Skip to content

Porquê pessoas diferentes?

  • Maio 16, 2024
  • Conexão | Brasil x Portugal
  • Padre Aires Gameiro

Esta questão coincide com o tema da “Semana da vida”: «Da fragilidade (re) nasce a vida». As pessoas são diferentes no corpo, na mente e no espírito, e a teologia defende que foram criadas por Deus. Porquê, Deus cria pessoas diferentes, perguntaram-me há tempos? Será melhor perguntar a Deus, respondi. A pergunta pode subentender uma resposta: Deus é injusto e seria melhor que fossem todas iguais. Os biólogos têm outras explicações: acasos ou erros da evolução biológica do ADN.

O homem é tentado a limpar as pessoas defeituosas com  eugenias e genocídios destrutivos no seguimento de Darwin, Nietzsche, Hitler. O mesmo fazem alguns técnicos da fertilização in vitro, ou  abortistas, infanticidas, genocidas,  racistas e esclavagistas de hoje. Em todos os tempos surgiu a tentação de eliminar as pessoas diferentes desagradáveis. Pessoas iguais, porém, seriam máquinas incapazes de relações pessoais de qualidade enriquecedora.

Frankenstein tentou fabricar um monstro; a inteligência artificial sonha fazer intelectos e as ideologias violentas eliminam pessoas diferentes que odeiam. Durante anos, na China as meninas por não serem meninos eram privadas da vida por cada mãe só poder dar à luz um rapaz.

Quando em 1992 estive em Macau, ouvia que entravam ali algumas mulheres para dar à luz e poderem guardar vivas as suas meninas. As diferenças entre pessoas são inumeráveis, algumas difíceis de aceitar por elas e pelos outros. As outras pessoas por vezes, rejeitam-nas em vez de as ajudar mais. As sociedades, em vez da barbaridade de genocídios têm a missão de prestar cuidados a essas pessoas mais vulneráveis, fracas e doentes.

As culturas decadentes e viciosas, como se vai mostrando a nossa, tendem a abandoná-las sem cuidados e deixá-las morrer ou recorrer a ajuda no seu suicídio. Esquecem que todas são igualmente dotadas da dignidade de pessoas. Em vez de respeitar esta dignidade igual à de cada um, acham que não a têm. A dignidade faz parte do ser pessoa e ninguém a dá ou a pode tirar. Lembro um grupo de trabalho internacional que estava a refletir sobre como lidar com a dignidade das pessoas com limitações. Surgiu a ideia de que só respeitar essa dignidade é aceitável.

Porque criou Deus, então, pessoas tão diferentes? Ele ama todas as pessoas que cria, e só por amor as cria diferentes, mas com igual dignidade, tanto as mais saudáveis e dotadas, como as mais frágeis e doentes. E as ama  todas, cria-as, assim, para todas se ajudarem e amarem nas suas diferenças. As pessoas são todas diferentes e únicas, e iguais só na sua dignidade, mas é nas diferenças que há relação.

A declaração recente da Igreja afirma a «dignidade infinita» nas pessoas todas, quer sejam inteligentes e limitadas, saudáveis ou de saúde frágil; enriquecidas de qualidades humanas ou pobres e muito incapacitadas. As diferenças de cor, religião, estatura, força física, não afetam a igual dignidade como diz a Declaração da ONU (1948), e antes dela, embora de modo diferente, a Revolução Francesa; e, muitos séculos antes, Cristo proclamou e a Bíblia (Gen. 1, 27) se antecipou-se a dizer: «E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou».

Será que a dignidade e as diferenças das pessoas são uma ajuda a distinguir o essencial do sentido da vida, do que é secundário, de menos valor, aqui e para a eternidade? Não serão essas diferenças que ajudam as pessoas a manter relações com todos  como irmãos e irmãs? Ninguém escolhe os seus irmãos e irmãs nem dá dignidade a cada um deles. Essa já faz parte do seu ser.

