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Ciranda da Vida – Amor platônico

  • Abril 7, 2024
  • Cultura
  • Ernesto Lauer

 

Um momento de divagação; uma busca interior. O objetivo: A paz de espírito, a amizade e o bem-querer. Um poema de Camões, para aquecer as lembranças e o coração:

 

Alma minha gentil, que te partiste

Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente,
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te;

Roga a Deus que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.

 

Costumo usar muito a expressão Amor Platônico, nas minhas interações com as pessoas, pois se trata se um amor desinteressado, fruto de uma amizade pura. Na poesia NATÉRCIA de Luís Vaz de Camões, acima transcrita, sua musa foi Caterina de Ataíde, dama da corte portuguesa, pela qual era apaixonado, sem nunca ter-lhe revelado o seu amor. Ela morreu e daí nasceu o poema.

Para o filósofo grego Platão, o amor (Eros) era algo essencialmente puro e desprovido de paixões – as quais são essencialmente cegas, materiais, efêmeras e falsas. O amor platônico, não se fundamenta num interesse, e sim na virtude. Platão criou também a teoria do mundo das ideias, onde tudo era perfeito; no mundo real tudo era uma cópia imperfeita desse mundo das ideias. Portanto amor platônico, ou qualquer coisa platônica, se refere a algo que seja perfeito, mas que não existe no mundo real, apenas no mundo das ideias.

Ainda, segundo Platão, o amor não pode ser um deus e, sim, um ser intermediário. Isso porque, para ele, quem ama deseja algo que não tem, logo o amor é uma carência, não sendo nem bom nem mau, nem belo nem feio, nem sábio nem ignorante, ele é uma potência que se situa entre o divino e o humano.

Logo, o amor platônico é entendido como um amor à distância, que não se aproxima, não toca, não envolve, é feito de fantasias e de idealização, onde o objeto do amor é o ser perfeito, detentor de todas as boas qualidades e sem defeitos.

Na poesia de Camões este tipo de amor transparece de maneira cristalina: o amor ardente que Caterina de Ataíde teria observado nos olhos puros do poeta. Um amor que não ultrapassou os limites do olhar; não houve toque, carícias ou beijos; tudo se passou na esfera da idealização.

Num retroceder ao passado, lembro de colegas apaixonados por belas e atraentes moças do colégio São José, com as quais quase diariamente encontrávamos. Muitas destas moças mudaram ou vieram a óbito, sem nunca saber do oculto amor que por elas alguns nutriam. Os que tiveram a coragem de confessar, ou foram desiludidos ou agraciados com a recíproca e o amor até hoje persiste.

Pretendo chegar na dor de sofrer por antecipação; as pessoas são perturbadas não pelas coisas, mas pelas opiniões que delas formam – se tornam ansiosas. A solução não é inibir as emoções, sim compreendê-las através da razão. “A morte e a vida, a honra e a desonra, a dor e a alegria são atribuídas igualmente a todos” (Marco Aurélio, Meditações).

Realmente, os sentimentos todos nós experimentamos; o ponto fundamental é não carregá-los conosco; muitas vezes a confusão se estabelece em nossa mente, por constantemente mentalizar acontecimentos prejudiciais. Controlar as emoções é possível e libertador.

 

 

 

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