Igreja Paroquial de São Simão de Litém
Um ano jubilar não é sonho vazio. É compromisso real vivido na alegria vigilante de ação de graças, em gratidão multiplicada por dúzias de agostos abençoados. Celebram-se 81anos do “sai da tua terra” (Gen 12, 1-5); e convido-te para a missão; os 63 anos de ordenação a fazer memória de Quem consagra e envia, e 75 de ser consagrado para o “vai e faz o mesmo” (Lc.10,25-37). Celebrações todas em família e comunidade paroquial.
Este agosto, começou pela Jornada grandiosa dos jovens até aos 94. Quantos milhões viram JMJ pela TV? Os da IA (Inteligência Artificial) não se atrevem a calcular. Talvez, mais de mil milhões… E trouxe expetativas cristãs que aumentaram com a visita do Papa à Mongólia no dia 31 a visitar um país em paz e uma comunidade católica de cerca de 1500 fiéis. E a tomada de posse da pessoa de referência da Igreja em Portugal, Cardeal-patriarca de Lisboa, Rui Valério no di 2 de setembro.
Ninguém se jubila só de hospitalidade recebida, mas da que oferece. Sair para férias carregado da JMJ (jornada Mundial da Juventide) com Jesus dá para agradecer e louvar. Recordar o mar de milhão e meio a celebrar encontros de louvor só pode ser entrada jubilosa de férias festivas para dar graças nos locais pela ribeira do Arunca onde se recebeu o dom da vida, a maravilha da filiação divina, junto à fonte e no locus onde pai e mãe, família, comunidade, iniciaram o menino a falar com o Pai que está “antes e acima de tudo” (S. João de Deus).
Recordam-se os já convidados a subir ao Pai e ouvem-se os de hoje a dizer “Pai nosso”. Por ali na paróquia entra-se e participa-se na festa de dons leiloados e cantares de coração a confirmar o júbilo de dizer quem é Ele, como Pedro disse em Cesareia de Filipe, (cf.Mt. 16,15), em nova edição das bodas de diamante, do aniversário de ordenação e do nonagésimo quarto ano de vida e batismo. Não se fica só a ver. Participou-se em Eucaristias em igrejas paroquiais e capelas cheias a festejar Jesus e a Mãe, Maria Virgem de Fátima, com procissões de andores carregados de bolos e notas, em adros engalanados, com grupos corais, filarmónicas, cantares, folclore e conjuntos musicais, alternados com ágapes e refrescos a temperar os 30º e tal graus.
Muita participação, solidariedade, momentos de encontro familiar, conversa de amigos a matar saudades. Todo o adro, rifas, tascas de pasto e cozinhas a funcionar, assinaturas de O Simonense pagas, tudo com voluntariado! Difícil de ver nas festas turístico-culturais formatadas das câmaras municipais com gastos dos impostos dos cidadãos. Aqui o voluntariado domina, os afetos marcam presença, a generosidade anima, ao desafio, comissões e mordomos, escuteiros, catequistas e cantores de grupos corais. Alguns sãos os mesmos porque fazem questão de participar em quase tudo. Aos paroquianos permanentes juntam-se os pertencentes à terra, vindos da diáspora para renovar a pertença e deixar os seus dons.
Preparam-se e participam com gozo e satisfação porque se sentem de dentro. As férias e as festas misturam familiares em convívios, ora mais alargados ora mais pequenos. Os leilões de ofertas das hortas, pomares e currais familiares funcionam como motores de arranque para as festas religiosas juntando centenas de euros de que fica sempre algum saldo para a Igreja. Nem os melindres do que é ou não país laico, de cultura religiosa católica, como é o país há 900 anos, vêm fraturar a vivência alegre. Os poucos que se isolam e retraem, sem aparecer por se sentirem autoexcluídos, não perturbam a festa. E ficam as idas à praia, passeios pelas montanhas, refeições em família ou em restaurantes para os que não se querem misturar.
São agradáveis os tempos de lazer, piqueniques e cavaqueiras de dormideira à sombra. Dá gosto ser convidado a uma imersão nas águas ou nas areias das praias da região, a uma visita informal a locais turísticos de Soure, Vila Nova de Anços, Montemor-o-Velho, Quiaios (cinco vogais!), freguesia ou praia, e Serra da Boa-Viagem com vistas além-Buçaco, Buarcos, Figueira, etc. Observa-se uma ou outra novidade da terra, alojamento local a dar sinal, algum restaurante cheio, e outros sinais de um ano para o outro.
Na igreja de S. Simão de Litém observaram-se, este ano, cerca do dobro de presentes na missa da festa, às 15 horas, com calor de 33º, em relação a anos anteriores, assembleias com poucas crianças e jovens, missas dominicais nalguma igreja sem grupo coral, ao invés de outras com coros notáveis. Ouvem-se comentários às deficiências do som nas igrejas, ou será à falta de treino para ler e falar para grandes assembleias? Problema frequente em várias paragens e dioceses. Alguns até punham a hipótese, a verificar com uma sondagem da percentagem de paroquianos que não vão porque não entendem o que se diz, ou não ouvem bem, entre eles os que se deslocam dos lares paroquiais.
O jubilado sentiu-se bem acolhido e abençoado nestas férias festivas de ação de graças; acolhido, também ao desafio, nas assembleias e por sobrinhos residentes, e os que vieram das periferias e terras da Europa. Houve cavaqueira, leituras e notícias, animadas por pequenas discussões e divergências de opinião.
Ficou a reflexão: será que as férias festivas das paróquias em que vigora a mistura cultural do religioso, sem extremismos laicos (laicistas), concorrem para melhor sadio bem-estar das pessoas em solidão que as polémicas fraturantes das viciadas ideologias políticas? Será que mais participação terá sido devido ao fenómeno grandioso identitário da lusitanidade harmoniosa e reconciliadora da JMJ e não apenas à presença dos emigrantes, como se reza para que seja a visita do Papa à Mongólia e a missão de esperança do novo Patriarca? Deixo a questão para os leitores.
Funchal, 31 de agosto de 2023