Os jornalistas distinguem entre a notícia e o seu enquadramento, em inglês «framing». A descrição factual é a notícia; o enquadramento são as conotações, mais ou menos implícitas, que a acompanham.
Pode surpreender-nos, mas, com frequência, o enquadramento tem maior peso na comunicação moderna. Alguns meios são mesmo especialistas na operação de enquadrar a informação de acordo com aquilo que, a seu ver, convém que o público pense.
Por exemplo, sai um livro que mostra a gravidade da iniciação sexual das crianças, mas o jornal quer que os leitores a aceitem. A notícia pode ser dada assim:
«Fulano, conotado com movimentos de extrema direita, escreveu um livro a condenar intransigentemente o prazer das crianças. Em declarações a este jornal, Sicrano, investigador da matéria, comenta que não podemos rejeitar algo apenas por ser diferente do tempo dos nossos avós. E Beltrano, académico prestigiado, cita a experiência positiva dos países mais desenvolvidos que aceitaram esta prática».
Não se pode dizer que a notícia contenha falsidades. Efectivamente, saiu um livro e há pessoas que discordam dele. A questão é que muitos leitores não registam a informação nestes termos banais. Dois indivíduos criticarem uma ideia é trivial, o importante é a mensagem transmitida pelo enquadramento. O enquadramento apresenta-nos um autor intransigente e isolado contra personalidades muito esclarecidas. Cola uma etiqueta negativa ao autor e classifica os opositores como investigadores e académicos. Parece que destaca o livro, mas não se refere nenhum dos seus argumentos. Inclusivamente, fica no ar a ideia de que pretende fazer-nos regredir ao tempo dos nossos avós e dá como certo que houve «experiências positivas», que ocorreram em «países desenvolvidos». Ou melhor, não afirma essa falsidade, invoca a autoridade de um «académico prestigiado».
A informação nacional e internacional está cheia de enquadramentos carregados de mensagens disfarçadas.
A classificação das pessoas, positiva ou negativa, é um instrumento muito usado nestas manipulações. O vândalo que estraga o altar papal nas JMJ é um artista. Os que defendem a família são extremistas retrógrados. A chusma que assalta um museu ou agride as pessoas é um colectivo de activistas. Os que ajudam homossexuais a ultrapassar a sua situação cometem crimes de ódio, são fascistas homofóbicos.
A reconstrução dos substantivos é outra técnica frequente. Em vez de aborto, fala-se de interromper voluntariamente a gravidez. Em vez de infidelidade aos compromissos assumidos, fala-se de recomeçar a vida. Em vez de matar, respeita-se a eutanásia. Tornar as palavras maleáveis expressa a desistência de buscar a verdade, à maneira do «pensiero debole», de Gianni Vattimo e Pier Aldo Rovatti, inconsistente e precário.
Uma das campanhas mais massivas de reconstrução vocabular é a ideologia do género. Criou um autêntico dicionário! Com dezenas de palavras adaptadas ou novas, como aquela que é recordista do número de letras na generalidade das línguas. É um construção de tal forma impronunciável que só se costuma dizer abreviadamente: LGBTQ+. O alvo directo da ideologia do género é a família, porque, na perspectiva do egoísmo exacerbado, os vínculos familiares de amor são como grelhas de prisão. Os pais ficam presos aos filhos durante anos, o marido e a mulher dependem um do outro para a geração dos filhos. Portanto, libertar-se exige afastar o sexo de qualquer responsabilidade familiar e limitá-lo a prazer egoísta. Não se trata de promover a dignidade de alguém, nem do homem nem da mulher, apenas se quer inventar indivíduos novos, sem família.
Este movimento tem êxito no reino das palavras flexíveis, mas o seu futuro é contradizer-se sucessivamente, porque o egoísmo é algo tão corrosivo que dissolve o próprio exercício da liberdade. Só admite caprichos instantâneos, opõe-se a decisões livres destinadas a permanecer para além do instante presente.
Como Bento XVI disse, no seu último discurso: «Para a filosofia do género, ser homem ou mulher converte-se numa decisão individual. (…) Na luta pela família está em jogo o próprio homem. E fica claro que onde se nega Deus, também se dissolve a dignidade do homem. Quem defende Deus, defende o homem».
O Papa Francisco tem insistido cada vez mais frequentemente que «hoje, o perigo mais grave é a ideologia do género, que anula as diferenças e faz com que tudo fique igual; apagar a diferença é apagar a humanidade».