Nos tempos em que nos é dado viver, tornou-se quase uma modas as pessoas sentirem-se vítimas, transferindo a culpa de tudo o que lhes acontece para os outros, para a sociedade, para a mãe, para o pai, para o professor, etc.
O vitimista sente-se sempre alvo da fúria, de algo ou alguém, foge das suas responsabilidades, atribuindo a culpa de tudo o que lhe acontece a terceiros, recusa-se a aceitar os seus próprios defeitos, faltas ou fragilidades físicas, psíquicas, sociais ou morais.
Sendo uma pessoa extremamente egocêntrica, vive dos e para os seus infortúnios e injustiças de que se sente acometido, procurando assim chamar a atenção em busca dum falso refúgio psicológico, que à partida lhe parece ser mais confortável, mas se revela numa fraqueza e incapacidade de construir a sua própria personalidade, fortalecendo-a.
O constante padecimento e o prazer que ele nisso adquire, impedem o vitimista de desenvolver uma personalidade forte e madura, permanecendo estagnado e incapaz de reagir. Esta atitude não defensiva e introvertida é um sinal de fraqueza, pois empobrece os sentidos, a alma e a capacidade de discernir ou pensar.
Num apelo às emoções e aos sentimentos a vitimização é, por vezes, uma forma de atrair simpatia, enfatizando uma opressão e marginalização social, “a vítima é o herói do nosso tempo”. Sentir-se vitimizado tornou-se um sinal de prestígio, uma chamada de atenção, ou uma forma de intolerância ou impotência para enfrentar com segurança e autoestima os grandes desafios da vida.
Scott Lyons, psicólogo americano e autor do livro Addicted to drama, diz que no Ocidente estamos a viver a epidemia do drama, em parte, por causa das redes sociais e da consequente atenção que se lhes dá. “O mundo inteiro é um palco para representar o papel do vitimista e ser recompensado com likes.”
“As histórias que geram tristeza, raiva ou medo são as mais compartilhadas. E elas entram sorrateiramente nas nossas vidas, começamos a recriá-las, replicar esses cenários e imitar essa linguagem nas nossas postagens nas redes sociais, mesmo que não estejamos submersos nessas experiências pessoais e vitimizantes”, diz Lyons.
Sentir-se vítima acabou por se tornar um sinal de prestígio, porém, o exponencial aumento de “vítimas da cultura vitimista”, revela também uma enorme infantilidade e irresponsabilidade generalizada na sociedade, permite que os políticos e o Estado se intrometam na privacidade das pessoas, negando-lhes a sua capacidade de acção e autodeterminação para tomarem conta das suas próprias vidas, o que poderá conduzir a um totalitarismo indesejável e pernicioso disfarçado de complacência política.
O “vitimismo chique ou esteticamente agradável” passou a ter muito sucesso nos meios de comunicação social, pois atrai a atenção e a simpatia de que estas pessoas anseiam, tornando-se ainda mais perigoso porque imobiliza a sociedade e paralisa toda e qualquer tentativa de estimular e engrandecer a autoestima da vítima e dos seus semelhantes.