FONTE CRISTALINA
REMOTO LUGAR
DISTANTE AO LARGO
O MANANCIAL FAZ NASCER.
FIO LÍMPIDO
EM ÁGUA CORRENTE
DESCE DO ALTO
VENCENDO DISTÂNCIAS
ABRINDO FENDAS
NA DURA TERRA, AO CORRER.
Mentalmente, através do nosso rio, muitos navegam e decantam suas belezas em verso e prosa. Em seu Cais, o rio já foi inúmeras vezes reverenciado, por pessoas preocupadas com o seu manancial. É um rio que correr ao grande estuário do Guaíba, vindo do alto da serra, serpenteando por entre montanhas, vales e planícies. Um rio, em suas cheias, provoca enchentes e danos aos ribeirinhos.
Muitos anos no passado, antigas administrações permitiram construções em áreas alagadiças (locais das águas espraiarem-se quando das cheias). As construções só aconteceram porque os terrenos foram aterrados, em níveis mais altos do que as ruas. O aterro impede as águas se estender; são canalizadas por dentre as ruas baixas, ganhando espaços nos declínios, se avolumando – assim começa a enchente. O grande lugar de escape das águas é pelo arroio São Miguel, ganhando o Bairro Industrial.
Aos que me honram com a leitura desta coluna, peço retrocederem mentalmente ao início do século próximo passado. O Cais baixo e o Alto praticamente se confundiam e ficavam muito próximo ao fluxo d’água. Qualquer chuva mais forte, a água levantava e ganhava a rua 7 de Setembro (hoje Álvaro de Moraes), carregando consigo as mercadorias estocadas ao seu longo. Sério problema para a Vila, praticamente equacionado com a construção dos Caís.
“A vila de São João do Montenegro, à margem direita do rio Caí, tinha uma atividade comercial das mais intensas. O porto era dos mais movimentados. (…) As embarcações não davam vencimento na condução desses produtos, ainda mais a lenha e a madeira, porque o porto era acanhado para abriga-las.
Quando as chuvas caiam (…) o rio crescia e derrama-se pela planície. A lenha e a madeira estocadas do Cais, eram em grande parte, levadas pela correnteza. Além disso, as águas iam levando chiqueiros, galinheiros e estrebarias, e a vila ficava infestada desses estrumes, além de restos apodrecidos de árvores, folhas secas, detritos vegetais e lama pegajosa (…) como consequência as febres e peste” (Arpini, Elisa, em Montenegro de Ontem e de Hoje, 2º volume, p.442).
O intendente da Vila, Cel. Álvaro de Moraes iniciou a construção dos Cais, cuja obra levou dois anos para ficar pronta (1902 a 1904). Moraes foi muito criticado pela iniciativa e por seu alto custo. O engenheiro Cândido de Godoi mandou um recado ao administrador:
“Cerre a administração ouvidos à canzoada (corja de pessoas irresponsáveis) e conclua o caes, onde mais tarde os mastins (os cachorros grandes) do movimento gozarão de seus benefícios”.
A grande briga que ocorreu deixou um clima de intranquilidade e grande inimizade entre a população. A beleza que hoje descortinamos, nasceu da discórdia entre dois grupos de moradores da vila de São João de Montenegro. Por isso a obra deve ser tratada com respeito e reverência aos que tiveram coragem da construção.
Ao longo da rua foram construídos Cais Baixos, que deram causa à revitalização do porto, então chamado de Porto do Tristão, inicialmente, depois Porto das Laranjeiras. Entretanto, o nome só foi oficializado no presente século, por projeto de autoria da vereadora Iria Camargo. Ao longo da obra há varias escadas e um pequeno porto defronte ao Caça e Pesca (servia ao Vapor Corvo).
Se o cais emoldura o rio, nada mais justo que o quadro mereça um pouco de cuidado. O rio é nosso; nas suas águas a população aplaca a sede, dá vida às plantas e rejuvenesce o nosso corpo. Então fica a certeza de que devemos ajudar o rio e deixá-lo sobreviver.