Aquele cheiro gostoso, natural
Vindo da cozinha, todas as manhãs…
Algo divino
E tão intuitivo (…)
As xícaras, o bule, o café
Teus cheiros, teus gostos, tua cor
Tua boca, teus sabores, teus amores (Leandro Flores).
A história do café começa na Abissínia … Um pastor viu suas cabras ficarem saltitantes e revigoradas depois de comerem a frutinha de um certo arbusto. Experimentou e deu vida ao café. De origem muçulmana, o café foi considerado alimento herege pela igreja da Europa. Os venezianos não deram importância ao pecado e importaram as primeiras sacas. Foi em Veneza que surgiu a primeira “Botteghe Del Caffé”, por volta de 1615. As “caffeterias” ganharam o mundo, especialmente a Inglaterra. Pela mão dos franceses o café veio ao Novo Mundo. Em contato com estes, os colonizadores o introduziram no Brasil. Da plantação e cultivo, o café chegou à mesa dos brasileiros.
Pela terra gaúcha o estabelecimento café ganhou uma dimensão maior, guardando certas características com os bares. Como o nome indica, os cafés dedicam-se a servir café, chá e outras bebidas, bem como refeições ligeiras. O primeiro dessa ordem, com o qual tomei conhecimento, por morar na rua Dr. Flores, foi o Bar e Café Motorista, na esquina desta artéria com a José Luiz. No lado adverso outro café, muito frequentado pelo pessoal da Oficina da Prefeitura.
Mais para o centro, na Rua Ramiro Barcelos, precisamente na quadra entre a Olavo Bilac e a São João, três Cafés disputavam a preferência do público. O Café Central, o Brasil (depois Líder) e o Comercial. A intensificação dos negócios imobiliários alcançou os dois primeiros, determinando a paralisação das atividades. No prédio que depois foi das Casas Pernambucanas, nos anos 50, existiu o Café Elite, de propriedade do Sr. Bonaccina (o atual prefeito de Portão é neto deste cidadão – a filha casou com Dari Hoff). Desapareceu literalmente. Tais estabelecimentos também serviam refeições e mantinham churrascaria.
A Associação Comercial pretendeu modificar a finalidade da parte fronteira do seu prédio, onde se localiza o café. A diretoria teve que recuar para evitar uma comoção social. Graças aos insistentes pedidos da população e dos frequentadores, o Café Comercial permanece até hoje, servindo cafés, bebidas e lanches.
Pelos tempos de antigamente, menção especial ao Café Guanabara, lá no marco inicial da Buarque de Macedo; da mesma forma ao Café Ivo, junto à Estação Rodoviária. O Guanabara, sempre comandado pelo casal Flach, produzia seu próprio sorvete; o de uva certamente marcou muito os contemporâneos.
Gostaria muito de destacar o Café Central, pelas características do prédio que o abrigava. Não sei quem o construiu; no início do século passado já existia, mas só com uma parte do segundo piso pronta. Esse lance, por longos anos, abrigou um hotel; desconheço se sua edificação foi para tal finalidade original. Na parte junto à esquina o senhor João Barth comerciava com fazendas, roupas e miudezas. Também abrigou o Colégio Elementar, depois Delfina Dias Ferraz, nos seus primeiros tempos.
Enquanto Café Central, minhas lembranças retroagem aos anos 40 do século passado, como de propriedade do senhor Vicente Froener. Ao depois, Cacildo Hummes adquiriu o estabelecimento e o prédio. O Central era um ponto de encontro do pessoal do interior, que por ali aguardava o ônibus (as duas primeiras rodoviárias ficavam próximas).