O maior problema das sociedades está na dificuldade em aceitar e respeitar as pessoas diferentes e de impregnar essas relações com amor incondicional. Infelizmente, não há escolas de amor incondicional. Amar incondicionalmente não é aprovar ou imitar o mal vicioso dos outros. Relacionar-se com empatia é ir além dessas negatividades e respeitar a dignidade dos outros, apesar das suas fragilidades com compreensão. Sem a relação de proximidade com as pessoas diferentes, frágeis e muito, muito limitadas, não se abre a janela para o sentido do essencial da vida humana, mas fecha-se no escuro.

Será isso que está a acontecer com tanta falta de respeito pela dignidade das pessoas diferentes? Recusa-se esta humanidade cheia de pessoas dignas, mas insignificantes e não se reconhece a sua essencial dignidade igual à de todos. Abre-se o abismo que está a engolir esta cultura decadente de acabar com os frágeis na ilusão cega de dar dignidade aos fortes e ricos. Afinal, tão dignos, mas tão insignificantes como os mais pequeninos.

O ódio, as guerras, a fome ao lado do esbanjamento viciado; as extravagâncias e orgias ocas e loucas,e a barbaridade de não deixar nascer as crianças tudo vai arrastando o Ocidente envelhecido para o abismo, sem esperança e sem futuro no aquém e no além. Povos cristãos vão desperdiçando o sentido da vida de todos, deixando de o ser; enquanto outros vão começando a ser como o apóstolo Matias a ocupar o lugar de Judas, e a dar esperança aos que pedem as migalhas do Evangelho, como fez a mãe cananeia da filha endemoninhada (Mt.15,21-39).

Cristo deixou quadros que descrevem esta sociedade decadente às escuras: Lázaro cheio de feridas à porta do rico avarento em banquetes diários que acabou por pedir uma gota de água (Cf. Lc. 16, 19-31); o Rico insensato de celeiros cheios a gozar a vida (cf. Lc. 12,13-21); e o incompetente construtor de casa sobre a areia (cf.  6, 47-49). Dão oportunas meditações  na  novena do Espírito Santo para pedir a luz e sabedoria de aceitar, agradecer e respeitar a dignidade de todas as pessoas.

Funchal, Semana d Vida,  Novena do Espírito Santo

Categorias

  • Conexão | Brasil x Portugal
  • Cultura
  • História
  • Política
  • Religião
  • Social

Colunistas

A.Manuel dos Santos

Abigail Vilanova

Adilson Constâncio

Adriano Fiaschi

Agostinho dos Santos

Alexandra Sousa Duarte

Alexandre Esteves

Ana Esteves

Ana Maria Figueiredo

Ana Tápia

Artur Pereira dos Santos

Augusto Licks

Cecília Rezende

Cláudia Neves

Conceição Amaral de Castro Ramos

Conceição Castro Ramos

Conceição Gigante

Cristina Berrucho

Cristina Viana

Editoria

Editoria GPC

Emanuel do Carmo Oliveira

Enrique Villanueva

Ernesto Lauer

Fátima Fonseca

Flora Costa

Helena Atalaia

Isabel Alexandre

Isabel Carmo Pedro

Isabel Maria Vasco Costa

João Baptista Teixeira

João Marcelino

José Maria C. da Silva...

José Rogério Licks

Julie Machado

Luís Lynce de Faria

Luísa Loureiro

Manuel Matias

Manuela Figueiredo Martins

Maria Amália Abreu Rocha

Maria Caetano Conceição

Maria de Oliveira Esteves

Maria Guimarães

Maria Helena Guerra Pratas

Maria Helena Paes

Maria Romano

Maria Susana Mexia

Maria Teresa Conceição

Mariano Romeiro

Michele Bonheur

Miguel Ataíde

Notícias

Olavo de Carvalho

Padre Aires Gameiro

Padre Paulo Ricardo

Pedro Vaz Patto

Rita Gonçalves

Rosa Ventura

Rosário Martins

Rosarita dos Santos

Sérgio Alves de Oliveira

Sergio Manzione

Sofia Guedes e Graça Varão

Suzana Maria de Jesus

Vânia Figueiredo

Vera Luza

Verónica Teodósio

Virgínia Magriço

Grupo Progresso de Comunicação | Todos os direitos reservados

Desenvolvido por I9