Não sei se a vida é curta ou longa para nós,
mas sei que nada do que vivemos tem sentido,
se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser: colo que acolhe,
braço que envolve, palavra que conforta,
silencio que respeita, alegria que contagia,
lágrima que corre, olhar que acaricia,
desejo que sacia, amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo,
é o que dá sentido à vida.
(Cora Coralina)
Meus momentos de nostalgia, na maioria das vezes, envolvem a fuga ao passado, para acariciar os instantes felizes, passados ao longo da minha trajetória precedente e ligar os pontos ao presente deram causa. O viver de cada um é povoado por momentos de alegria e de tristeza, principalmente pela dor. Os de felicidade são passageiros, dissipam-se facilmente; já os tormentosos marcam indelevelmente e os carregamos conosco ao longo do tempo.
A coluna carrega o suporte emocional e verdadeiro da poetisa CORA CORALINA – poesia NÃO SEI. Podemos vaticinar por uma longa vida; as linhas da mão dizem do teu profícuo e extenso viver; as cartas de Taro anunciaram um viver até os 90 anos! O que sei é que nada sei e, efetivamente, NÃO SEI – se a vida será longa ou curta. Qual é o verdadeiro sentido da vida, se sequer sabemos o motivo de aqui estarmos?
As coisas imprevisíveis acontecem ao arrepio de nossa própria vontade. Para alguns, devemos levar a vida sem nos preocupar com tais acontecimentos, pois só nos causam dissabores. Ante a preocupação, o bem viver desaparece, dando causa à angustia e ansiedade, o que poderá culminar com doenças bem mais graves e nos afetar de forma mor imprevisível ainda.
Novamente o dilema: NÃO SEI o que fazer. Vou em busca dos lenitivos e perco-me pelas estradas que a própria vida vai abrindo, sem eu próprio notar. É por isso que somos carentes, sempre em busca de um colo e duma palavra de conforto. Nova dicotomia: se somos os que sofrem, os do NÃO SEI, precisamos encontrar o grupo daqueles que algo sabem e possam oferecer o necessário bálsamo para nossas agruras.
Essa a lição do verso: a vida só tem sentido se chegarmos ao coração das pessoas, oferecer a palavra que consola e, quedos, ouvirmos os lamentos daqueles que sofrem; oferecer a mão amiga e enxugar suas lágrimas.
Ao redigir, dei um tempo e acabei por receber infausta notícia: ao entardecer da terça-feira última faleceu, na cidade de Porto Alegre, onde residia, meu primo CARLOS VALTER AUGUSTIN. No dia seguinte foi enterrado no Jazigo da Família Kauer, no Cemitério local, onde os familiares ofereceram sua derradeira despedida e homenagem.
Ao participar, lembrei-me de Cora Coralina, por auto questionar-me sobre o tempo de vida no mundo terreno. NÃO SEI. Conclui. Quais os desígnios do Poder Superior para chamar meu primo para a derradeira morada, abreviando-lhe a existência. Carlinhos sempre foi um ótimo filho, marido amoroso, excelente pai e dedicadíssimo avô. Ele nasceu em 06 de outubro de 1945; casado com Maria Helena Grosshouse, pai de Carla e Cristian e avô de quatro netos/as (três de Carla e uma de Cristian).
Carlinhos trabalhou desde cedo; iniciou como “office boy” na Siemens do Brasil, filial de Porto Alegre. Graduou-se na área da administração de empresas e, depois do casamento, seguiu para a Alemanha, onde estudou e trabalhou em um hospital especializado em diabetes. Ao retornar morou em nossa cidade; trabalhou na área de recursos humanos da Antarctica e depois comprou o Supermercado do Darinho Borchardt, na rua Olavo Bilac (hoje está o Lutz), onde se estabeleceu por longo período.
Foi um dos fundadores da Associação dos Funcionários da Antarctica e do Rotary Club Montenegro Centenário. Participou ativamente da sociedade montenegrina. Ao retornar para Porto Alegre foi dignitário do Clube Sogipa e da Igreja Luterana Navegantes. Estabeleceu-se com comércio até a aposentadoria.
Carlinhos da Tia Ilma foi parente e amigo; juntos convivemos durante a infância e a juventude; o tempo nos separou; seu passamento abre lacuna no conjunto das famílias Kauer, Krug, Augustin e Matzembacker, para citar somente algumas. Antecipou-se na partida, deixando tristeza e vazio; suas qualidades permanecerão e sempre será lembrado. Por tudo, NÃO SEI e quem sabe nem gostaria de SABER.