O aparente nada, que transforma tudo
Neste 11º Domingo do Tempo Comum, lemos no Evangelho de São Marcos (4, 26-34) a parábola do grão de mostarda, em que Nosso Senhor, por meio de um grande exagero, tenta representar a dinâmica de crescimento do Reino do Céu. Jesus mostra como uma coisa pequena, quase insignificante, pode se transformar em algo grandioso, cujo impacto alcança nossas vidas.
O que é, afinal, um grão de mostarda?
É uma semente minúscula, semelhante a um grão de areia. Porém, quando é semeada, torna-se uma portentosa árvore. Há, portanto, uma grande desproporção, que Nosso Senhor enfatiza porque quer nos ensinar a dinâmica do próprio Reino de Deus, da Igreja por Ele instituída.
Se compararmos a Igreja aos poderes deste mundo, concluiremos que ela, Corpo místico de Cristo, é, por assim dizer, um nada. Em nosso cotidiano, no trabalho, na escola, no convívio com amigos e colegas, a Igreja Católica é objeto de desprezo. As pessoas criticam o sacerdócio e a vida devota, chamam-nos “alienados”, “malucos”, “beatos” — no sentido pejorativo.
Assim, a tendência do mundo, ao abandonar a fé, é voltar-se para a realidade meramente material; para o dinheiro, os prazeres, o poder e o sucesso. Basta analisarmos quem manda no mundo. Aparentemente são os banqueiros, a Bolsa de Valores, os metacapitalistas, aqueles que detêm mais dinheiro e poder político; enquanto que a Igreja Católica é uma instituição fracassada, sem poder nenhum.
No entanto, os fatos do Evangelho mostram o que aconteceu, desde o início, com a Igreja, quais foram os seus passos iniciais.
Quando Nosso Senhor começou a pregar o Evangelho, a Igreja Católica, evidentemente, ainda não tinha toda essa rica história de santos, doutores e mártires; era um nada mesmo. E quem era Jesus? Um homem muito pobre, que cresceu na pequena vila de Nazaré e passara a vida exercendo o ofício da carpintaria, que aprendera com o seu pai José.
E tão logo Nosso Senhor iniciou seu ministério, ainda em Nazaré, suas primeiras testemunhas o consideraram louco. Elas estranharam o fato de que aquele carpinteiro, que passara a vida inteira entre eles, agora começasse a querer ensinar.
Mas justamente assim é o Reino do Céu: uma semente de mostarda pequenina, que, apesar disso, detém um poder extraordinário. E é o Verbo eterno, Deus encarnado, Jesus Cristo, que se apresentou na pequenez e na miséria, aquele que detém o poder redentor do mundo.
Eis o mistério da Cruz, eis a natureza da Igreja: é o mistério de um fracasso que se torna uma grande vitória transformadora.
E como isso acontece? O Reino do Céu tem um poder e uma potência extraordinárias. E, a fim de exemplificar o que queremos dizer, podemos olhar para a vida de São Francisco de Assis. Era um rapaz que sonhava em trilhar uma carreira de sucesso; seu pai tinha muito dinheiro, o que alimentava o sonho do filho de se tornar famoso. Todavia, um belo dia, Francisco foi feito prisioneiro de guerra — assim, tudo fracassou em sua vida.
Deprimido e encarcerado, São Francisco teve a experiência de ouvir, no meio da desgraça de sua vida, Nosso Senhor falar-lhe interiormente. Não sabemos exatamente como se deu essa conversão. No entanto, ele estava preso, fracassado e frustrado; mas, quando saiu da prisão e retornou à casa do pai, estava transformado.
São Francisco fora um pequeno burguês cuja ocupação havia sido gastar o dinheiro da família. Comparando com os nossos dias, podemos dizer que o jovem Francisco gostava de comprar Ferrari ou quaisquer carros portentosos; gastava o dinheiro com prostitutas, drogas e coisas assim.
É evidente que, à época, a Ferrari de Francisco de Assis era um cavalo bem-criado; ele não gastava dinheiro com grandes equipamentos eletrônicos, mas com um outro, muito cobiçado na época: uma armadura. Sonhava em ser cavaleiro e mostrar para todos que era poderoso. Assim, partiu para a guerra, mas obteve uma grande derrota. Prisioneiro, viu o seu sonho mundano dissipar-se.
