Tem-se multiplicado os encontros e palestras sobre sinodalidade, antes e depois de outubro, em Roma. Tantos deles deixaram a impressão de que há convencidos e hesitantes no caminho. Fica a questão se para se envolver e participar é preciso mesmo falar ou se basta participar mesmo em silêncio e atitude orante. Que nos pode dizer o silêncio do Menino e das crianças sobre as virtudes sinodais? Torna-se evidente que ouvir as crianças em silêncio ou a sorrir se aprende muito. Não é passividade. E o choro e silêncio de tantas crianças em guerras e penúrias atuais?
Jesus na manjedoura já é Palavra do Pai. Só se aprenderá a ouvir pessoas de muito saber ou também a ouvir casualmente quem nos diz palavras simples ou fica em silêncio? Sobre virtudes sinodais já dei por mim a pensar que no dia-a-dia a ouvir, ler, falar, com este e aquele se pode viver um fluxo incontável de posições evangélicas, teológicas e cristãs. E inseridas na vida batismal do quem fala e na vida espiritual da pessoa de boa vontade, amado por Deus. Porque não? Só pelos frutos das boas obras se pode avaliar a caminhada com os outros e com Jesus como no caminho de Emaús. Cléofas e o companheiro caminhavam em momento de desânimo, cabeça baixa, a tentar avaliar aqueles três dias em que só viam derrota.
Alguns avaliam a Igreja, como eles pelos sucessos humanos, livros publicados e conferências sobre o tema sinodal. Outros esperam que alguém de competência diga algo importante e como é que vai acabar. Foi o que sempre se fez. Outros opinam que quanto mais se falar em encontros paroquiais, diocesanos e areópagos católicos, mais se conseguem mudanças sinodais.
Alguns, porém, ficam em silêncio, vivem a vida cristã familiar e comunitária como sabem: fazem oração, praticam o exemplo de Jesus, contemplação, pregação e ação de cuidar os atribulados pobres e doentes. Será mesmo preciso falar agora muito mais sobre o caminhar com…todos? Devolver a palavra ao povo parece importante, mas será assim tão importante usá-la mais e com eloquência e saber humano? Não será também importante devolver e ouvir o seu silêncio?
É bom que todos participem, cada um com os seus dons e talentos, os bebés que não falam muito, pessoas com limitações e de palavras simples e silêncios. Gostam dos pais e sorriem para eles e gostam de ir à igreja com a mamã e o papá que lhes falam do que dizem ao Jesus Menino, crucificado e ressuscitado. E gostam que os pais os cuidem com palavras e amor. Importa que jovens e adultos batizados e em catecumenato vivam a Igreja em comunidade, oração, Missa, boas obras e bons frutos chamados virtudes porque praticadas e repetidas de forma habitual seguindo os exemplos dos santos e S. José o modelo dos silenciosos.
Tudo isto já é escutar o Espírito em nós, dizer, participar e ser Igreja. Nem faltam aqueles que esperam como as mães, a dias de dar à luz, que aconteçam outros Natais, algo de muito bom, apesar dos sofrimentos envolventes. Nossa Senhora também viveu altíssimas expetativas de maravilha e por isso se celebram as Missas do Parto, da Senhora da Expetação, da Senhora do Ó. Os profetas ensinam a viver com grande esperança mesmo com dores e grandes sofrimentos, como agora afligem filhos e mães em várias guerras e carestias. Eles ensinam a viver a Esperança de que algo de muito importante ia e vai acontecer.
Jesus avisou que (então e agora) está perto a nossa libertação. De que jugo? Do nosso ego que não deixa ver e ir a Ele como o nosso tudo. Os bons frutos dão o sentido do êxito da caminhada, apesar dos abismos, com a oração a ligar-nos ao Senhor da esperança e com os frutos de que o Menino nos falou do inventário e guia. O ego inflacionado de alguns liga-se ao medo de perder tudo e que a Igreja se afunde. Felizmente, para muitos, o medo não é tanto que os leve a sair da barca do Menino. Os de Emaús saíram do seu ego cheio de dizeres humanos explicativos e medo; agora livres para sentir o coração a arder por dentro com o fogo do seu Amado que caminhava com eles na tormenta e “na noite escura” que S. João da Cruz veio a saborear. Alimentados por Jesus gozaram Noite de Luz!
Funchal, dezembro de 2023