Um rio a correr
Pela vasta planície
Dividindo a terra
Em margens aleatórias
Um rio, uma terra
De Faxinal o primeiro nome ganhou.
Durante a semana, por deferência especial dos alunos da 1ª série do ensino médio, da Escola São João Batista, fui convidado para uma conversa com os estudantes, sobre as coisas de antigamente da nossa terra – agradeço pelo convite. Um dos assuntos ventilados agora dá causa ao escrito semanal.
Nos últimos anos do século XIX, a Vila de São João do Montenegro era constituída de escassas casas, havendo áreas baldias, cobertas de camboin, faxina, carrapicho e outros tipos de vegetação baixa. No meio deste faxinal caminhos encurtavam distância entre uma rua e outra – eram os chamados “atalhos”, sempre muito utilizados. Interessante falar sobre a origem do faxinal:
Em primeiro, Faxinal significa “campo de pastagem” ou “lugar de vegetação baixa com mato ralo”. Os índios Ibiraiaras viveram, por um longo tempo, na planície junto ao rio – região que chamavam de Ibia (uma área muito mais ampla, estendendo-se até a serra). Eles prepararam o terreno e queimaram a mata para suas plantações. Os Ibiraiaras, depois que mataram o padre Mendoza, foram perseguidos, mortos e aprisionados, inclusive os que por aqui se fixaram. Os que conseguiram fugir, foram empurrados para os altos da serra, bem ao norte. O gado selvagem, com medo dos tiros, disparados pelos bucaneiros, encontrou em nessa área um lugar seguro e apropriado, pela calma e pastagem.
Toda esta área do faxinal de campo e mato (assim constou na medição judicial – processo de sua legalização) integrava a propriedade do casal Simas. Quando eles passaram a residir na casa de telhas, o lugar torna-se conhecido como “Faxinal do Estevão José de Simas”. Ao depois foi chamado de “Faxinal de São João”, porque os moradores adotaram São João Batista como Santo Padroeiro – que depois foi oficializado, quando da criação da Capela.
Quando da criação da Freguesia, no ano de 1867, conforme Lei Provincial nº 630, a pequena comunidade já era conhecida como São João do Monte Negro; em 1873 – emancipação política-administrativa – o nome foi escrito junto: Montenegro.
No local onde se ergue o Hospital Montenegro, ao tempo inicial situava-se o Cemitério da Vila. Essa necrópole fazia frente para a atual Rua Osvaldo Aranha, era denominada como “Rua dos Finados” e/ou “Rua do Cemitério”. Nessa antiga via pública terminavam as ruas Apolinário de Moraes (ex-São Pedro), Assis Brasil (ex-Boa Vista), Cel. Antônio Inácio (um prolongamento da Rua da Praia, atual Dr. Flores), João Pessoa (ex-Rua do Barão), Ramiro Barcelos (ex-Rua da Floresta), Capitão Cruz (ex-Rua do Imperador) e Capitão Porfírio (ex-Rua da Baroneza).
Estas duas últimas ruas foram traçadas e abertas pelo Barão do Jacuí, título aristocrático de Francisco Pedro Buarque de Abreu, também conhecido por “Chico Pedro” e “Moringue”, herói do Exército Imperial durante várias guerras fraticidas. As outras, o traçado inicial foi de Tristão Fagundes – no loteamento as ruas por ele traçadas acabavam na São João. Depois elas foram prolongadas, mas obedecendo a primitiva planta. A Rua da Igreja, atual Olavo Bilac, planejada no loteamento, era pequena, envolvia a Igreja e a Praça Marechal Deodoro a sua frente.
No meio da quadra da Osvaldo Aranha, entre as ruas Ramiro Barcelos e Capitão Cruz desembocava a Estrada dos Pinheiros, que dava acesso a parte alta da atual cidade, em direção àquela localidade, alcançando as proximidades de Costa da Serra. A estrada também servia de caminho para os cortejos fúnebres, já que o Cemitério foi transferido para um espaço entre a atual Rua João Pessoa e a Ramiro.