É melhor tentar e falhar
que preocupar-se
e ver a vida passar (Martin Luther King)
Quanto mais leio e pesquiso sobre a história de Montenegro, cada vez mais encaro uma realidade um tanto infeliz. Acontece que nossa memória escrita, dos fatos muito antigos do passado é sumária. A minha vontade de mais saber e conhecer não se esgota nos achados ao dispor. Careço de fontes alternativas. Por isso, sigo através de descobertas próprias, especialmente encontradas em antigos jornais.
A chuva caiu incessantemente. Sem clemência aos caminhantes que precisavam seguir por calçadas, ruas e estradas. Somos eternos caminhantes, pouco importando as variações climáticas. Uns amam o sol e a estação quente; outros deleitam-se ao frio do inverno, esperando o desabrochar das flores na estação a seguir: a primavera.
O outono, que os americanos chamam de FALL, interpõe-se entre o quente e o frio das duas estações antagônicas. É o tempo da QUEDA, quando as árvores perdem suas folhas. Trata-se de uma estratégia das plantas para se proteger do frio, reduzindo ao máximo seu gasto de energia. “Quando chega o outono e os dias começam a ficar mais curtos, a natureza está sinalizando às arvores que chegou o momento de modificar algumas de suas características” (afirmação do biólogo Gilberto Kerdauy, da USP).
Fatores climáticos e meteorológicos, num período de tempo sinistro, como o atual, remetem-me ao passado, num voo a alcançar o outono de 1941, os meses de abril e maio. Choveu por 22 dias durante o período, ocasionando cheias dos rios Jacuí, Taquari, Caí e dos Sinos, Foi uma das maiores enchentes da nossa história. A chuva incessante e o vento acentuado impulsionaram as águas do rio, numa velocidade de 60 quilômetros por hora, em direção ao estuário do Guaíba.
Mesmo com o fim das chuvas, um vento sul ajudou a represar as águas da Lagoa dos Patos, refletindo em todos os rios que compõe a Região Hidrográfica do Guaíba. Em Montenegro esta enchente também foi muito grande, pois a cidade está quase no mesmo nível das águas do Rio Jacuí e do Delta do Guaíba. Como o nível das águas nesses lugares estava alto, os reflexos faziam-se sentir no nível do Rio Caí e por Montenegro.
Em 1941, áreas como o Bairro Industrial, Bairro Ferroviário e para os lados da antiga Olaria Lerch, eram pouco ou nada povoadas e as águas do rio espraiavam-se por quilômetros, o que reduzia o volume aqui no nosso cais a alcançar as ruas próximas, a subir. Mesmo assim, as águas chegaram à beira da Praça Independência, atual Rui Barbosa.
Carlos Corrêa da Silva, convidado pelo General Cordeiro de Farias, assume a função de Prefeito Municipal de Montenegro, no período entre 1º de julho de 1940 a 9 de janeiro de 1944. Engenheiro, responsável, junto com o pai, pela construção de nossos Cais; ao tempo contava 52 anos de idade. Foi um administrador muito competente. Iniciou a construção da Usina Elétrica (hoje Câmara de Vereadores); cuidou da instrução pública e das estradas interioranas.
Ao tempo da enchente, desenvolveu todos os esforços no sentido de acolher, abrigar e alimentar os flagelados. Distribuiu roupas e artigos de primeira necessidade. Começou os preparativos para a comemoração dos 75 anos de emancipação política de Montenegro.
As sequelas da enchente atual estão presentes na maioria das famílias locais e do nosso Estado. Pretendo adentrar em uma análise mais apurada na próxima coluna. Por ora, uma simples análise daquilo que me foi dado estudar sobre a tragédia das águas no outono de 1941. Uma “avant première” desta que nos assola … Para alguns, as águas dos rios recuam, dando causa ao levante delas aos outros, como os municípios às margens da Lagoa dos Patos, por onde as águas seguem, até desaguar no oceano.
Para finalizar meu escrito, ofereço um pensamento de William Shakespeare:
“Você diz que ama a chuva, mas você abre seu guarda-chuva quando chove. Você diz que ama o sol, mas você procura um ponto de sombra quando o sol brilha. Você diz que ama o vento, mas você fecha as janelas quando o vento sopra. É por isso que eu tenho medo. Você também diz que me ama”