Sábado, ao final da tarde, um milhão e meio de jovens divertia-se no Parque Tejo. Qualquer pretexto gerava entusiasmo. Um grupo surpreendia-se nos «écrans» gigantes e desatava a rir; acenavam para o «écran»; descobriam que a câmara os filmava de outra posição e procuravam a câmara. Curtos segundos de excitação a entreter a espera.
A chegada do Papa foi mais saboreada do que a segurança previa. Acompanhávamos nos «écrans» o carro branco e a escolta: curva para a esquerda, curva para a direita, cada vez mais povo a acenar com uma mão e a apontar o telemóvel com a outra. Até que alguém se enganou. Acabou-se a estrada. As motas da polícia não conseguiam andar, os carros da segurança não tinham espaço para manobrar. Que fazer?
Os terroristas, se os havia, estavam noutro local. Os populares, esses, bafejados pela sorte, aproveitaram aqueles minutos para conviver com um Papa calmo e sorridente, como se fosse normal um Papa ficar preso num engarrafamento de pessoas.
A locução do Papa sintonizou com a juventude. Palmas, risos e até diálogos: «O que acham?» «Não oiço!» «Mais alto!». Francisco cuidou de que a sua mensagem, simples e forte, ficasse gravada nos corações. Seguíamos tudo nos «écrans», porque os que estavam, como eu, a dois quilómetros não tinham outra forma de acompanhar o que acontecia no palco.
No final, o Papa deslocou-se para um lugar de menos evidência e o Cardeal Patriarca trouxe o Santíssimo Sacramento para o altar.
O Cardeal Patriarca colocou o Santíssimo Sacramento sobre o altar e, no final, abençoou o povo e abençoou o Papa.
Sem ninguém dizer nada, a multidão levantou-se e muitos jovens ajoelharam naquele chão de pedras agrestes. O bulício mudou-se em silêncio. Ao longe, ouvia-se uma gaivota no Tejo.
Mais nada. O Papa em silêncio. Os bailarinos, que tinham actuado antes, ajoelhados, não se moviam. A televisão focou algumas caras: quietas, concentradas, de olhar fito no altar, não riam nem buscavam a câmara. Nem música, nem explicações, nem coreografia. Um milhão e meio de jovens rezava. Não medi o tempo. Dizem que durou um quarto de hora.
Uma figura branca, elegante, avançou vagarosamente num patamar abaixo do altar. Sem pressa. Lentamente, começou uma oração em forma de canto. No imenso espaço em silêncio, ouviu-se a voz maravilhosa da Carminho: «Tu és a estrela que guia o meu coração; Tu és a estrela que iluminou o meu chão… Tu és a estrela e eu sou o peregrino». Mais tarde, ouvi de novo a gravação: só a voz de uma artista extraordinária consegue encher de expressividade e conteúdo estas palavras durante 1 minuto e meio. Na estrofe seguinte juntou-se-lhe a guitarra portuguesa de André Dias, e, mais à frente, discreta, a orquestra dirigida pela Joana Carneiro. Cinco minutos de magia.
Carminho, num momento de extraordinária beleza, interpretou «Tu és a estrela» diante da Eucaristia, exposta sobre o altar.
A adoração eucarística continuou com alguns hinos em latim. No final, o Cardeal Patriarca abençoou o povo e abençoou o Papa.
Pensei na alegria de Deus.