Jorge de Lima é um autor brasileiro nascido em Alagoas, em 1893, e falecido no ano de 1953, no Rio de Janeiro; ele age de maneira multiface, pois é poeta, romancista, pintor, político, médico, biógrafo, ensaísta e tradutor. Passou sua infância entre as cidades de União dos Palmares e Maceió, onde seu pai era comerciante, e com quatorze anos escreveu seu primeiro poema, “O acendedor de lampiões”.
Em 1908, transfere-se para Salvador, onde inicia seus estudos de Medicina; na Bahia, ele cursa a faculdade durante cinco anos, e a seguir, muda-se para o Rio de Janeiro, onde conclui o curso. Sua tese de doutoramento foi “O destino do lixo no Rio e Janeiro”, pela qual recebeu a orientação do médico e poeta Afrânio Peixoto, e que foi editada em 1914. No mesmo ano, publica seu primeiro livro de poemas em versos alexandrinos – que contém doze sílabas – sendo sua obra de destaque o já conhecido “O acendedor de lampiões”.
Em 1917 casa-se, e a seguir, tem dois filhos; retorna a Alagoas, onde foi professor e diretor da Escola Normal e do Liceu Alagoano. Em 1919, ganha a eleição para deputado estadual de Alagoas e assume a Presidência da Câmara durante dois anos. Já a partir de 1930, muda- se definitivamente ao Rio de Janeiro, onde estabelece seu consultório médico. Com o passar do tempo, esse consultório se transformará em ateliê de pintura e ponto de encontro de intelectuais.
Sob a influência de Murilo Mendes – católico expoente do surrealismo na literatura brasileira – Jorge de Lima se aproxima do catolicismo, e a partir de 1935, nosso autor pratica uma abordagem da poesia como expressão do divino, em um sentido sobretudo individual e artístico. Também em 1935, nosso autor volta à vida política, elegendo-se como vereador, e chegou a presidir a Câmera de Vereadores da Capital Federal, em 1948. Retomando algum tempo, em 1939, Jorge de Lima passou a se dedicar também às artes plásticas, participando de várias exposições, tendo publicado o álbum de fotomontagem “A pintura em pânico”.
Em 1952, publicou seu livro mais importante, o épico “Invenção de Orfeu”; este é marcado pela diversidade de ideias, referências e extensão; ele procura um novo tipo de poesia em uma ilha utópica, onde propõe a superação do individualismo e hostilidade, abrindo espaço a uma nova ordem, esta mais solidária e sensível. Neste seu último livro, o exercício poético se volta para o oceano íntimo, em busca da ilha essencial e inacessível aos poderes que governam o seu tempo e o seu mundo. Pelo fato de ser considerado um grande nome do modernismo brasileiro, sua obra percorre vários movimentos e características.
Foi escolhido pelos especialistas suecos para receber o Prêmio Nobel de Literatura de 1958, mas faleceu em 1953; finalmente, ainda em 1953, meses antes de morrer, gravou poemas para o Arquivo da Palavra Falada da Biblioteca do Congresso de Washington, nos Estados Unidos. Em comparação aos demais poetas brasileiros, e ao longo de sua produção, Jorge de Lima se destaca pela mutabilidade e complexidade de sua escrita; o autor aderiu ao parnasianismo, modernismo e às características regionalistas, católicas, afro-brasileiras, surrealistas, barrocas e simbolistas.
Quando questionado sobre a mudança de forma e estética constante, ele respondeu: “Fome do eterno, do essencial, do universal. Não venho para a presente fase de minha poesia por ter falhado como poeta ‘modernista’, apenas brasileiro. Vi meus poemas se popularizarem. E hoje eles já não me satisfazem mais. Tenho verdadeiramente fome do universal”. Destacamos alguns poemas dentre os mais reconhecidos: na coletânea, “Alexandrinos”, de 1914, inclui poemas como “O acendedor de Lampiões” e outros; “Poemas escolhidos”, 1932; “Tempo e Eternidade”, de 1935, junto com Murilo Mendes; “A Túnica Inconsútil, de 1938 (‘inconsútil’ significa ‘inflexível’); “Invenção de Orfeu”, edição em 1952.
O autor também escreveu cinco romances, dois ensaios, três livros de literatura infantil e religiosa. A quem se interessa e que deseja aprofundar o estudo da produção literária do nosso autor brasileiro, há disponíveis uma quantidade de livros, de ensaios, teses e reportagens. Dedicamos agora, exclusivamente, dois poemas de Jorge de Lima. O primeiro, “O acendedor de Lampiões”, data de 1914: “Lá vem o acendedor de lampiões na rua! / Este mesmo que vem infatigavelmente, / Parodiar o sol e associar-se à lua /
Quando a sombra da noite enegrece o poente! / Um, dois, três lampiões, acende e continua / Outros mais a acender imperturbavelmente, / À medida que a noite aos poucos se acentua / E a palidez da lua apenas se pressente. / Triste ironia atroz que o senso humano irrita: / Ele que doira a noite e ilumina a cidade, / Talvez não tenha luz na choupana em que habita. Tanta gente também nos outros insinua /
Crenças, religiões, amor, felicidade, / Como este acendedor de lampiões da rua!’. A divisão poética dos versos é realizada como o faz um poeta parnasiano, ou seja, cada frase – ou verso – tem doze sílabas (como já vimos anteriormente). O segundo: quanto ao poeta modernista, temos o poema intitulado “O mundo do menino impossível”; […] O menino impossível / que destruiu / os brinquedos perfeitos / que os vovós lhe deram: / […] brinca com sabugos de milho, / caixas vazias, / tacos de pau, / pedrinhas brancas do rio… / “Faz de conta que os sabugos são bois…” / “Faz de conta…” / “Faz de conta…” / E os sabugos de milho / mugem como bois de verdade… / e os tacos que deveriam ser / soldadinhos de chumbo são / cangaceiros de chapéus de couro… / E as pedrinhas balem! / […] O menino pousa a testa / e sonha dentro da noite quieta / da lâmpada apagada / com o mundo maravilhoso / que ele tirou do nada… / […]”. Lançado em 1927, este poema moderno rompe com a tradição parnasiana, “O Mundo do Menino Impossível” foi impresso em trezentas cópias, com ilustrações feitas pelo próprio autor.
O poema trabalha sobre o imaginário infantil que prefere, no lugar dos brinquedos refinados, a imaginação com os objetos de seu redor. Já o poeta Manuel Bandeira afirma que sobre essa poesia há não somente a criança que renega brinquedos refinados, mas também o próprio autor Jorge de Lima que recusa “os brinquedos perfeitos / que os vovôs lhe deram”, ou melhor, as formas tradicionais parnasianas: essas foram preferidas e trocadas pela poesia brasileira. Finalmente, este autor nos permite afirmar que a composição poética de nossa terra tem muito a ganhar com a inserção da forma brasileira de fazer poesia e de estimular a cultura!