Uma ecologia humana integral envolve não só as questões ambientais, mas também o Homem na sua totalidade, com grandes responsabilidades no presente e para com as gerações futuras, respeitando a aliança entre o homem e a natureza, sem a qual a família humana não pode sobreviver.
Todos podemos colaborar, cada um com a própria cultura e experiência, com as suas iniciativas e capacidades. Compete-nos preparar um amanhã melhor para todos. Das mãos de Deus recebemos um jardim, aos nossos filhos não podemos deixar um deserto.
O paradigma da ecologia integral abrange as nossas vidas, a nossa civilização, os nossos modos de agir, os nossos pensamentos, e está directamente envolvida em questões como o aborto e a defesa da vida, desde a concepção até ao seu fim natural, numa abrangência total e global.
A ética ecológica implica uma responsabilidade do homem, que tem um lugar de destaque neste universo face aos demais organismos vivos. Ele não só vive, mas “con-vive” numa relação de dependência com o meio ambiente.
Todas as criaturas apresentam uma dignidade própria, uma ética em si mesma.
O ser humano não dominando a natureza, tem de caminhar para uma convivência pacífica, entre ela e a sua produção, sob pena de extermínio da espécie humana.
“Um antropocentrismo desordenado gera um estilo de vida desordenado” (LS, 122).
O Papa Francisco considera o valor intrínseco de cada ser: “Cada criatura possui a sua bondade e perfeição próprias. (…) As diferentes criaturas, queridas pelo seu próprio ser, refletem, cada qual a seu modo, uma centelha da sabedoria e da bondade infinitas de Deus. É por isso que o homem deve respeitar a bondade própria de cada criatura, para evitar o uso desordenado das coisas” (LS, 69).
“Na ecologia integral, tudo está em relação, não há duas crises separadas: uma ambiental e outra social, mas uma única e complexa crise socio ambiental” (LS, 139). O ser humano pertence a um todo maior, que é complexo, articulado e interdependente.
Num mundo onde nos preocupamos com as mudanças climáticas, devemos também pensar na ecologia humana. Enquanto nos vangloriamos com os progressos económicos e sociais, negligenciamos a família, célula insubstituível para a construção de sociedades sãs e fortes.
O próprio desenvolvimento científico, o bem-estar social, a troca de conhecimento, a nova visão do conceito de vida apresentado pelo pensamento filosófico e teológico, trouxeram muitas contribuições para o entendimento da ecologia, como interações existentes entre os diversos organismos vivos, mostrando que o ambiente é um “sistema de relações” integrado.
Uma tecnologia omnipotente, não controlada, que domine o homem, priva-o de sua humanidade, pelo que é urgente conjugar a tecnologia com uma forte dimensão ética. (…) A técnica deve ajudar a natureza a desenvolver-se na linha prevista pelo Criador. Ao trabalharem juntos, investigador e cientista, aderem ao plano de Deus, que quis que o homem fosse a cúpula e o administrador da Criação. As soluções apoiadas neste fundamento protegerão a vida humana e a sua vulnerabilidade, assim como os direitos das gerações presentes e futuras.
Não há ecologia sem antropologia, não há ecologia sem consciência humana, pois nesta está inscrita a noção de responsabilidade comum a toda a humanidade.
A bússola da ecologia humana integral é o Homem no seu todo, é na nobreza do seu espírito que ele se sente chamado a ser algo mais do que um animal, graças ao cultivo da alma e ao seu aperfeiçoamento como Pessoa.
O ser humano possui a capacidade de criar uma moral, para possibilitar a vida em sociedade. Existe, no interior de cada sociedade, um conjunto de valores que especificam e diferenciam o que é o bem e o que é o mal, aquilo que é melhor do que é pior, o que pode e não pode ser feito.
São estes os princípios orientadores das nossas decisões, opções e acções, tornando-as preferíveis a outras, impondo-se, exigindo o respeito dos membros do grupo em que vigoram.
É a lei moral inscrita na nossa consciência que reconhece os limites do ser humano e nos impele a ser mais, sinal da nossa nobreza humana. Em qualquer civilização o homem foi chamado a aperfeiçoar-se, a crescer em sabedoria, em capacidades, a caminho do Bem, do Belo e da Verdade.
A dignidade do homo sapiens é a percepção duma sabedoria inerente ao seu próprio EU, que o impele a procurar um conhecimento desinteressado, fomentando o desejo de aperfeiçoar e esculpir o ser humano como a obra mais perfeita de toda a Criação. Esta noção de querer e poder fazê-lo, leva-nos a concluir que o Homem também possui Liberdade para tal. Os animais e as plantas não a têm, movem-se de acordo com os estímulos, os instintos e as leis da natureza.
O Homem é um ser cunhado para ser chamado a algo mais, a transcender-se, a elevar-se, a ser dono do seu destino, a saber escolher, a atingir a plenitude do humano, a tocar o infinito, o divino, como prova da origem do seu pensamento, da pertinência do seu sentido de vida, da dignidade que lhe assiste numa dimensão transcendente e o privilegia como sujeito activo e responsável na construção duma sociedade ecológica, mais humana a caminho do absoluto e do todo que nos une e sem o qual jamais poderemos subsistir.