Skip to content

A paz e o sofrimento

  • Setembro 25, 2023
  • Religião
  • José Maria C. da Silva André

 

Surpreendemo-nos cada vez que os Evangelhos nos recordam que Cristo declarou «bem-aventurados os que sofrem…», «bem-aventurados os que choram…». Por que razão o próprio Jesus chorou? Por que é que a pregação cristã nos exorta a pedir a Deus o dom de lágrimas?

Numa das páginas mais poéticas do Antigo Testamento, Deus promete que nos tirará o coração de pedra e nos dará um coração de carne. Porque, de facto, a impermeabilidade à desgraça alheia tira a vida ao coração humano. Uma pessoa incapaz de sofrer é como um cadáver empedernido.

Dá pena —ou riso— a caricatura do Lord britânico, que reprime as suas emoções a ponto de olhar o seu palácio reduzido a cinzas comentando sem levantar a voz: «estou convencido de que o meu palácio ficou completamente destruído». Sufocar os sentimentos é tão horrível como calçar aqueles sapatos, tradicionais nalgumas culturas, que deformavam os ossos dos pés para os tornar mais bonitos.

Emocionar-se é uma riqueza que temos de dominar e cultivar. O exagero fleumático é a reacção desproporcionada ao descontrolo irracional das emoções. A aparência de invulnerabilidade é a máscara do orgulho e a cegueira espiritual de quem vive na irrealidade. Os próprios pecados? Não vi. Os necessitados à minha beira? Quero-os longe. A alegria? Incomoda-me o barulho, guardo-as para mim.

Deus nos livre das máscaras impassíveis! E nos dê um coração vibrante, expansivo!

O Papa fala quase todos os dias da sua querida Ucrânia, flagelada pela cruel invasão dos russos. Esqueço-me da desgraça dos ucranianos?

O Papa lembra as multidões pobres da África que fogem da guerra e da miséria. Vejo-os como perturbação da minha segurança e do meu conforto?

Há guerras e convulsões em muitas partes do mundo, povo inteiros subjugados por ditaduras comunistas. Ignoro, como se fosse outro planeta?

Há famílias desunidas, crianças abandonadas, idosos sozinhos. Não tenho que ver com isso? Muitas crianças morrem abortadas e a sociedade mobiliza-se para eutanisear os idosos. Ignoro?

O medo de sofrer, de interagir com os outros, paralisa a mensagem evangélica. Jesus falava em «ir por todo o mundo e pregar o Evangelho». A primeira Exortação Apostólica do Papa Francisco chamou-se «Evangelii gaudium» (a alegria do Evangelho), porque o anúncio da felicidade deveria correr de pessoa em pessoa. Onde está o meu sentido de responsabilidade em relação a Deus e à Igreja e em relação aos outros? Partilho com entusiasmo a alegria da fé?

A pressa de transmitir a fé, sinal de amizade, de vida feliz, que sabe comunicar-se, tem sido o tema tratado pelo Papa nas últimas audiências.

Em contrapartida, quando o reumatismo espiritual, que fecha as pessoas no seu conforto, contagia morte. As armas de destruir povos inteiros, como quem mata baratas, são o paradigma desta atitude. Alguns confiam nelas para obter a paz, justificando-se com eufemismos: a dissuasão nuclear, o equilíbrio das forças, etc. Especialmente os últimos Papas, de João XXIII, a Paulo VI, a João Paulo II, a Bento XVI, a Francisco, condenaram essa loucura. O Concílio Vaticano II reforçou a posição.

Esta semana, o Papa Francisco escreveu uma Carta a comemorar os 60 anos de uma Encíclica de João XXIII sobre a paz, em que repete a mensagem de sempre:

«O uso da energia atómica para fins bélicos é imoral, como é imoral possuir armas nucleares».

Quando a humanidade recusa sofrer, degrada-se. Os povos que buscam falsas seguranças, entregam a esperança da paz às armas da morte. Pelo contrário, quem vibra com empatia e sentido de missão, leva a alegria do Evangelho a todo o mundo.

Categorias

  • Conexão | Brasil x Portugal
  • Cultura
  • História
  • Política
  • Religião
  • Social

Colunistas

A.Manuel dos Santos

Abigail Vilanova

Adilson Constâncio

Adriano Fiaschi

Agostinho dos Santos

Alexandra Sousa Duarte

Alexandre Esteves

Ana Esteves

Ana Maria Figueiredo

Ana Tápia

Artur Pereira dos Santos

Augusto Licks

Cecília Rezende

Cláudia Neves

Conceição Amaral de Castro Ramos

Conceição Castro Ramos

Conceição Gigante

Cristina Berrucho

Cristina Viana

Editoria

Editoria GPC

Emanuel do Carmo Oliveira

Enrique Villanueva

Ernesto Lauer

Fátima Fonseca

Flora Costa

Helena Atalaia

Isabel Alexandre

Isabel Carmo Pedro

Isabel Maria Vasco Costa

João Baptista Teixeira

João Marcelino

José Maria C. da Silva...

José Rogério Licks

Julie Machado

Luís Lynce de Faria

Luísa Loureiro

Manuel Matias

Manuela Figueiredo Martins

Maria Amália Abreu Rocha

Maria Caetano Conceição

Maria de Oliveira Esteves

Maria Guimarães

Maria Helena Guerra Pratas

Maria Helena Paes

Maria Romano

Maria Susana Mexia

Maria Teresa Conceição

Mariano Romeiro

Michele Bonheur

Miguel Ataíde

Notícias

Olavo de Carvalho

Padre Aires Gameiro

Padre Paulo Ricardo

Pedro Vaz Patto

Rita Gonçalves

Rosa Ventura

Rosário Martins

Rosarita dos Santos

Sérgio Alves de Oliveira

Sergio Manzione

Sofia Guedes e Graça Varão

Suzana Maria de Jesus

Vânia Figueiredo

Vera Luza

Verónica Teodósio

Virgínia Magriço

Grupo Progresso de Comunicação | Todos os direitos reservados

Desenvolvido por I9