Abrindo um antigo caderno
foi que eu descobri:
Antigamente eu era eterno – (Paulo Leminski).
Pelos caminhos e veredas da vida avancei sem parar; cheguei a provecta idade aos 77 anos de existência. Por vezes o esquecimento das pequenas coisas do dia-a-dia acontece; porém de lucidez perfeita … De repente lembro de ter esquecido e reparo a omissão. O discernimento é a força do continuar, sem lembrar da finitude do ser humano. Agora imaginem lá pelos tempos de antigamente: a vida como continuidade sem fim, pois era eterno!
Adriana, minha fisioterapeuta, afirmou ter visto foto, muito antiga, de uma tropa de gado pelas ruas da cidade. Questionou para onde levavam os animais. 1ª CURIOSIDADE – Notícia do Jornal O Progresso de 2 de fevereiro de 1922: TREM CONTRA UMA TROPA. Em 28 de janeiro daquele ano, por volta das 16h30min, quando o trem de passageiros vindo de Santa Maria chegava em nossa cidade, à rua Apolinário de Moraes, colidiu com reses de uma tropa que por ali transitava.
Dos animais, duas reses morreram imediatamente; uma terceira, muito machucada, teve que ser sacrificada. Os condutores da tropa, com aproximadamente 300 reses, não observaram a aproximação do trem; em sua aproximação (quem sabe apito) os animais se assustaram e dispararam pelas ruas próximas, adentrando em quintais, derrubando cercas e árvores. Foi uma grande correria para juntar os bichos novamente.
Os animais estavam sendo conduzidos à beira-rio, onde se localizava o Frigorífico Renner, ainda mantida a denominação de Fábrica de Banha. Trago à consideração pequeno trecho, escrito no Descobrindo Montenegro, do Movimento Histórico: “O abate de bois e porcos (gado bovino e suíno) era feito nos fundos do prédio e a carne, era levada ao topo do prédio através de uma grande rampa. De lá a matéria prima (cortes de carne, miúdos) descia, andar por andar, passando por diversos setores de produção, até chegar ao térreo como produtos acabados: banha, presunto, salsicha, linguiça, salame etc”.
2ª CURIOSIDADE – Em 08 de julho de 1923, aconteceu o Combate do Cafundó – mais especificamente do Vapor Velho, 1º Distrito de Montenegro. Ao tempo o episódio envolveu cunho político-partidário, ficando a verdade envolta nas palavras e escritos dos correligionários do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR), como incontestável.
Esse é o ponto de partida para validar os fatos a seguir: No dia 17 de maio de 1924 aconteceu a convenção municipal para a escolha dos candidatos aos cargos de Intendente, Vice e Conselheiros Municipais. Pessoas foram indicadas, por escolha, mas não confirmadas. Os nomes teriam que passar pela apreciação e aprovação do Exmo. Chefe Maior Antônio Augusto Borges de Medeiros, Presidente do Estado. As notas históricas não informam se nomes foram trocados ou se o Homem aprovou as indicações que lhe foram oferecidas.
No Rio Grande do Sul a Constituição de 14 de Julho de 1891, praticamente outorgada por Júlio Prates de Castilhos, assegurou o monopólio do Presidente da Estado sobre os municípios subordinados. Nada era feito sem o aval de Borges de Medeiros (o monopólio do poder e a reeleição por 5 mandatos consecutivos determinaram a Revolução de 1923).
A data de 14 de Julho era considerada de suma importância. Prédios públicos foram assim nominados, como a Escola, hoje Delfina Dias Ferraz. Nos dias 14 de julho futuros, homenagens especiais aconteciam.
Em nosso município, pela tradição oral que nos chega e por alguns escritos de pessoas mui corajosas, até os comícios dos federalistas (libertadores) eram encerrados pela força. Foram eleitos: Dr. Maximiliano Schmitz e Major Pedro Keller, respectivamente Intendente e Vice. A oposição elegeu um conselheiro municipal. Pela oposição concorreram, aos respectivos cargos, Arthur Renner e Moraes Vieira.
Importante dizer, ao conhecimento dos leitores, a festa que se realizou para a posse dos eleitos. Formaram uma significativa comissão, sob a coordenação das seguintes pessoas: Cel. Amandio Lampert, Chefe do PRR local, Padre Felipe Marx e o Delegado de Polícia Luiz Carlos Reis Flores. A guarda municipal estava sob a responsabilidade do Subintendente – daí era fácil acabar com comício dos adversários políticos.