“A poesia não é um modo de libertar a emoção, mas uma fuga da emoção; não é uma expressão da própria personalidade, mas uma fuga da personalidade.”
– T. S. Eliot, no ensaio “Tradição e talento individual”.
Falamos de Thomas Stearns Eliot ou, simplesmente, T. S. Eliot, autor de língua inglesa, nasce em Saint Louis, no estado de Missouri, Estados Unidos, em 1888, e morre em 1965, em Londres. Eliot é um poeta, dramaturgo e crítico de língua inglesa, considerado como um dos representantes mais importantes do modernismo literário, a saber, quando os versos são livres e a prosa pode ser poética.
Eliot inicialmente estuda filosofia e literatura em Harvard, a seguir perfaz os estudos na Sorbonne e em 1914, frequenta a Universidade de Marburg, na região central da Alemanha. No início da Primeira Guerra Mundial, em 1914, Eliot passa a morar em Londres, onde ministra aulas.
Entre 1917 a 1925, passa a trabalhar no departamento de estrangeiros do Lloyds Banking Group, a segunda maior instituição financeira do Reino Unido, e depois ingressa na editora britânica Faber and Faber, onde trabalha como editor, e lá ele permanece por muitos anos.
Durante a década de 1920, ele passa muito tempo em Paris; em 1927, além de ser cidadão norte-americano, também torna-se britânico e ingressa na Igreja da Inglaterra. Seus primeiros sucessos como escritor ocorrem desde 1915, mas seu reconhecimento internacional acontece em 1922 com “The Waste Land” (“Terreno Baldio”), um dos poemas mais influentes do século XX, e entre seus últimos trabalhos, destacam-se “The Hollow Men” (“Os homens ocos”), “Ash Wednesday” (“Quarta-feira de Cinzas”) e “Four Quartets” (“Quatro quartetos”).
Em 1948, Eliot é homenageado com o recebimento do Prêmio Nobel de Literatura, e no decorrer de sua produção artística, ele recebe mais de dez prêmios consagradores de seu trabalho; além disso, o autor é poeta, dramaturgo, crítico literário, ensaísta, crítico social, contista, professor universitário, roteirista, letrista, escritor de literatura infantil, jornalista e escritor. Destaca-se sua obra poética, rica em relacionamentos, pujante em alusões a mitos, à cultura e à poesia da Índia antiga, e ainda alcança a inspiração da Idade Média até os primeiros momentos da Primeira Guerra.
Além disso, enquanto suas peças teatrais recuperam o renascimento do drama poético, elas consagram-se a refletir um mundo perturbado e tentam resolver o problema existencial do homem moderno recorrendo ao humanismo baseado no cristianismo. Dessa forma, a obra poética de Eliot é muito extensa, ela compreende uma produção que se estende de 1909 até 1963, pouco antes de sua morte (1965).
Passamos à leitura de algumas de suas obras. Primeiramente,”O que disse o trovão”: Não há água aqui mas apenas pedras / Só pedras sem água e a estrada arenosa / Serpeante no alto por entre as montanhas / Que são montanhas de pedras e sem água / Se houvesse água íamos parar e beber / Não se pode entre as pedras parar ou pensar / O suor seco e os pés na areia / Se ao menos houvesse água entre as pedras / Boca cariada de montanha morta incapaz de cuspir / Ninguém se pode aqui erguer nem sentar nem deitar / Nem sequer há silêncio nas montanhas / Só o trovão seco e estéril e sem chuva / Nem sequer há solidão nas montanhas / Mas rostos vermelhos e ruins zombam e rosnam / Às portas de casas de lama ressequida / Se houvesse água / E nenhumas pedras / Se houvesse pedras / E água também / E água / Uma nascente / Uma poça entre as pedras / Se ao menos houvesse o som da água / Não o canto da cigarra / E da erva seca / Mas o som da água numa pedra / Onde o tordo-eremita canta nos pinheiros / Drip drop drip drop drop drop drop / Mas não há água / Quem é o terceiro que sempre caminha a teu lado? / Quando conto, só estamos tu e eu / Mas quando olho pela estrada branca acima / Há sempre alguém a caminhar junto de ti / Envolto em manto castanho, e embuçado / Não sei se será homem ou mulher / – Mas quem é esse do outro lado de ti?”; poema editado na coletânea “Terra Devastada”, 1923-1939.
O “trovão” nos atormenta; em nossas existências, nem sempre alcançamos o que procuramos, ou melhor, dificilmente obtemos o que pretendemos; o trovão é sempre indomável e dele temos consciência de nossa fragilidade, por isso nos atemos à busca de quem será aquele desconhecido próximo a nós, ou talvez quem é “esse do outro lado de ti”, porque ele assim aparece, será “um embuçado”, um homem ou uma mulher? Nosso instinto de sobrevivência busca a fonte primeira da vida, a água, e ao mesmo tempo procuramos reconhecer as outras pessoas que estão a nosso lado.
O segundo, poema intitula-se “Rapsódia sobre uma noite de vento”, de 1920: “Meia-noite. / Uma síntese lunar captura / Todas as fases da rua, / Sussurrantes sortilégios lunares / Dissolvem os planos da memória / E todas as suas límpidas tramas, Divisões e precisos mecanismos. Cada lampião que ultrapasso / Pulsa como um tambor fatídico, / E através das lacunas do escuro / A meia-noite golpeia a memória / Como um louco brande um gerânio morto. / Uma e meia, / O lampião cuspia, / O lampião resmungava, / (,,,) / A memória expele e disseca / Um turbilhão de coisas tortas; / Como se o mundo erguesse à superfície / O segredo de seu esqueleto, / (…) / Duas e meia, / O lampião dizia: / “Observa o gato que na calha se adelgaça, / Espicha a sua língua e saboreia / Um naco rançoso de manteiga.” / (…) Eu nada podia ver atrás dos olhos do menino. / Tenho visto pela rua olhos que tentam / Emergir por entre iluminadas persianas, / Três e meia, / O lampião cuspia, O lampião no escuro resmungava, / O lampião zumbia: / “Olha a lua, / La lune ne garde aucune rancune. [A lua não guarda nenhum francor.] / (,,,) / A lua perdeu a memória. / (…) / Aflora a reminiscência / De secos gerânios pálidos / E de poeira nas frinchas, / Aroma de castanhas pela rua, / (…) / E de cigarros pelos corredores / E de coquetéis nos bares. / O lampião disse: / “Quatro horas, / (…) / Memória! / Tens a chave, / (…) / Põe teus sapatos junto à porta, dorme, para a vida te aguarda.”
Trata-se de um poema que se concentra sobre uma caminhada noturna do, autor, mesclando imagens confusas da memória com as cenas vistas em seu trajeto. Por fim, ele retorna ao que parece ser um hotel – daqueles em que se deixa, ou deixava, os sapatos à porta – e se deita, e o poema conclui com um final angustiante, pois no último verso, o personagem-autor nos dá uma ordem ou conselho, preparando-nos para a continuação da vida, quando se termina essa caminhada noturna e se apresentará, posteriormente, a realidade diurna.
Finalizamos com duas considerações do autor; ele nos diz: “O objetivo do poeta não é descobrir novas emoções, mas utilizar as corriqueiras e, trabalhando-as no elevado nível poético, exprimir sentimentos que não se encontram em absoluto nas emoções como tais”.
E: “This is the way the world ends / This is the way the world ends / This is the way the world ends / Not with a bang but a whimper. // É assim que acaba o mundo / É assim que acaba o mundo / É assim que acaba o mundo / Não com um estrondo, mas com um gemido.” Aproveitem a obra e a genialidade do poeta!