A Ditadura Militar de 28 de Maio de 1926, instituída por um golpe militar, substitui a chamada Primeira Republica, que desde o seu início, tinha vivido num clima de permanente instabilidade, com confrontos e criando insegurança na vida do povo português.
O novo governo, o Estado Novo, instaurou um regime nacional autoritário, à imagem do Estado fascista de Mussolini, em 1922 e, uma década mais tarde, do Estado hitleriano, em consequência da crise europeia existente, desencadeada pela proclamação do estado soviético, de cariz comunista revolucionário, com tendência a alastrar por toda a Europa e pelo Mundo.
Em 1936, o conflito da Guerra Civil em Espanha e o poder crescente da influência de Estaline em Madrid, impeliram o regime de Lisboa a aumentar as forças de defesa e de repressão.
O eclodir da II Guerra Mundial viria, naturalmente, a agravar o clima de tensão já existente. Contudo, para além da protecção devida ao povo, face a toda esta instabilidade, a prioridade não foi a liberdade nem a democracia, mas o problema da situação financeira, que naquele período se encontrava em estado deplorável. Assim, foi tudo pela Nação, nada contra a Nação.
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Numa manhã de verão, 27 de Julho de 1970, após uma doença que durou dois anos, Salazar morreu. Motor da vida da Nação e do Estado Novo, por mais de quatro décadas à frente do poder, recorrendo a uma doutrina nacionalista e autoritária, este homem do leme, dedicou toda a sua vida a governar Portugal.
Foram anos de trabalho árduo, numa época muito conturbada a nível nacional e, sobretudo, internacional.
A guerra fria, a procura de adulteração dos valores, da família, da sociedade e o eclodir da guerra colonial, foram alguns, dos perturbadores acontecimentos durante o período salazarista.
O mundo estava a mudar, as “vagas ideias” de Marx, Mao, Marcuse, Freud e Wilhelme Reich, entre outros, começavam a agitar as mentes estudantis, ávidas de mudança e liberdade. A revolução cultural, as manifestações estudantis de Paris e na Califórnia, já libertavam um reduzido rumor duma juventude sem preconceitos.
Novas formas de vida, novas ideologias, hábitos tradicionais suplantados, inclusive, os valores cristãos, a manifestação de novas crenças religiosas e mesmo dentro da Igreja Católica, sectores identificando-se como sendo “católicos progressistas”, acompanhados por alguns sacerdotes também “progressistas”, procuraram maquilhar e desvirtuar a prática cristã, dando-lhe um toque mais “light”, num contexto interventivo mais socializante.
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Marcelo Caetano, assumiu o lugar de Primeiro Ministro, devido ao estado incapacitante da doença de Oliveira Salazar, solução que pela sua visão política e pelo seu perfil humano, criou favoráveis expectativas.
No dia 27 de Setembro de 1968, Marcelo Caetano ao tomar posse proferiu as seguintes palavras: «o País habituou-se, durante largo período, a ser conduzido por um homem de génio; de hoje em diante tem de adaptar-se ao governo de homens como os outros».
O regime optou por escolher Marcelo Caetano porque apresentava uma solução de compromisso entre a ala mais conservadora do salazarismo e os liberais. Os grupos económicos com maior influência deram também o seu apoio a Marcelo Caetano, devido ao facto de este ser apologista de uma opção modernizadora para Portugal.
Quando Marcelo Caetano chegou ao poder fez nascer, em muitas pessoas, a esperança de que, finalmente, haveria uma solução para acabar com a guerra nas colónias, terminar a política de repressão que se vivia em Portugal e efectuar uma transição pacífica para um regime mais democrático. De facto, o novo Presidente do Conselho começou por anunciar ao povo português uma «renovação na continuidade» o que como seria de esperar criou expectativas em determinados sectores da oposição democrática.
“As Forças Armadas continuavam o combate na Guiné, em Angola e em Moçambique, nas chancelarias e assembleias internacionais a diplomacia portuguesa faz frente a tantas incompreensões, não nos é lícito afrouxar a vigilância na retaguarda. Em tal situação de emergência há que continuar a pedir sacrifícios a todos, inclusive nalgumas liberdades que se desejava ver restauradas” (…) Marcelo
Numa primeira fase o Presidente do Conselho procurou a descompressão política de três formas: aliviar a repressão policial, aligeirar a actuação da instituição de censura e possibilitar o regresso de alguns exilados políticos. Esta fase ficou conhecida na História de Portugal como «Primavera Marcelista».
As expectativas de reforma que muitos portugueses esperavam ver colocadas em prática por Marcelo Caetano, rapidamente, se revelaram infundadas. O regime deste novo chefe do Governo procurou de facto dar ao povo ares de mudança, mas servindo-se de «roupagens» novas para situações que já eram velhas.
