“Uma grande ideia: O homem só é superiormente feliz quando é superiormente civilizado”.
“ …nem a ciência nem as arte, nem o dinheiro, nem o amor, podiam já dar um gosto intenso e real às nossas almas saciadas. Todo o prazer que se extraíra de criar estava esgotado. Só, restava, agora, o divino prazer de destruir”.
“ mas o que a cidade mais deteriora no homem é a Inteligência, porque ou lha arregimenta dentro da banalidade ou lha empurra para a extravagância. Nesta densa e pairante camada de ideias e Fórmulas que constitui a atmosfera mental da Cidade, o homem que a respira, nela envolto, só pensa todos os pensamentos já pensados, só exprime todas as expressões já exprimidas – ou então, para se destacar na pardacenta e chata rotina e trepar ao frágil andaime da gloríola, inventa num gemente esforço, inchando o crânio, uma novidade disforme que espante e que detenha a multidão como um mostrengo numa feira.” (…)
“Todos intelectualmente são carneiros, trilhando o mesmo trilho, balando o mesmo balido, com o focinho pendido para a poeira onde pisam, em fila, as pegadas pisadas: – e alguns são macacos, saltando no topo de mastros vistosos, com esgares e cabriolas. Assim, meu Jacinto, na Cidade, nesta criação antinatural onde o solo é de pau e feltro e alcatrão, e o carvão tapa o céu, e a gente vive acamada nos prédios, como o paninho nas lojas, e a claridade vem pelos canos e as mentiras se murmuram através de arames – o homem aparece como uma criatura anti-humana, sem beleza, sem força, sem liberdade, sem riso, sem sentimento, e trazendo em si um espirito que é passivo como um escravo ou impudente como um histrião”.
E aqui tem o belo Jacinto o que é a bela Cidade.
– Sim, com efeito a Cidade é a bela ilusão perversa!
“O culto do Eu… Ainda o cultivei. Depois foi o Nietzschismo, o Feudalismo Espiritual…
“…Enfim meu filho, uma Babel de Éticas e Estética. Paris parecia demente. Já havia uns desgarrados que tendiam para o Luciferismo. Um horror! E uma tarde, de repente, toda esta massa se precipita com ânsia para o Ruskinismo!” (…)
“Por fim tudo se reduz ao supremo desenvolvimento da Vontade dentro da suprema pureza da Vida. É toda a ciência e força dos grandes mestres hindus… entre outras verdades esótericas… as ondulações da Vontade”.
“Teosofia, budismo esotérico…Aspirações, decepções… Já experimentei… Uma maçada!”
“Foi então que o meu Príncipe começou a ler apaixonadamente os teóricos Pessimistas – Schopenhauer…”
Todavia, uma imprevista tempestade obriga Jacinto a deixar Paris e rumar a Tormes e, ei-lo na serra, onde descobre o encanto e a beleza da simplicidade que conduzem à felicidade suprema.
O ócio e o tédio parisiense, deram lugar a um entusiasmo genuíno de amor pelas terras, pelas suas gentes e Jacinto descobre a sua vertente altruísta, de ajudar a melhorar as precárias condições de vida dos seus assalariados.
Também uma formosa “Joaninha” entrou na vida do Príncipe da Grã-Ventura, a natureza aconselha a presença do “Eterno Feminino”, condição sem a qual a sua vida seria mais solitária, monótona e sem sentido.
Nota:
Texto inspirado na Cidade e as Serras, de Eça de Queirós, o último livro que reli e no qual descobri deslumbrantes passagens e suaves criticas à vida em Paris, contrastando com a simplicidade e a beleza da nossa terra e da nossa serra, numa prosa de surpreendente actualidade.