Nascemos, crescemos, e saímos um dia de uma infância talvez feliz e despreocupada, ou não, e de repente, na nossa adolescência e juventude – ainda é o princípio do tempo da nossa vida!- acordamos eufóricos para o mundo em volta com uma enorme sede de independência; vemo – nos rodeados de ‘portas ‘que queremos começar a abrir, quase freneticamente, curiosos, fascinados e atraídos pelos rótulos e aparências: liberdade, amor, beleza, dinheiro, fama, conhecimento, poder, prazer, diversão, sucesso, saúde…
Desejamos quase tudo, numa ânsia imensa de gozar a vida toda, toda!
Tentamos fazer escolhas, quer por influência da família e amigos, ou conhecidos a quem queremos copiar, quer por nós próprios, pela nossa cabeça, apenas!
À medida que o tempo vai passando, e já adultos, estamos no meio do nosso tempo de vida! vamos mudando, transformando -nos ao atravessar dificuldades e obstáculos, montes inesperados, e ao depararmos com vales escarpados e caminhos pedregosos, insistimos em entrar por essas portas, mas logo nos vemos impelidos a sair, desiludidos, querendo algo mais profundo, verdadeiro e duradouro… já passámos talvez o meio do tempo da nossa vida !
E inexoravelmente, as portas vão se fechando e nós ficamos de fora, ao envelhecermos e perdermos capacidades, ou talvez mesmo antes, e experimentamos o sabor amargo de nos sentirmos sós e confusos, perdidos sem sabermos para onde ir, caídos à beira da estrada da vida.
Que é feito de tudo aquilo em que pusemos a nossa confiança e segurança, onde gastámos o melhor do nosso tempo e energia?
O que nos mostra o espelho e o rosto dos amigos ou simples conhecidos com quem nos cruzamos nas ruas há tantos anos…?
Então, através de um qualquer acontecimento inesperado – um encontro, um livro, um filme, uma história, uma doença, um drama vivido ou ouvido, ou pela palavra de alguém, amigo ou desconhecido- reparamos que há uma outra porta discreta que sempre lá esteve, mas por distração, por descrença ou por outras quaisquer razões, ignorámo – la e dela nos afastámos.
Essa porta chama – se ‘Deus’!
Avançamos como que a medo, titubeando talvez pequenas desculpas….’ Duvidei da Tua existência…’ Parecia me que não precisava de Ti! Distraí me!’’ Não tive tempo! Tinha outras coisas mais urgentes para fazer…’ mas voltamos a sair, dizendo Lhe: ‘Senhor, desculpa, eu volto já, espera um pouco’!
Até parecia que era desta vez que nos atrevíamos a procura – Lo, ou a deixar que Ele nos encontrasse, mas assustamo – nos porque exigia mudança maior do que pensávamos …
Afinal ainda não estávamos preparados para deixar outras atrações de lado e julgámos poder adiar!
Contudo, – já passou talvez, o meio do nosso tempo de vida!- sabemos bem que o tempo está a chegar ao fim e chegará a altura desse encontro radical e definitivo com o problema da existência de Deus, por meio de uma nova dor, uma qualquer doença, um outro luto, ou um insucesso profissional… ou um vírus estranho, novo, aterrorizador como este que agora nos invade por todos os lados, nos transforma até as simples rotinas diárias e mais assustador, porque invisível e sem que os cientistas e médicos o conheçam suficientemente para nos defenderem …
E de repente, naquele ano de 2020, naquele tempo de Quaresma e quarentena forçada, talvez acordemos a pensar: ‘…mas então a vida é mesmo só isto? Foi nisto, que é nada e talvez para mim desapareça em breve, que gastei todo o meu tempo???’
E teremos de escolher de uma vez por todas, com Quem queremos estar…Talvez então, sintamos verdadeiro desejo de regressar, definitivamente rendidos e convertidos ao Amor e à Verdade, e iluminados por fim, pelo Dom da Fé, possamos repetir como Pedro, ajoelhando com arrependimento, a nossa alma e Coração, no segredo do nosso quarto ou de uma igreja vazia: ‘Senhor, a Quem iremos nós, se só Tu tens Palavras de Vida Eterna?’ E nesse momento olharemos o passado e o presente com olhos diferentes. E descobriremos a Paz, a Esperança e a Alegria das coisas pequenas de cada dia.