Cora Coralina, 1889-1985
Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas prefere ser chamada de Cora Coralina, e é exatamente com esta poetisa e contista brasileira, considerada uma das mais importantes escritoras brasileiras, que vamos dialogar despretensiosamente. Isso mesmo, talvez seja esta a característica mais contumaz de sua obra, ou seja, Cora Coralina nos ensina muito em sua “pretensa” escritura humilde. A autora nasceu em 1889, na Cidade de Goiás, e morreu em Goiânia no ano de 1985, pouco antes de completar 96 anos de idade.
Era filha de um desembargador nomeado por D. Pedro II, ela teve pouco tempo de escolaridade, na época, sabemos, não interessava às mulheres terem acesso aos livros, à cultura, em geral. Apesar disso, ela escreveu desde cedo, começou sua produção de poesias e de contos a partir dos quatorze anos, mas somente teve seu primeiro livro publicado em 1965, quando já tinha quase setenta e seis anos de idade. Sua obra consta de quatro volumes editados em vida, e mais cinco impressos postumamente.
A autora obteve o reconhecimento de seu trabalho na Academia Feminina de Letras de Goiás e a seguir, na Academia Goiânia de Letras. Quanto ao estilo da obra de Cora Coralina, podemos afirmar que os elementos folclóricos próximos a sua vivência cotidiana impregnaram sua inspiração “para que aquela frágil mulher se tornasse a dona de uma voz inigualável e sua poesia atingisse um nível de qualidade literária jamais alcançado até aí por nenhum outro poeta do Centro-Oeste brasileiro.”
A autora expressa seus sentimentos com poderosas palavras, ela escreve com simplicidade e “desconhecimento” acerca das regras gramaticais, o que contribui para que sua produção artística privilegie a mensagem ao invés da forma. Afirmam os especialistas de obras literárias que Cora Coralina, “preocupada em entender o mundo no qual está inserida, e ainda compreender o real papel que deve representar, ela parte em busca de respostas no seu cotidiano, vivendo cada minuto na complexa atmosfera da Cidade de Goiás, o que lhe permite a descoberta de como a simplicidade pode ser o melhor caminho para atingir a mais alta riqueza de espírito.”
Até então ela é conhecida como “Aninha”, diminutivo de seu nome de batismo, mas a partir da segunda edição de seu livro publicado em junho de 1965 – “Poemas dos Becos de Goiás” e “Estórias Mais”, surge a oportunidade da saudação que lhe confere o grande poeta Carlos Drummond de Andrade: “Minha querida amiga Cora Coralina: seu ‘Vintém de Cobre’ [poesia] é, para mim, moeda de ouro, e de um ouro que não sofre as oscilações do mercado. É poesia viveu – uma vida tumultuada, mas sua fibra de guerreira e sua sabedoria simples souberam salvar as marcas profundas calcadas em sua alma.
Os poemas de “Vintém de Cobre” são todos escritos neste tom simples e comunicativo, num lirismo quase de toada sertaneja, ricos de experiência humana. Talvez por pudor, ou autodefesa, nunca revelam toda a dureza dos fatos; ficam nas meias-confissões, e por modéstia são chamados de vintém de cobre quando, na realidade, constituem a mais pura e autêntica moeda de ouro. Concluindo, a poesia de Cora Coralina é baseada numa escrita do cotidiano, das miudezas, e é caracterizada por uma delicadeza e por uma sabedoria de quem passou pela vida e observou cada detalhe do caminho.
Cora, uma mulher extraordinária, que mesmo nascida em tempos rudes, conseguiu se adaptar às suas limitações e fez da própria vida um poema, fez moradia no coração dos jovens e na memória das gerações posteriores. Sabemos que em algum momento de sua juventude, a poeta foi doceira; pois bem, a lírica de Cora é impregnada da história que a doceira viveu.
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Observações:
Mandrião = casaco curto e caseiro.
Carenta = quarenta.
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Em anexo, a lista das obras de Cora Coralina e a sua consagração.
Poemas:
Poemas dos Becos de Goiás e estórias mais (poesia), 1965 (Editora José Olympio).
Meu Livro de Cordel, (poesia), 1976.
Contos:
Vintém de Cobre – Meias Confissões de Aninha (poesia), 1983
Estórias da Casa Velha da Ponte (contos), 1985.
Póstumos:
Meninos Verdes (infantil), 1986
Tesouro da Casa Velha (poesia), 1996
A Moeda de Ouro que o Pato Engoliu (infantil), 1999
Vila Boa de Goiás (poesia), 2001
O Prato Azul-Pombinho (infantil), 2002.
Quanto aos prêmios recebidos pela autora, Cora Coralina recebeu diversos, dentre eles:
Em 1983, recebe o título de Doutora Honoris Causa da UFG (Universidade Federal de Goiás)
Em 1981, recebeu o Troféu Jaburu, concedido pelo Conselho de Cultura de Goiais
Em 1983, foi eleita a intelectual do ano e contemplada com o Prêmio Juca Pato da União Brasileira dos Escritores
A 31 de janeiro de 1999, sua principal obra, Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais, foi aclamada através de um júri organizado pelo jornal O Popular, de Goiânia, uma das 20 obras mais importantes do século XX
Em 1983, recebe a Medalha Anhanguera, do Governo do Estado de Goiás
Em 1984, ocupa uma cadeira da Academia Goiana de Letras
Postumamente, em 2006 , ela recebeu a condecoração de Ordem do Mérito Cultural.