Um tempo, estudantes
Em união
Juntos seguiram
Ao começo
De longa e decisiva caminhada
O ano de 1965 corria por seu início; estudantes, havíamos passado no vestibular e era o momento de começar os estudos superiores. Antes, conseguir um local para morar durante a semana. Um amigo nos indicou a Pensão Seleta, na Rua da Praia, um antigo sobrado pouco abaixo do Cinema Cacique. O valor mensal incluía as refeições; acertamos um preço melhor, por excetuados os fins-de-semana. E lá fomos: Tamir, Laranjeira e eu. Um bom quarto, com três camas de solteiro e banheiro perto.
Por indicação do professor e bancário Acyr Moraes de Oliveira, consegui emprego no Sulbanco, agência da Barros Cassal. Era uma boa caminhada, mas seguidamente dava para pegar carona de um bonde (entrava no bonde pela traseira e ficava ali dependurado; quando da proximidade do cobrador tinha que descer e esperar por outro bonde e repetir a operação – com o bonde lotado dava para seguir longe). Ao depois indiquei o Tamir para trabalhar na mesma agência.
A vida em Porto Alegre era prazerosa e gratificante, enquanto estudantes universitários e bancários. Em verdade não ganhávamos muito; lembro que o salário mínimo era de Cr$60,00 e nós recebíamos Cr$66,00, além de uma pequena gratificação semestral – dava para viver relativamente bem, mas sem praticar exageros. Os nossos pais ajudavam no pagamento das despesas da faculdade e dos livros.
Com o trabalho no banco e depois seguir para a aula (o curso de direito ficava no Colégio Rosário), não dava tempo para descer a Rua da Praia e ir jantar na pensão. Por isso, o cozinheiro deixava um “prato feito” e a gente comia antes de ir dormir, lá pelas 11h da noite. Era um fogão a lenha e o “completo” ficava quentinho sobre ele, que ainda guardava caloria da janta. Eles serviam arroz, feijão, carne, uma guarnição (massa, batata, moranga…) e uma salada, que ficava no refrigerador. Ao chegar, ia direto à cozinha e apanhava o prato. Podia-se virar o prato que a comida não caia; ela secava com o calor do fogão.
Depois mudamos para uma pensão na Rua Riachuelo; era um quarto maior e mais barato. Tinha cozinha, mas não forneciam refeições. O pessoal podia usar o fogão para fazer café ou preparar uma alimentação rápida. Na maioria das vezes almoçávamos fora, especialmente no Restaurante Universitário ou na Casa Touro (onde serviam prato-feito especial). Quando se tinha um pouco mais de dinheiro comia-se no Matheus. Este restaurante foi pioneiro em servir “Buffet”, mas com uma variante do modo atual. Os diversos tipos de comida eram expostos em um balcão de vidro e o freguês escolhia o que lhe aprouvesse, o atendente servia e pagava–se pela porção servida (uma porção de arroz, outra de feijão, uma de massa e outra de carne. Pagava quatro porções).
Finalmente alugamos o apartamento 1818, na Galeria Nação, na rua Dr. Flores, e nos mudamos para lá. Compramos dois beliches e quatro colchoes de crina e lã (um lado para o verão e outro para o inverno); ganhamos um fogão da Dona Luiza e um rádio de cabeceira do seu Arno. Arrumamos panelas, pratos e talheres. Cada um cuidava de arrumar a sua cama, com as roupas que trazia de casa. Mudava-se os lençóis uma vez por semana. Alguém conseguiu uma mesinha com três mochinhos. Nada de armários ou outra coisa do gênero. As roupas de uso pessoal ficavam na mala. Agora, conosco, o Mário do Canto.
O rádio marca Semp foi vítima de um curioso acidente. Ao meio-dia escutávamos dois programas: “Pinguinho e Valter Broda” (Inter x Grêmio) e “Pirão na Mesa”. O Laranjeira implicou com o programa, que discutia os problemas do povo gaúcho. Ameaçou que, se o colocássemos novamente, atiraria na rua. Propositadamente o Tamir colocou o programa; o Laranjeira cumpriu o prometido e o rádio voou pelo espaço.
Assim foi o começo da vida acadêmica; jovens interioranos na cidade grande. Deu certo … Um tempo que ficou na lembrança.