Há dias, um colega psicólogo trouxe-me à lembrança um dos temas mais tratados da psicologia, mas nunca que baste. E lembrei-me que andei a ensinar o ABC do conformismo aos meus alunos. Um dos temas eram as investigações sobre como avaliar as pessoas mais manipuláveis e conformistas ou mesmo de cérebro lavável. No tempo das redes sociais o foco para quem é arrastado e os influencers que arrastam. Já não há simplórios que dizem sim aos manipuladores, diz-se. Contudo, serão milhões que vão atrás dos Elons Musks e se fazem fâs e seguidores cegos de dúzias de ídolos sociais.
Conformistas? Não, autoproclamam independentes. Os psicólogos encontravam percentagens elevadas dos que não hesitavam em torturar com choques elétricos até à morte as cobaias das experiências às ordens do investigador guru; nem se negavam a dizer o contrário do que viam, só para não ficar mal vistos pelos seus falsos associados da investigação, sabedores do truque da manipulação. Muitos, ontem, hoje e cada vez mais, não gostam de ficar isolados fora do naipe conformista. Isso é insuportável para muitos.
Agora os algoritmos dizem quem são os mais conformistas. E pela inteligência artificial muitos sabem como pôr os influencers a arrastá-los para escolhas interesseiras alheias, na ilusão de atos livres: votar em tal candidato, consumir droga, fumar, aceitar a subjugação dos traficantes de pessoas, optar por um tipo de bebida, comprar esta marca de roupa, seguir aquela religião e abandonar outra, etc. etc. Nem um dia inteiro chegaria para completar a amostra dos produtos e escolhas mais frequentes. Ou se escolhe à toa, ou não se escolhe por falta de cabeça, ou se escolhe para agradar a alguém.
A quem e porquê? Haverá um mundo de respostas. E será possível não escolher nenhuma? Dizem alguns estudos que cerca de 30% escolhem droga, álcool, tabaco, os jogos, vícios de redes e são arrastados por outros influencers para inúmeros males.
Alguém pensa, por exemplo, que é mais livre e independente se não aceitar Deus na sua vida.E que está a pôr na sua vida em vez de Deus? Nada, pensa. E será possível? Põe-se a si mesmo e o seu prazer imediato? Põe outra pessoa que admira? Será possível não pôr ninguém nem nada? Parecem questões de intromissão na vida alheia. Não são, como não são estas outras: se você é conformista, independente ou não quer saber?
Os três encontros cruciais da passagem pascal terão a ver com esta questão e outras semelhantes? E são de todos os tempos. Vejamos. No início da Bíblia temos uma Eva a dizer sim à Serpente Demónio e dizer não a Deus; Adão a dizer sim a Eva e não a Deus. As respostas foram de conformismo ou de autonomia e independência? Tinham mais opções? Parece que a serpente manhosa e mentirosa funcionou como influencer para estragar a vida ao primeiro par humano. A lei budista do karma, ou da causa e do efeito, funcionam e muitas escolhas dão mesmo para o torto. É incontornável o proverbio “quem semeia ventos colhe tempestades”. As tempestades pessoais e as que, hoje, açoitam mais a humanidade que no passado, dizem os cientistas do clima.
Jesus, no deserto, disse três vezes não ao diabo, e três vezes sim a Deus e usou as razões da Bíblia. O sim foi de conformismo ou de verdade? Será Jesus um influenciado ou um influenciador, um conformista ou um independente e seguro da verdade; e influenciador de milhões sem enganar e prejudicar? Haverá algum vivente no planeta que possa dizer como ele: Eu sou o caminho, a verdade e a vida. E, contudo, muitos, na Europa em especial, continuam a rebaixá-lo e ao Cristianismo, abaixo dos mais duvidosos ídolos do Egito, Mesopotâmia, Grécia e Roma; e, pior ainda, dos ídolos modernos mais desvairados do niilismo, Iluminismo e do Terror; e do marxismo-leninismo-comunismo-esquerdismo-wokismo-jiadhismo, etc., etc., etc. E de tantos enformadores de turno. Dos seres do planeta, só o homem tem capacidade e talento para escolher, mas, infelizmente, pode escolher bem e escolher mal, e muito mal. E pior ainda se o influencer que o motiva é um K’sar infernal. Escolher acertado é sempre fazer algum bem e adiar algum outro bem agradável e bom para amanhã, para si e para outros. Só o bem liberta, só no bem há verdade, e “a verdade vos libertará”. O mal e a mentira escravizam.
E a Quaresma vivida como exercício e não apenas lembrança do passado pode ajudar. As tentações são um bom exercício de escolhas desde há muitos séculos. Os catecúmenos que desejavam ser cristãos e viver a vida cristã de seguimento de Cristo, tinham de passar vários anos a preparar-se; e, na última quaresma, eram votados ou escrutinados várias vezes pela comunidade cristã local para avaliar o grau de seriedade da preparação e provas dadas; se estavam em condições de continuar a caminhada para a escolha final e pública. Chegavam assim ao sábado santo e à vigília pascal para ser interrogados iam imitar Cristo nas tentações do deserto e a escolher. Com três vezes seis respostas. Como fazem, hoje, os adultos e as crianças, após o uso da razão, que pedem o batismo. Os preparados dizem, claramente, três vezes não ao Diabo. Renunciar é rejeitar e dizer não. Era a primeira escolha tripla de não ao Diabo influencer e ao mal. Mas não basta. As três vezes sim são já escolha solene trinitária: sim, creio, acredito, tenho confiança no Pai; escolho e tenho confiança no Filho Jesus; e sim, tenho confiança no Espírito Santo.
Funchal, Quaresma da libertação