Durante mais de um ano rezámos diversas vezes por semana pela intenção da Jornada Mundial da Juventude, no grupo de idosos de um Centro de Dia que acompanho. E a data agendada chegou. Desta vez tinha programado participar nas cerimónias que tiveram lugar no Parque Eduardo VII, integrada num grupo de denominado “Vamos de Carrinho”, que integrava famílias com cerca de 250 crianças pequenas e 100 carrinhos de bebé. Que alegria participar na JMJ em tão boa e jovem companhia.
No primeiro dia do evento, de manhã, desloquei-me na companhia da minha neta, recém-chegada de férias, à avenida da Liberdade, para ela tomar conhecimento do espaço. Seria uma aventura porque teríamos de ir de Metro, única possibilidade de circular. Tínhamos programado sair no Marquês de Pombal e subir o Parque Eduardo VII para a Maria Luísa poder usufruir da vista do palco. Mas não foi assim. O Metro só parou nos Restauradores. Ia repleto de grupos de jovens, de diferentes países usando as roupas alegres alusivas à JMJ. Uma alegria. Sobretudo porque cantavam contagiando-nos com a sua boa disposição. A Maria Luísa estava surpreendida. À saída do Metro deparámo-nos com a avenida da Liberdade vazia ao centro.
Que experiência maravilhosa a ausência de trânsito. Até ousei solicitar a um agente da autoridade que nos tirasse uma fotografia no meio da avenida sem ninguém. Mas aos poucos iam chegando inúmeros jovens e a certa altura a polícia pediu-nos para sair por questões de segurança. Iriam passar a funcionar as entradas programadas com polícias a revistar a bagagem. A minha neta contava as nacionalidades dos jovens com os quais se cruzava e já eram muitos. Já se fazia tarde. Era necessário regressar a casa. Já cansada, fizemos uma paragem no Corte Inglês para descansar um pouco e fazer uma refeição leve. Da janela envidraçada observávamos as centenas de peregrinos a chegar com as suas bandeiras e símbolos sempre alegres a cantar e algumas vezes também a dançar.
Regressámos a casa. Conseguimos apanhar o Metro e fazer o resto do percurso a pé. O meu filho veio entretanto buscar a minha neta. Entrava de férias no dia seguinte e partiam de madrugada. Com muita pena minha, não foi possível acompanharem-me. O meu filho prometeu que iríamos a Roma num fim-de-semana para a Maria Luísa ver o Papa. Entretanto, tinha recebido, há poucos dia, um caixote contendo algumas recordações de uma grande amiga que tinha regressado à casa do Pai há cerca de três anos.
A minha neta sempre a conheceu como “vovó Nela”. Dentro do caixote encontrava-se uma recordação para a Maria Luísa. Estava embrulhada com um lindo laço cor-de-rosa. Referia no papel que a embrulhava: “Para a Maria Luísa da Vovó Nela”. Era a sua letra já um pouco trémula com os seus 100 anos de vida. Ficámos emocionados. O que seria. A Maria Luísa com uma lágrima no canto do olho abriu-a desatando lentamente o laço. Cheirou o pequeno e leve embrulho e comentou: “Tem o cheiro da vovó Nela”. O que seria? Era um cachecol cor-de-rosa, feito à mão por ela, certamente pouco antes de partir.
A minha neta chorou durante algum tempo, muito emocionada, referindo: “Foi a melhor prenda que alguma vez recebi na minha vida, vou guardá-la para sempre”! Também ficámos sem palavras. Era como se a Manuela três anos depois regressasse à nossa companhia. E pai e filha partiram para férias com a lembrança da Manuela. Da minha parte, ainda estava em estado de choque a pensar, que a Manuela teria feito o cachecol na residência onde se encontrava, com tanto gosto, na cor que sabia que a Maria Luísa gostava, certamente para lho oferecer no Natal, já que partiu pouco antes.
A caminho da Cerimónia do Acolhimento, no sentido de ir ter com o meu grupo, consegui apanhar um autocarro. Graças a Deus! No caminho ia a pensar na importância das relações entre gerações, na transmissão de valores, de conhecimento, de carinho. Na próxima paragem entraram dezenas de jovens acompanhados por freiras e sacerdote. Que alegria. Cantavam “Somos la Juventud del Papa” a caminho da JMJ. Eram espanhóis. E outros tantos foram entrando. Questionei a capacidade e a segurança. Não cabia nem mais um alfinete. Mas não faltava a alegria e a boa disposição. Bem, eu não era assim tão jovem.
O melhor mesmo é não ter complexos e procurar integrar-me. Aliás ninguém questionava a idade! Senti-me muito feliz. Que bom ver a minha cidade repleta de jovens. Também contar com a presença do Santo Padre em Lisboa e em Fátima. Participaria em tudo o que fosse possível. E este dia seria infindável até ao limite das minhas forças. Já que tive de regressar a casa a pé. Foram muitos quilómetros. Felizmente no caminho, encontrei o grupo da minha paróquia ao qual me juntei.
Estava emocionada com o grupo em que me tinha inserido Denominado “Viemos de carrinho”. Tantos pais jovens com filhos tão pequenos, alguns mesmo em carrinho de bebé. Também alguns avós. Já apetrechada com uma t-shirt, chapéu e mochila da JMJ, todos vestidos de igual, o grupo partiu para o local que nos tinham reservado e que possuía segurança para as crianças. Ficámos em frente a um écran, sendo possível acompanhar todos os acontecimentos.
Sentei-me no chão, no meio do grupo. Ouvi com atenção as palavras do Santo Padre na Cerimónia do Acolhimento: “Bem-vindos e obrigada por estardes aqui. Fico feliz de vos ver! E feliz também ao escutar o simpático barulho que fazeis, contagiando-me com a vossa alegria. É belo estarmos juntos em Lisboa: para aqui fostes convocados por mim… Mas foi sobretudo Jesus que vos chamou; agradeçamos, pois a Jesus com uma grande salva de palmas. Vós não estais aqui por acaso. O Senhor chamou-os desde o início dos vossos dias…
Chamou-os pelos vossos nomes. Tu foste chamado pelo teu nome: tu…além, tu…ali, tu…aqui, e também eu… Cada um de nós é único e original, e não chegamos sequer a vislumbrar a beleza de tudo isto. Sejam estes dias ecos vibrantes da chamada amorosa de Deus,… Sejam dias em que o meu nome, o teu nome, através dos irmãos e irmãs de muitas línguas, muitas nações, que o pronunciam com amizade, ressoe como uma notícia única na história… É este o ponto de partida da JMJ, mas sobretudo o ponto de partida da vida. Jovens moços e moças, somos amados como somos, sem maquilhagem… Na Igreja há lugar para todos… Há espaço para todos! Todos juntos… É esta a Igreja, a Mãe de todos. O Senhor não aponta o dedo mas abre os braços.”…”Deus ama-nos”.
Saí do recinto emocionada com as lágrimas a cair. Ouvi-a aplaudir e cantar: Somos a Juventude do Papa”. Caminhei por entre milhares de jovens sentados no chão com um espírito fraterno e solidário. Alguns exaustos dormiam tranquilamente. Que belo!
Obrigada, meu Deus, por me teres permitido vivenciar este momento indiscritível e de uma enorme grandiosidade. Entretanto, começaram a deixar o Parque Eduardo VII. Era uma multidão a perder de vista que dançavam, cantavam, tocavam diferentes músicas. No dia seguinte teria muito para contar no Centro de Dia, quando fôssemos, mais uma vez, rezar o terço pela JMJ. As vozes dos avós e dos idosos chegaram ao Céu. Ficariam tão felizes!