No dia 15 de Maio celebra-se o dia internacional da família. ‘A família é a célula originária da vida social. É ela a sociedade natural em que o homem e a mulher são chamados ao dom de si no amor e no dom da vida. A autoridade, a estabilidade e a vida de relações no seio da família constituem os fundamentos da liberdade, da segurança, da fraternidade no seio da sociedade. A família é a comunidade em que, desde a infância, se podem aprender os valores morais, começar a honrar a Deus e a fazer bom uso da liberdade.
A vida da família é iniciação à vida em sociedade.’ Atrevo-me a acrescentar que na família cada pessoa recebe os conhecimentos base para a vida. Por isso, ‘a família deve ser ajudada e defendida por medidas sociais apropriadas. Nos casos em que as famílias não estiverem em condições de cumprir as suas funções, os outros corpos sociais têm o dever de as ajudar e de amparar a instituição familiar. Mas, segundo o princípio da subsidiariedade, as comunidades mais vastas abster-se-ão de lhe usurpar as suas prerrogativas ou de se imiscuir na sua vida.’ Infelizmente não me parece que este ponto esteja a ser respeitado e cumprido.
A família não só não tem sido protegida como tem vindo a ser cada vez mais atacada. Todos os Papas têm exortado à protecção da família e da vida, mas o pontificado de João Paulo II ficou tão marcado neste ponto que este papa é facilmente considerado como o ‘Papa das Famílias’. Ele publicou a Exortação Apostólica Familiaris Consortio, a Carta Encíclica Evangelium Vitae e a Carta às Famílias no Ano da Família em 1994.
Além disso, São João Paulo II também foi o idealizador do Encontro Mundial das Famílias. Na Carta às Famílias, escreveu: ‘Queridas Famílias! A celebração do Ano da Família oferece-me o feliz ensejo de bater à porta da vossa casa, no desejo de vos apresentar as mais afectuosas saudações e conversar convosco. Faço-o através desta Carta, que inicio com as palavras da Encíclica Redemptor hominis, publicada nos primeiros dias do meu Ministério Petrino. Escrevia então: o homem é a via da Igreja. Com esta afirmação, queria sobretudo aludir às múltiplas estradas ao longo das quais caminha o homem, e ao mesmo tempo sublinhar quão vivo e profundo é o desejo da Igreja de o acompanhar no percurso das vias da sua existência terrena. (…)
Dentre essas numerosas estradas, a primeira e a mais importante é a família: uma via comum, mesmo se permanece particular, única e irrepetível, como irrepetível é cada homem; uma via da qual o ser humano não pode separar-se. Com efeito, normalmente ele vem ao mundo no seio de uma família, podendo-se dizer que a ela deve o próprio facto de existir como homem. Quando falta a família logo à chegada da pessoa ao mundo, acaba por criar-se uma inquietante e dolorosa carência que pesará depois sobre toda a vida.
A Igreja une-se com afectuosa solicitude a quantos vivem tais situações, porque está bem ciente do papel fundamental que a família é chamada a desempenhar. Ela sabe, ainda, que normalmente o homem sai da família para realizar, por sua vez num novo núcleo familiar, a própria vocação de vida. Mesmo quando opta por ficar sozinho, a família permanece, por assim dizer, o seu horizonte existencial, como aquela comunidade fundamental onde se radica toda a rede das suas relações sociais, desde as mais imediatas e próximas até às mais distantes.
Porventura não usamos a expressão «família humana», para nos referirmos ao conjunto dos homens que vivem no mundo?’ E termina escrevendo palavras tão mas tão adequadas à realidade de hoje, passados 30 anos ‘Através da família, passa a história do homem, a história da salvação da humanidade. Procurei mostrar nestas páginas como a família se acha no centro do grande combate entre o bem e o mal, entre a vida e a morte, entre o amor e quanto a este se opõe. À família está confiado o dever de lutar sobretudo para libertar as forças do bem, cuja fonte se encontra em Cristo Redentor do homem.
É preciso fazer com que tais forças sejam assumidas por cada núcleo familiar, para que, como se disse por ocasião do milénio polaco do cristianismo, a família seja «forte de Deus». Eis a razão por que a presente Carta quis inspirar-se nas exortações apostólicas, que encontramos nos escritos de Paulo. Como são semelhantes, mesmo se num contexto histórico e cultural diverso, as situações dos cristãos e das famílias de então e de hoje! Assim, as minhas palavras considerai-as um convite: um convite dirigido especialmente a vós, queridos maridos e esposas, pais e mães, filhos e filhas. (…)
Cristo, que é o mesmo «ontem, hoje e sempre», esteja connosco ao dobrarmos os joelhos diante do Pai, do Qual provém toda a paternidade e maternidade e cada família humana e, com as mesmas palavras da oração ao Pai que Ele próprio nos ensinou, ofereça uma vez mais o testemunho do amor com que Ele nos «amou até ao fim»! Falo com a força da Sua verdade ao homem do nosso tempo, para que compreenda quão grandes bens são o matrimónio, a família e a vida; e quão grande perigo constitui o desprezo de tais realidades e a menor consideração pelos supremos valores que fundam a família e a dignidade do ser humano.
Seja o Senhor Jesus a dizer-nos de novo estas coisas com o poder e a sabedoria da Cruz, a fim de que a humanidade não ceda à tentação do «pai da mentira», que constantemente a impele por estradas largas e espaçosas, aparentemente fáceis e agradáveis, mas, na realidade, cheias de insídias e perigos. Seja-nos concedido seguir sempre Aquele que é «o caminho, a verdade e a vida». (…)
A Sagrada Família, ícone e modelo de cada família humana, ajude cada um a caminhar no espírito de Nazaré; ajude cada núcleo familiar a aprofundar a própria missão civil e eclesial, mediante a escuta da Palavra de Deus, a oração e a partilha fraterna de vida! Maria, Mãe do Belo Amor, e José, Guarda do Redentor, nos acompanhem a todos com a sua incessante protecção! Com estes sentimentos, abençoo cada família em nome da Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo.