Alberto da Costa e Silva foi um diplomata, poeta, ensaísta, memorialista e historiador brasileiro. Ele nasceu em São Paulo, em 1931, e em 1943, aos doze anos de idade, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro; morreu recentemente, em 26 de novembro de 2023. O autor cursou o Externato São José e o Instituto Lafayette, na então capital do país. Formado pelo Instituto Rio Branco em 1957, Alberto da Costa e Silva serviu como diplomata em Lisboa, Caracas, Washington, Madrid e Roma; foi embaixador em Lagos, Nigéria (1979-83) e cumulativamente em Cotonu, Benim (1981-83), em Lisboa, Portugal (1986-90), em Bogotá, Colômbia (1990-93) e em Assunção, Paraguai (1993-95).
No ano 2000, foi eleito para a cadeira número nove da Academia Brasileira de Letras, e foi presidente de entidade nos anos de 2002 a 2003. Em 2004 foi escolhido pela União Brasileira de Escritores (UBE) e Folha de São Paulo como o “Intelectual do Ano”, pelo qual recebeu o Prêmio Juca Pato. Nosso autor foi também acadêmico correspondente da Academia de Ciências de Lisboa, além de ser orador do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Em 2014, foi distinguido com o Prêmio Camões, “por enriquecer o patrimônio literário e cultural lusófono”; este é o maior galardão outorgado no âmbito da literatura em língua portuguesa, e o valor monetário do prémio é, presentemente, de 100 000€, um dos mais elevados a nível mundial entre os prémios literários.
No transcorrer de sua escrita erudita e social, Alberto recebeu oito condecorações: Cavaleiro da Ordem do Infante D. Henrique de Portugal, em 1961; Comendador da Ordem do Infante D. Henrique de Portugal, em 1971; Comendador da Ordem Militar de Cristo de Portugal, em 1971; Comendador da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada de Portugal, em 1972; Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique de Portugal, em 1973; Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo de Portugal, em 1986; Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique de Portugal, em 1991; e Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada de Portugal, em 2008. Entre as obras de Alberto Costa e Silva, destaca-se aproximadamente uma dezena de coletâneas poéticas, a saber, entre elas, “O parque e outros poemas”, Rio de Janeiro, 1953; “O tecelão”, Rio de Janeiro, 1962, “Alberto da Costa e Silva carda, fia, dobra e tece”, 1962, edição em Lisboa; “Livro de linhagem”, também em Lisboa, em 1966; “As linhas da mão”, Rio de Janeiro, 1978; “A roupa no estendal, o muro, os pombos”, Lisboa, 1981; “Consoada”, obra editada em Bogotá, em 1993; “Ao lado de Vera”, Rio de Janeiro, 1997 (Vera é o nome de sua esposa, graduada tradutora de linguagem nigeriana); “Poemas Reunidos”, Rio de Janeiro, ano 2000; e Seleção dos “Melhores poemas de Alberto da Costa e Silva”, São Paulo, 2007.
Alberto da Costa e Silva também produziu amplamente como historiador e africanólogo, como organizador de antologias (dentre as quais o autor expõe as lendas do índio brasileiro), como ensaísta, e ainda como memorialista. O que significa ser memorialista? Chama-se relato de memórias ao gênero de literatura em que o narrador conta fatos de sua vida; é tipicamente um gênero do modo narrativo, assim como a novela e o conto, porém essa classificação é predominantemente atribuída a histórias verídicas ou baseadas em fatos; também diferencia-se da biografia pois não se prende a contar a vida de alguém em particular, mas sim narrar as suas lembranças. E isto nosso literato faz como poucos, em nossa bibliografia brasileira contemporânea; seu “magnum opus” intitula-se “Livro de Linhagem”, editado em Lisboa, em 1966, como já vimos.
O “Livro de linhagem” é um conjunto de poemas escritos entre 1963 e 1965, dotados de muito lirismo e apegados umbilicalmente à infância. Um exemplo bem apropriado a nosso período natalino é a lembrança do Natal de 1966, com o seguinte verso: “Rente à terra, o meu céu, / qual rês ajoelhada, / menino a vigiar, de bruços, a arapuca / e as aves que alçam vôo das crinas dos cavalos, / mão que toca outra mão, / ou muro esfarinhado / que desce com o calangro e onde o sol / faz abrir a plumagem. / (Fui menino demais e sofri como os outros, / os que levam, descalços, seus burricos com água, / pouca esperança, farinha, rapadura e a tarde, / com tudo o que volta / – os bezerros, / os focinhos molhados dos bois / E os lacrimosos carneiros.)”
A partir do “Livro de Linhagem”, a obra poética de Costa e Silva é baseada em sua experiência pessoal de vida, em busca do tempo perdido, mais especificamente da infância perdida. Seguimos com mais um exemplo: “E fomos para onde a relva era ainda / de um verde acastanhado e havia babaçus e um regato / magro como os bois que levávamos, / onde / o florido algodão depois plantamos. // Ela vinha / e não usava bandós, nem tranças de sereia / dessas gravuras de mau talho, / que recebemos de longe, / de Lisboa talvez. / Também não tinha / a blusa de unicórnios e de heráldicas feras, / nem rosas e corações no vermelho do linho. / Trazia um pássaro inventado / no lábio inferior. // (…) andava como a nhambuzinha, / apressada e sensível / (…). /Por tudo isso, este é um livro, ainda que breve, indispensável na bagagem de / todo cultivador de poesia de boa qualidade.” [Nota: Nambu ou Inhambu é um pássaro que tem dificuldade de voar].
Sigamos o poeta: “um livro é indispensável na bagagem”, e só assim “todo cultivador de poesia de boa qualidade” nos permite avançar no entendimento das ideias, no raciocínio de nosso pensamento e sobretudo, na trajetória de nossos sentimentos.
Boas Festas a todas e a todos!