Há alturas na vida em que parece que as forças chegaram ao limite da nossa resistência. Foi esse o meu sentimento quando me desloquei à Vila de Mafra com a intenção de acompanhar a Coroação de Nossa Senhora da Soledade. Toda uma série de acontecimentos menos positivos, culminando no enterro de um irmão na antevéspera desta cerimónia. Senti que não possuía energia para participar. Graças a Deus, uns sobrinhos, apercebendo-se do meu estado, vieram buscar-me para não faltar. Tinha acompanhado todo o evoluir desta coroação pontifícia com muito interesse e afeto por esta nobre causa.
Quase sem forças dirigi-me para a Real Basílica de Santo António e de Nossa Senhora da Vila de Mafra. Ao entrar na basílica, olhei para o altar-mor, que ostentava agora um trono com a majestosa e venerada imagem de Nossa Senhora da Soledade, adornado por inúmeras velas e relicários. Era de uma beleza ímpar! Aproximei-me tendo já esquecido o meu cansaço e tristeza, substituído agora por uma enorme paz e alegria.
O rosto de Nossa Senhora brilhava de um modo intenso, parecendo acolher-me, dar as boas vindas enquanto Mãe, consolando-me carinhosamente. Tu, adorada Mãe, que nos resgatas das nossas noites mais escuras e sombrias através de inúmeras estrelas cintilantes que nos iluminam, que quebram a solidão e nos conduzem a Jesus, através da nossa pouca Fé e da nossa busca da felicidade eterna. Recordei um excerto do Magnificat. “A minha alma glorifica o Senhor, E o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. Porque pôs os olhos na humildade da sua Serva: De hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas: Santo é o seu nome”.
Ao lado do altar encontrava-se exposta a lindíssima Coroa que iria ser imposta no dia seguinte, fruto da boa vontade de tantos fiéis e beneméritos, bem como o belíssimo vestido e ainda algumas outras ofertas a Nossa Senhora da Soledade. Sentei-me feliz por participar no Ofício das Vésperas. O Hino a Nossa Senhora que constava no livro que me foi entregue referia: ”Virgem Mãe do mesmo Deus, Virgem filha de teu Filho, não há estrela de mais brilho; Nesses Céus. De olhar fito nesse olhar, de olhos fitos nesses olhos, Não há baixios, não há escolhos neste mar. Vem a onda, sobrevém nova onda e nada teme; quem te vê guiando o leme, Virgem Mãe. (…); Foste em vida nosso exemplo, Mãe do Amor. Esse olhar é quem a mim me encaminha e me socorre: O meu norte é só a Torre de Marfim. Meu farol, refúgio meu, Sol que dia e noite brilha, Mãe de Deus e de Deus Filha, Mãe do Céu”.
Na verdade, foi uma das cerimónias mais bonitas e elevadas a que assisti. Os cânticos, tão bem escolhidos, entre eles, o “Deo Gratias” de João Vaz (em estreia), a primeira execução moderna do “Magnificat” de Marcos Portugal, com os seis órgãos desta basílica, a tocarem em simultâneo, ajudavam-nos a rezar duas vezes, com um sentimento de grande felicidade, pelas enormes graças que Portugal, o patriarcado de Lisboa, e Mafra têm recebido por intercessão da Virgem Maria. Foi feita uma leitura breve (Gal 4, 4-5) que transcrevo: “Ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher e sujeito à Lei, para resgatar os que estavam sob o jugo da Lei e nos tornar seus filhos adotivos”. Sua Eminência o cardeal Tolentino de Mendonça, enviado especial do Santo Padre, para a coroação de Nossa Senhora, presidiu à oração das vésperas tendo proferido as seguintes Preces: Deus Pai todo-poderoso quis que Maria, Mãe de seu Filho, fosse honrada por todas as gerações. Proclamemos a sua grandeza e peçamos humildemente: Deus, autor de tantas maravilhas, que elevaste ao Céu a Imaculada Virgem Maria, para a tornar participante, em corpo e alma, da glória de Cristo, – orientai para a mesma glória o coração dos vossos filhos. Vós que nos destes Maria por Mãe, concedei, pela sua intercessão, remédio aos enfermos, consolação aos tristes, perdão aos pecadores, – e a todos dai saúde e paz. Vós que fizestes de Maria a cheia de graça, – concedei a abundância da vossa graça a todos os homens. Fazei, Senhor, que a vossa Igreja seja, na caridade, um só coração e uma só alma. – e que todos os fiéis perseverem unânimes na oração com Maria, Mãe de Jesus. Vós que coroastes Maria como Rainha do Céu, – fazei que os defuntos alcancem com todos os Santos a alegria do vosso reino.
O meu coração rejubilou de alegria feliz por ter participado nesta cerimónia em que “Senti o Céu na Terra”. Como fiquei reconhecida à Real e Venerável Irmandade do Santíssimo Sacramento de Mafra por ter promovido a coroação da Venerada Imagem da Santíssima Virgem Maria no Mistério da Sua Soledade. Uma cerimónia única e irrepetível, uma bênção enorme, proporcionada por Deus à Real Basílica de Santo António e de Nossa Senhora de Mafra. Aqui deixo o meu louvor e agradecimento a todos os que de algum modo deram todo o seu apoio e contributo para a sua concretização. Ave, Maria, cheia de graça, intercedei por todos nós!