No livro “A Sociedade do Cansaço”, Byung-Chul Han alerta-nos para o grande problema da nossa sociedade, o excesso de trabalho auto-imposto, o qual deu lugar a uma nova forma de organização coercitiva: a violência neuronal. As pessoas excedem-se cada vez mais para apresentar resultados, tornando-se elas mesmas vigilantes e carrascos das suas acções.
Dado que os sofrimentos psíquicos são compreendidos nos dias actuais sobretudo como desvios neuroquímicos, para o autor do livro a nossa época apresenta-se como uma “violência neuronal.
O slogan do ‘eu consigo’ e do ‘yes, we can’ tem gerado um aumento significativo de doenças como a depressão, os transtornos de personalidade, síndromes como hiperatividade e burnout, alterações fisiológicos do sistema nervoso, considerados pelo autor numa relação directa com o modo operatório do capitalismo contemporâneo.
A destruição do sujeito de desempenho é veiculada não apenas por discursos empresariais ( management ) e mensagens da indústria cultural, mas também por discursos institucionais de promoção da saúde e do bem-estar, a tão apregoada “autorrealização” que conduz o indivíduo à autodestruição. Eis a lógica paradoxal da “liberdade” numa sociedade pós-disciplinar que absolutiza o desempenho e a produção.
Numa época em que poderíamos trabalhar menos e ganhar mais, a ideologia da positividade faz uma inversão perversa, submetendo-nos a trabalhar mais e a receber menos. O excesso de trabalho e de desempenho transformou-se numa autoexploração.
Na cultura ocidental contemporânea, na qual impera o regime de trabalho non-stop , também se deprecia o sono considerando-o um entrave à produtividade e ao desempenho que se apresenta como a única dimensão existencial ainda não colonizada pelo capitalismo.
«A total ausência de crenças e convicções da era moderna, que não só afecta Deus e a transcendência como também a realidade enquanto tal, tornou a vida humana radicalmente efémera. A vida humana nunca foi tão efémera como nos dias de hoje. Contudo, não é só esta que é radicalmente efémera como também o mundo enquanto tal. Nada nos garante duração e estabilidade. Perante esta ausência do Ser, emergem o nervosismo e a inquietação».
“A Sociedade do Cansaço”, uma reflexão para compreendermos melhor o modo de funcionamento da sociedade capitalista contemporânea, o nosso posicionamento nela e a relação entre sociedade e sofrimento psíquico, na medida em que associa, de forma inequívoca, autorrealização e autodestruição numa configuração social com tendência a normalizar o desequilíbrio, o patológico, o excesso que tende a degradar a dignidade humana do trabalhador e, em consequência, o equilíbrio da vida familiar.