O Papa Francisco publicou a carta apostólica “Sublimitas et miseria hominis” (Grandeza e miséria do homem), para assinalar o quarto centenário de nascimento do físico, inventor matemático, escritor, filósofo e teólogo francês Blaise Pascal, (1623-1662).
Numa época de grandes progressos científicos pairava também um crescente espírito de cepticismo filosófico e religioso. Porém, Pascal foi um incansável investigador da verdade.
Os seus pensamentos são contrastes numa vertente puramente dialéctica. Tudo e nada, razão e imaginação, miséria e grandeza do homem, infinitamente grande e infinitamente pequeno, ciência e crença, coração e inteligência, espírito de finura e espírito de geometria, são algumas das aparentes oposições do seu fértil e amplo modo de pensar.
Reconhecendo a importância do racionalismo no domínio da ciência, Pascal recusa aplicá-lo no campo da moral e da religião, considerando a razão incapaz de atingir e conhecer estas entidades humanas, encontra uma outra via de acesso à realidade humana: o coração. “O coração tem as suas razões que a razão desconhece. Sabemo-lo em mil coisas. Digo que o coração ama o ser universal naturalmente e a si mesmo naturalmente, consoante aquele a que se entrega. (277)*
O reconhecimento da própria miséria humana é o início da busca que o conduz à fé no Deus de Abraão, Deus de Isaac, e Deus de Jacob, o Deus dos Cristãos, não dos filósofos nem dos eruditos. É um Deus que enche a alma e o coração daqueles a quem possui. É um Deus que lhes faz sentir no íntimo a sua miséria e a sua misericórdia infinita, que se une no fundo da sua alma; que a enche de humildade, de alegria, de confiança, de amor; que os torna incapazes de outro fim que não seja ele mesmo. “É o coração que sente Deus, e não a razão. Eis o que é a fé: Deus sensível ao coração, não à razão”. (278)*
Pascal sabe que o conteúdo da Revelação não só não se opõe às exigências da razão, mas traz a resposta inaudita a que nenhuma filosofia teria podido chegar por si mesma.
“A verdadeira natureza do homem, o seu verdadeiro bem, e a verdadeira virtude, e a verdadeira religião, são coisas cujo conhecimento é inseparável”. (442)*
“Não somente não conhecemos Deus senão por Jesus Cristo, mas também não nos conhecemos a nós mesmos a não ser por Jesus Cristo. Não conhecemos a vida, a morte, senão por Jesus Cristo. Fora de Jesus Cristo não sabemos o que é a nossa vida, nem o que é a nossa morte, nem quem é Deus, nem quem somos nós mesmos.” (548)*
Grandeza e miséria do homem é o paradoxo que esteve sempre presente na reflexão de Blaise Pascal, um pensador cuja actualidade ainda hoje nos surpreende.
*PENSAMENTOS de Blaise Pascal, Europa – América, 1978