Estás à beira do Tejo, em jardim de imensa multidão que se aproxima ainda de campos lusos e globais floridos, searas, montanhas e desertos. Cada jovem sonha e responde como o jovem Salomão: «pede o que quiseres, diz-lhe Deus, para ti e para cada um deste milhão e meio, de todas as idades e culturas. Ele pediu sabedoria, coração inteligente, saber o que é bem e o que é mal (1 Reis 3, 5.7-12).
E tu, jovem? Alguém no silêncio te ajudará, vives o bem da Cristo-globalidade. Jesus anda pelas filas de gente, frente aos Tejos do mundo, a falar aos corações. Passeia entre jovens pelas praias até ao fim dos mares. Segreda ao cérebro, mente e coração. Murmura: vem comigo e verás o que pedir. Ilumina-te com a luz do sorrir e verás como Ele vê. Deixa sentido a brilhar: segue-o e entenderás as suas parábolas. Ao lado de moças e rapazes, entre milhares de outros jovens que se sobressaltam e se acalmam ao seu gesto, quando pergunta se querem dizer-lhes sim. Ide dizer aos batizados e padres das mil terras do mundo que eu ressuscitei, estou vivo.
Como? Lembrar a ressurreição de Cristo aos padres? Ouvia-se conversa de rapazes e adultos a falar sobre isso, que eram maneiras de falar, acabava tudo na morte e tanto valia ter sido bom ou não. E logo mais adiante outros ouviam o Papa na missa a dizer como Cristo: tomai e comei, isto é o meu corpo…e ficavam a pensar que seria como se o pão e o vinho se tornassem uma lembrança de Cristo. Alguns, porém, recordavam: quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna. Alguns duvidavam. E à pergunta: também quereis ir embora, como os que já se foram? Muitos, que sabiam a resposta de Pedro, responderam: ficamos contigo para o teu Reino e a vida eterna. Mais para a margem do Tejo Jesus olhou um dos rapazes de alta posição social que ouviu, baixinho, o convite: vem comigo!
Durante as melodias dos hinos vibrantes do grupo coral de milhares de vozes a empolgar aquela multidão, muitos reviviam as longas viagens a partir de quase 200 países para estarem ali. Muitos tinham percorrido milhares de quilómetros de avião; outros usaram diversos meios de transporte.
Emocionavam-se; tinha valido a pena, o esforço, a preparação e a ajuda recebida de tantas pessoas generosas. Repassavam as lembranças das notícias da televisão e as leituras dos jornais. Os de mais perto até recordavam algumas notícias críticas pouco simpáticas de comentários azedos a denegrir alguns preparativos dos locais das Jornadas, como se estas fossem um mal: despesas com os locais necessários para realizar as centenas de eventos destes seis dias em Portugal.
Outros, já em Lisboa, souberam que até havia uma rua onde muitos iam afixar os seus protestos queixosos. Surpreendia como alguns faziam da Jornada o bode expiatório de muitas deficiências e injustiças para com os pobres cidadãos e os problemas sociais do país. Nalguns casos, até terá sido bom levantarem a voz para que houvesse mais transparência com os ajustes diretos nas despesas. Enfim, desenrascanços da lusa tribo.
Outros, parecia que negavam os benefícios espirituais e cristãos da Jornada e até mesmo as vantagens culturais, económicas e promocionais para o turismo. Será que sentiam uma dorzinha de não poderem cancelar a grandeza sociocultural do fenómeno de dimensão nunca vista em país tão pequeno? Será que sofriam por não cancelar a Jornada por ser uma realização colossal da Igreja católica centrada em Cristo? Será que tentavam apagar o sol a baldes de água? Ou pensavam alguns que, devido aos abusos horrorosos de crianças, a Igreja não tardaria a ficar minoria insignificante?
E agora esta Jornada a dar sinal em todo o mundo que a Igreja de Cristo está aí, cheia de graça, fraquezas e pecados deploráveis, mas viva e para bem. Será que alguns censuram mais as despesas da Jornada que os milhões desviados para off shores e os milhões de lucros bancários que fazem falta a César para ajudar a pagar as prestações das rendas de casas, os serviços de saúde, a resolver os atrasos aos professores e os prazos da aplicação da Justiça relativa a milhões desviados por gananciosos?
Aquele Alguém que anda por entre os jovens a falar em sonhos reais de fé e bem comum continuou pela beira do Tejo, Belém, Parque Eduardo VII, Cascais, escolas ocorrentes, Algés e por Fátima. E muitos dos jovens, voluntários, adultos, recordavam as palavras que tinham ouvido de Jesus Cristo, a figura central da Jornada. Recordavam a parábola do trigo do inimigo a semear joio no meio do trigo enquanto alguns servos dormiam. E perguntavam-se se alguns jovens também dormiam? Outros aplicavam a si mesmos, batizados e crismados, as palavras de S. Paulo aos Romanos: «Nós sabemos que Deus concorre em tudo para o bem daqueles que O amam, dos que são chamados, segundo o seu desígnio. Os que Ele de antemão conheceu», (Rom 8, 28-30).
Outros ainda, à medida que as Jornadas decorrem, meditam nas três parábolas de Jesus ouvidas há pouco: as de trocar tudo por um tesouro, por uma pérola de valor incalculável e a da rede cheia de peixe, bom e mau (Mt. 13, 44-52). Em todas elas, Jesus Cristo propõe a escolha livre de tudo por o Único e ótimo. O ótimo é o tesouro, a pérola os peixes bons e este ótimo era a Jornada, o Reino de Deus e o Único Jesus Cristo por quem vieram a Lisboa, à JMJ. Jesus disse: estais no mundo, mas não sois deste mundo; o meu Reino também não é deste mundo, como Ele disse a Pilatos.
Funchal, JMJ, 2 de Agosto de 2023