, libro em espanhol e italiano e livre em francês remete-nos para árvores. A palavra vem do latim liber que é o nome da fina camada fibrosa entre a casca e o tronco da árvore que, depois de seca, pode ser usada para escrever. Num passado longínquo, o material de escrita mais utilizado era o papiro. Nas águas do Nilo, o junco de papiro afunda as suas raízes. O caule é grosso como o braço de um homem e tem entre três e seis metros de altura. Com as suas fibras flexíveis, as pessoas humildes fabricavam cordas, esteiras, sandálias e cestas. A cesta onde a mãe de Moisés o abandonou, segundo a Bíblia, era feita de papiro, besuntada com pez e alcatrão.
Os egípcios descobriram, cerca de três mil anos antes de Cristo, que podiam fabricar folhas para a escrita com aqueles juncos. Mil anos antes de Cristo, já tinham estendido a sua descoberta aos povos do Médio Oriente. Comprei uma vez, durante uma das minhas viagens uma pequena imagem de São Pedro, que ofereci a um amigo colecionador de São Pedros, em que ele é representado com um rolo de papiro, figurando as duas cartas que escreveu. Além das chaves, claro.
Durante séculos, os hebreus, os gregos e depois os romanos escreveram a sua literatura em rolos de papiro. Assim o primeiro livro da história nasceu quando as palavras encontraram abrigo na medula de uma planta aquática. Este junco era muito escasso fora do Egito. Constituiu-se, portanto, um poderoso mercado que o distribuía em rotas comerciais através da África, da Ásia e da Europa.
Os reis do Egito apoderaram se do monopólio da manufatura e do comércio das folhas de papiro, o que lhes conferiu um grande poder económico. Em 324 antes de Cristo, Ptolomeu I constrói em Alexandria, cidade fundada por Alexandre Magno, uma grandiosa biblioteca e faz da cidade capital do Egito. Entretanto, onde hoje se situa Anatólia, na Turquia, Pérgamo, cidade grega, torna-se rica e poderosa, em termos económicos e culturais, de tal modo que rivalizava com Alexandria, a cidade fundada por Alexandre Magno e que o faraó Ptolomeu I transformou em capital do Egito. Alexandria era famosa pela sua Biblioteca fundada pelo mesmo Ptolomeu. Pérgamo criou igualmente uma Biblioteca que atraía sábios, filósofos e escritores de todo o mundo.
Roído pela inveja, o rei Ptolomeu V proíbe a venda de papiro a Pérgamo, privando a cidade do melhor material de escrita existente. Mas para frustração do vingativo rei, os artesãos aperfeiçoaram a antiga técnica oriental de escrever sobre couro. Foi um grande avanço que, ainda por cima, imortalizaria o nome do inimigo. Em memória da cidade que o imortalizou, esse produto chamou-se «pergaminho». Fabricava-se com peles de bezerro, ovelha, carneiro ou cabra. E revelou-se um material superior ao papiro, que era um material frágil. A humidade enegrecia-o; se as folhas se humedecem e secassem várias vezes, acabavam por se desfazerem.
Em climas húmidos, não sobrevive mais do que duzentos anos. Além disso, só se podia escrever de um lado, enquanto no pergaminho se escreve nas duas faces. E assim o novo material de escrita triunfou, acompanhando o aparecimento do papel, na China, no século I depois de Cristo, que se ia espalhando pela Ásia, Médio Oriente, até chegar finalmente à Europa.