Em vez de proceder à extinção da polícia política limitou-se a alterar-lhe a designação. A PIDE passou então a chamar-se Direção-Geral de Segurança (DGS). Esta acção de «cosmética» foi também aplicada a outras instituições existentes em Portugal. A União Nacional, partido único criado por António de Oliveira Salazar, nos anos 30, passou a designar-se Acção Nacional Popular (ANP) e procedeu-se à extinção da Censura, que deu lugar ao Exame Prévio. Mudavam-se os nomes mas a natureza das funções mantiveram-se intactas. Rapidamente, a «Primavera Marcelista» mostrou a sua preferência pela continuidade…
Em 1969, o Governo reagiu, em face a uma greve académica e manifestação estudantil universitária, em Coimbra, com forte repressão policial e a prisão de estudantes, assim como a impopular medida do encerramento temporário da Universidade a mando de José Hermano Saraiva, Ministro da Educação Nacional.
A campanha eleitoral deste ano, ocorreu também de forma anómala, com irregularidades. As eleições realizaram-se sem um controlo eficaz da oposição, tendo obtido uma vitória exclusiva as listas do partido do Governo ou seja, apenas foram eleitos os deputados propostos por Marcelo Caetano.
No ano de 1972, a reeleição do Almirante Américo Tomás, pelo colégio eleitoral, para um novo mandato como Presidente da República, foi mais uma confirmação de que não existia uma tendência liberalizadora mas sim uma política de continuidade.
Foi nesta conjuntura que, de 30 de dezembro de 1973 a 1 de Janeiro de 1974, um grupo de individualidades, opositores à guerra colonial, entre as quais se destacam inúmeros católicos progressistas, como por exemplo Nuno Teotónio Pereira, Luís Moita e Francisco Pereira de Moura, tomaram a decisão de ocuparem a Capela do Rato, em Lisboa, com a finalidade de procederem à comemoração do Dia Mundial da Paz.
Tratou-se de «uma ocupação do templo acompanhada de greve de fome por parte dos presentes e de várias intervenções contra a Guerra Colonial». Durante a vigília, que apresentava como temática «A paz é possível», com a duração de 48 horas, demonstrou-se mais uma vez que o regime político português não permitia a liberdade de expressão. A Direção-Geral de Segurança (DGS) reprimiu as vozes que condenavam a guerra colonial ao invadir a capela, que acabou, posteriormente, por ser fechada, e proceder à prisão de vários manifestantes, como por exemplo do professor Pereira de Moura que veio a ser demitido da função pública.
Apesar de algumas reformas levadas a cabo por Marcelo Caetano, este não cumpriu a tão desejada promessa de renovação e apostou numa política de continuidade… Rapidamente, os sectores oposicionistas ao regime, adquiriram consciência de que a sua esperança numa democratização do sistema político havia sido uma pura ilusão. O descontentamento para com a política marcelista conduziu à luta nos campos, nas fábricas, nas universidades, nos meios intelectuais e nas Forças Armadas. Foram organizadas acções violentas, com assaltos a bancos e atentados bombistas por parte de formações partidárias clandestinas. A situação ia-se, desta forma agudizando…
O novo Chefe de Estado não teve uma vida tranquila no governo. A chamada primavera marcelista não agradou a todos, o país sofria de muitas manifestações políticas, com grupos activos e uma esquerda já em movimento radical. Não foram tempos fáceis, nem gloriosos.
Neste contexto de muito desencanto e muitas conspirações, eclodiu um golpe de estado militar pelo Movimento das Forças Armadas.
Numa calma e nebulosa madrugada primaveril, Lisboa acordou em pé de guerra, era uma cidade ocupada.
Através da telefonia, a Rádio Clube Português, nas mãos dos revoltosos, transmitia comunicados das Forças Armadas e músicas de intervenção.
Para a rua saiu o povo, aquele que mais ordena, maioritariamente comunista, confraternizando com os militares.
Por todo o lado havia anarquia, euforia e nervosismo. Cravos vermelhos procuravam dar um tom de alegria àquela realidade que na verdade ninguém percebia.
Era a Revolução dos Cravos, sem sangue, mas talvez algumas das suas sequelas ainda hoje estejam por sarar.
Se para alguns foi um êxtase, liberdade, novos rumos, para outros profetas, foi o sinal de que “Portugal tinha acabado”, acabado como Império e como Nação.
Nestes cinquenta anos que se seguiram são muitas as opiniões que se emitiram e emitem, mas nada ficou como dantes. Ao leitor deixo a liberdade de julgar, consoante as suas vivências politicas, sociais, laborais, familiares e sentimentais.