Victor Hugo, às vezes conhecido como o “Homem oceano” ou, postumamente, o “Homem século” – precisamente pela amplidão de sua obra genial – foi um poeta, dramaturgo, escritor, romancista, pintor e cartunista romântico francês. Nasceu em fevereiro de 1802 em Besançon, à leste da França, a sessenta quilômetros da Suíça, e morreu em maio de 1885 em Paris. Ele é considerado um dos escritores mais importantes da língua francesa e da literatura mundial. Hugo também foi uma figura política e um intelectual comprometido que desempenhou um importante papel ideológico e igualmente na história da literatura francesa no século XIX.
No teatro, Victor Hugo se estabeleceu como um dos líderes do romantismo francês ao apresentar sua concepção de drama romântico nos prefácios de “Cromwell” (1827) e “Hernani” (1830), os quais foram verdadeiros manifestos, e em suas outras obras dramáticas, em especial “Lucrécia Borgia (1833) e “Ruy Blas” (1838). Quanto a sua poesia, esta inclui várias coleções de poemas líricos, sendo os mais famosos “Odes e Baladas” (1826), “As folhas de outono” (1831) e “As contemplações” (1856). Victor Hugo também foi um poeta que se opôs a Napoleão III em “As punições”, publicadas em 1853, e foi igualmente um poeta épico em “A lenda dos séculos”, publicado de 1859 a 1883.
Como romancista, Hugo obteve grande sucesso popular, primeiro com “Nossa Senhora de Paris”, em 1831, e ainda mais com “Os miseráveis”, em 1862. (A propósito, este romance “Os miseráveis” é tido como um dos maiores e mais notáveis da literatura mundial do século XIX, e mais, sendo esta a causa para que se tenha o autor como “O pai da língua francesa”.)
Continuando, sua obra múltipla compreende também seus escritos e discursos políticos, relatos de viagens, coleções de notas e memórias, comentários literários, uma abundância de correspondências, quase quatro mil desenhos, a maioria deles com tinta, bem como o design de decorações de interiores e uma contribuição para a fotografia.
Muito envolvido em debates públicos, Victor Hugo foi membro do parlamento durante a Monarquia de Julho (de 1830 a 1848) e a Segunda República (de 1848 a 1851). Ele foi exilado por quase vinte anos em Jersey e Guernsey (Inglaterra) durante o Segundo Império (de Napoleão III, de 1852 a 1870), do qual foi um dos principais oponentes . Apegado à paz e à liberdade e sensível à miséria humana, ele se manifestou a favor de vários avanços sociais e se opôs à pena de morte e à escravidão. Ele também apoiou a ideia de uma Europa unificada.
Seu compromisso decididamente republicano na segunda metade de sua vida e sua imensa produção literária fizeram dele uma figura emblemática, a quem a Terceira República (de 1870 a 1940) homenageou com um funeral de Estado e a transferência de seus restos mortais para o Panteão, em Paris, em 1º de junho de 1885, dez dias após sua morte.
Durante os dois dias em que seu túmulo ficou aberto ao público, mais de dois milhões de pessoas vieram prestar suas homenagens. Tendo feito uma grande contribuição para a renovação da poesia e do teatro, e tendo deixado sua marca em sua época por meio de suas posições políticas e sociais, Victor Hugo ainda é celebrado hoje, na França e no exterior, como uma figura ilustre cuja vida e obra são objeto de muitos comentários e homenagens.
Passamos agora a um exemplo de poesia, “As folhas de outono”, de 1831: o tema são as folhas que caem e que nos dizem muito de nossos sentimentos, por isso é uma obra de transição; de acordo com Hugo, eles são versos serenos e pacíficos, da família, com suas emoções, do lar doméstico, da vida privada; enfim, são versos do interior da alma. O autor escreveu estas poesias aos vinte e oito anos de idade, e seu total compõe uma coletânea de mais de cinquenta poemas.
Primeiro: “Este século tinha dois anos de idade”; “Este século tinha dois anos de idade! Roma estava substituindo Esparta, / Napoleão já estava deixando sua marca sob o comando de Bonaparte, / E do primeiro cônsul, já, em muitos lugares, / A testa do imperador estava rompendo a máscara estreita. / Então, em Besançon, uma antiga cidade espanhola, / Lançada como semente ao capricho do ar voador, / Nascido de sangue bretão e loreno ao mesmo tempo / Uma criança sem cor, visão ou voz; / Tão fraca quanto uma quimera, /Abandonada por todos, exceto por sua mãe, / E seu pescoço se curvou como um frágil junco Feito ao mesmo tempo seu caixão e seu berço. / Essa criança que a vida apagou de seu livro, / E não tinha nem mesmo um amanhã para viver, / sou eu. – ”
Segundo: “O sol se pôs esta noite nas nuvens: (Pôr do sol)”; “O sol se pôs esta noite nas nuvens; / Amanhã virá a tempestade, e a tarde, e a noite; / Depois o amanhecer, e seus lampejos de vapores obstruídos; / Depois as noites, depois os dias, não o tempo que voa! / Todos esses dias passarão; eles passarão em massa / Na face dos mares, na face das montanhas, / Nos rios prateados, nas florestas onde rola / Como um hino confuso dos mortos que amamos. E a face das águas, e a testa das montanhas. / Enrugados e não envelhecidos, e bosques sempre verdes / Ficarão mais jovens; o rio do campo / Incessantemente tirará dos montes o fluxo que dá aos mares. Mas eu, abaixando minha cabeça a cada dia que passa, / Eu passo e fico frio sob este sol feliz, / Logo irei embora, no meio da festa, / Sem nada faltar no mundo, imenso e radiante!” “Esqueça, esqueça! Quando a juventude estiver morta, / Deixem-nos ser levados pelo vento / Para o horizonte escuro. / Nada resta de nós: nosso trabalho é um problema; /O homem, um fantasma errante, passa sem sequer deixar / Sua sombra na parede.”
Como vimos, esta é uma série de poemas dominados pela melancolia do autor, lembranças de sua mãe que protegeu sua infância doente (neste século tinha dois anos), de seu pai, das idades da vida (onde está a felicidade), dos deserdados (que ouvimos fragilmente), e enfim, Hugo se comove com essas situações e com suas lembranças.
Gostaria de encerar nosso texto com esses poemas de Victor Hugo os quais nos fazem sentir como se estivéssemos lendo uma composição atual; esta é a sabedoria da genialidade, o autor remonta a sua infância e a sua mocidade e ao mesmo tempo ele a refaz; aproveitemos desse ensinamento!