Em férias, numa festa de patrono duas meninas de 8-9 anos vieram ao meu encontro com objetos religiosos a pedir para os benzer. A bênção do Senhor é significativa. Um dos objetos era a medalha de S. Bento, para oferecer à tia. Perguntei se sabiam quem era. Não. Sugeri que a do telemóvel procurasse pondo o nome dele. Lá foram contentes. E eu fiquei a desejar saber o que dizia o motor de busca Bing no “faça uma pergunta”. A resposta até me surpreendeu. E pôs-me a pensar em patronos e em arraiais de festas cristãs. Não é frequente ver ao lado das tasquinhas de comes e bebes, a mesinha de lembranças e objetos religiosos relacionados com os patronos.
Os patronos continuam a ser populares e inspiradores de fé cristã. São invocados como protetores dos que os festejam e invocam a sua proteção com pagelas, medalhas, terços, cruzes e outros objetos religiosos. Estimulam à oração de confiança, pedidos e promessas de esmolas e melhor devoção e vida cristã. Aquelas meninas levaram-me a verificar a resposta sobre S. Bento. Não esperava encontrar apresentação tão completa da medalha do santo. Afinal, é um dos primeiros patronos da Europa por decisão de Paulo VI; e logo lembraram os outros dois, Cirilo e Metódio e as três santas: Catarina de Sena, Brígida da Suécia e Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein).
As letras da medalha e a sua tradução oferecem um micro tratado de teologia: proteção do santo na hora da morte; a prece de que a cruz seja luz; que nenhum demónio seja guia do devoto, e repete a palavra de Cristo a S. Pedro: vade retro Satanás; e acrescenta: “não aconselhes, Satanás, coisas vãs. Bebe, tu, os teus venenos”. É uma medalha exorcista contra o demónio, que faz lembrar a oração de Leão XIII, em 1884, principalmente porque põe a confiança e fé no poder de Cristo contra o Diabo. Em tempo de tanta confusão hodierna importa procurar caminhos acertados que ajudem a enfrentar os medos epidémicos. Os patronos apontam um sentido claro da vida humana: seguir a Cristo.
Quantos serão os países que têm santos patronos? Talvez, todos; e Nossa Senhora bate o recorde de padroados. Seria bom que não apenas os países mas também os blocos ou grupos de países, como a União Europeia, comecem a ter patronos. Não seria vantajoso, para o bem comum dos povos, que o G7, o G20, os Brics, os Aukus, etc. adotassem e se inspirassem em figuras modelares, religiosas ou humanitárias, Gandhi, Luther King, Mandela, Madre Teresa e outros?
Ao lado dos patronos vem os símbolos nacionais. Não sei se já ocorreu aos leitores o número dos países com símbolos religiosos e cristãos. Serão cerca de 64 dos 196; e metade deles, uns 31, com símbolos cristãos, geralmente, a cruz cristã. Voltando ainda às medalhas, a mais divulgada é “a milagrosa”, que data de um pedido feito em Paris por Nossa Senhora das Graças, em 1830, da qual serão usadas muitos milhões em todo o mundo. Nela figura a cruz e as doze estrelas da Mulher do Apocalipse que atualmente figuram na bandeira da União Europeia.
O uso com fé e oração dos símbolos religiosos, da cruz e de medalhas, são um dos meios de fazer face a tantos medos que apesar do progresso científico, e às vezes devido à sua ambiguidade, acometem as pessoas. Um dos fatores de génese ideológica e de outros fatores sociais (e talvez químicos) está a levar muitos, crianças, jovens, às chamadas disforias do género (confusão sexual) e a envolver os pais, educadores e profissionais. As férias oferecem oportunidades de encontros inesperados em lugares, também inesperados, em que se respira confusão de ideias, medos diversos e inseguranças, em que não faltam medos do demónio que são de todos os tempos.
O bom é que muitos procuram segurança na fé religiosa e cristã. E o menos bom é que outros recorrem a amuletos e objetos, não de crenças sérias, mas de crendices que aumentam os medos. Numa conversa casual de ajuda psicológica há uns tempos deparei-me com um casal; mais ela ou, mais, ele, não sei, estavam a viver medos do demónio com um fundo de culpabilidade por insucessos inesperados; e à procura de ajuda e de uma saída pela fé em Cristo para os seus receios.
Algumas palavras da medalha de S. Bento terão sido usadas desde o século XV como exorcismo de defesa e expulsão do demónio. Vade retro, Satanás pode significar, no original grego, “afasta-te, Satanás”, mas também significa: “vai atrás de mim” (segue-me); não queiras ir a guiar-me e que eu te siga, és mau conselheiro. Jesus diz logo a seguir: «quem quiser seguir-me, negue-se a si mesmo e tome a sua cruz (Mt. 16, 23-24). Os patronos são guias porque seguiram a Jesus e sua Mãe. Têm razão alguns grupos de Escuteiros para usarem no cerimonial da Partida a fórmula: «parte agora, atrás de Cristo.
Que muitos santos e santas te acompanhem, hoje, amanhã e até na eternidade! Que Nossa Senhora venha em tua ajuda e que a bênção de Deus Pai, Filho e Espírito Santo venha sobre ti para sempre». Vai começar a catequese em milhões de paróquias; vai continuar a caminhada sinodal; e em nome de Cristo a luz do Alto afastará as confusões, os medos e as trevas do demónio. Que a Cruz Sagrada, celebrada na festa da Exaltação da Santa Cruz, no dia 14, seja luz para todos, como diz a medalha de S. Bento.
Funchal, Exaltação da Santa Cruz