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Ciranda da Vida – Revolução de 1923 – 2ª parte

  • Dezembro 3, 2023
  • Cultura
  • Ernesto Lauer

 

Há aqueles que lutam um dia; e por isso são bons;
Há aqueles que lutam muitos dias; e por isso são muito bons;
Há aqueles que lutam anos; e são melhores ainda;
Porém há aqueles que lutam toda a vida; esses são os imprescindíveis.

Bertolt Brecht

 

Andamos pela terra, desde o fim do Paraíso, sempre em luta, com os outros ou consigo próprio. Vamos evoluindo culturalmente, descobrindo novas teorias e práticas, muitas das quais conflitam com nossa própria maneira de ser e pensar. Então enfrentamos uma luta ideológica; se conosco, as contendas são de foro íntimo; se com os outros, difícil avaliar o resultado. Mas o importante é continuar lutando, enfrentando os conflitos e engrandecendo.

Durante a Revolução de 1923, os combatentes da hoste de Assis Brasil tomaram São Sebastião do Caí, alojando-se no prédio da Intendência Municipal. Depois de um tempo, a notícia chegou aos ouvidos do nosso Intendente Aurélio Porto, que tão logo adotou as providências para resguardar e proteger a população de nossa cidade e seus bens.

 

A notícia de uma reunião correu de boca em boca; a população prontamente atendeu ao chamado, concentrando-se defronte ao edifício da municipalidade.  O pessoal do Tiro de Guerra e da Guarda Municipal foram convocados e já se perfilavam no local. De pronto, Aurélio Porto surge na sacada, ao alto do prédio e explica o perigo iminente de um ataque das tropas maragatas.

Segue o noticiário publicado no Jornal O Progresso, de 01 de março de 1923:

“As nossas autoridades, com o intuito de prevenir uma possível sortida contra essa cidade, do bando que assaltara, a 18 do corrente, a Intendência do Cahy, tomaram enérgicas medidas, reforçando o policiamento das portas da cidade e guarnecendo o edifício municipal por uma força de praças e de civis, bem armados e municiados.”

Formaram-se comitês para cuidar da defesa; os funcionários da intendência foram convocados e devidamente armados. Aurélio Porto mandou comprar armas e as distribuiu entre os funcionários que ficariam guarnecendo o prédio público. Providenciaram em uma das salas o depósito de alimentos, o qual ficou conhecido como “Quarto da Comida”.

O pessoal começou a guarnecer o prédio, e o quarto da comida tornou-se o espaço especial e convidativo para as prosas e delírios vingativos aos combatentes inimigos. Como referido na coluna anterior, em Montenegro dominava a hoste de Borges de Medeiros e poucos os Assisistas abertamente declarados.

O Júlio Morais era técnico de primeira ordem em matéria de armas de guerra. Qualquer dúvida que surgia sobre armas, logo o Julinho era chamado. Enquanto o pessoal estava guarnecendo o edifício da Intendência, apareceu o Leovegildo, com um mosquetão Colt, novinho em folha. A arma andou de mão em mão, com elogios ao seu mecanismo e os cartuchos de balas luzidias.

Carregavam e descarregavam a arma, para constatar a perfeição do extrator, fazendo o cartucho saltar longe. Quando o Aurélio chegou no gabinete, todos correram para lá a mostrar a nova arma. Ali estavam o Flores, Amandio, Campos Netto e Ernesto Zietlow, entre outros. O Intendente apanhou a arma, acariciou a coronha e colocou um cartucho na câmara repetitiva; correu o ferrolho e quis fazer saltar o cartucho.

Qual nada, o cartucho emperrou; a arma andou de mão em mão, na vã tentativa de soltar o cartucho … Mas nada!  Imediatamente mandaram chamar o Júlio Morais. O especialista chegou, observou a arma e disse: “Isso é pinto”. Duas ou três tentativas e nada do cartucho saltar.

Pediu para o Aurélio Porto segurar a arma e foi trabalhar no mecanismo emperrado … “Isso é pinto”! De repente deu um tapa no ferrolho e a arma disparou; o tiro assustou todos os presentes; a bala foi alojar-se na parede por detrás da cadeira em que o Intendente sentava. Por muito pouco não ocorreu um desfecho fatídico. A marca permaneceu na parede por muitos anos. Naquele tempo o gabinete ficava ao lado direito de quem sobe a escada em caracol.

A tropa Assisista, comandada por Manoel Higino (morador de Triunfo), que assaltou a Intendência do Cahy, fugiu para a região serrana, deixando Montenegro em paz. Dos 12 revolveres Colt que a Intendência comprou, até hoje ninguém sabe seu paradeiro.

 

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