Porém, de forma misteriosa, uma mudança começou a ser operada em seu interior: foi quando Francisco ouviu as palavras de Nosso Senhor sobre a semente de mostarda. Os santos são testemunha do poder extraordinário da semente do Evangelho, como aquele jovem de Assis que, de homem fracassado, tornou-se um grande santo, porque permitiu que a pequenina semente da Palavra germinasse em seu coração.
Assim, naquele mundo que se importava só com dinheiro — no século XIII, estava começando o capitalismo moderno — o jovem Francisco decidiu abandonar tudo por amor a Jesus. E, nu em praça pública, entregou todos os seus pertences ao pai, despedindo-se para viver a pobreza por amor a Jesus, que se fizera pobre por ele.
Ao contemplar Nosso Senhor crucificado, pobre e nu, São Francisco decidiu abraçar essa pobreza e essa nudez em uma extraordinária experiência de amor, de quem tudo abandona por amor a Jesus. O grão de mostarda transformou-se em uma árvore frondosa.
Desse modo, com o seu exemplo, Francisco de Assis começou a atrair outros que haviam sido impactados com o seu testemunho. Muitos o procuravam com a intenção de aprender o que ele aprendeu, de ver o que ele havia visto. E com o crescimento dos galhos da árvore frondosa, subitamente, milhares de jovens de toda a Europa achegam-se a Assis, a fim de se encontrarem com Francisco.
No dia 13 de junho, nós celebramos a memória de Santo Antônio, um padre português que, depois de ouvir falar de São Francisco, decidiu ser igual ao santo italiano. Assim, ele abandonou sua carreira sacerdotal — por suas qualidades, Antônio poderia até ter sido bispo — a fim de seguir a pobreza franciscana.
Citamos esses exemplos porque é uma forma bastante eficiente de se entender o mistério da Igreja, do grãozinho de mostarda, que é a mensagem do Evangelho a iluminar o coração das pessoas.
A verdade é que, quando o grão de mostarda cai na terra do nosso coração, nós não sabemos como se realiza o milagre. Isso porque, antes não ouvíamos, e agora passamos a ouvir; antes achávamos que a Igreja era uma perda de tempo, e agora contamos os minutos para a Missa dominical; antes considerávamos o Evangelho ridículo, e agora a Sagrada Escritura traz-nos imensa alegria.
Na Primeira Leitura deste domingo, do Profeta Ezequiel (17, 22-24), nós vemos uma comparação semelhante àquela feita por Jesus, quando Deus diz:
“Eu mesmo tirarei um galho da copa do cedro, do mais alto de seus ramos arrancarei um broto e o plantarei sobre um monte alto e elevado.”
— Ezequiel 17, 22
O cedro é a maior e mais frondosa árvore da região da Terra Santa, no Oriente Médio. Quando Deus fala em arrancar um galho da copa do cedro, temos aqui um símbolo: um galho arrancado é insignificante, um fracasso, algo que serve apenas para secar e morrer.
Acontece que Deus, ao pegar essa desgraça, essa coisa que para o mundo não tem valor, coloca-a no alto da montanha de Israel, a fim de produzir folhas, frutos e tornar-se um cedro majestoso, sob cuja sombra os pássaros construirão seus ninhos.
Esse galho é a própria Cruz de Cristo; e a montanha em Israel é o Monte Sião, Jerusalém. Este é o local no qual Nosso Senhor será crucificado séculos depois.
A Cruz é o “fracasso” de Cristo. Quando a Igreja, no amor, vive um fracasso, ela, de forma extraordinária, torna-se mais atraente e mais dinâmica.
Hoje, vivemos um tempo no qual a Igreja é desprezada, e o Evangelho não tem valor. Basta observar o que acontece nas universidades, por exemplo: qualquer um que fale do amor de Cristo é tido como um ignorante da ciência moderna; no mercado de trabalho, falar dos valores do Evangelho é ser usado como exemplo de fracasso.
Podemos experimentar falar da verdade do Evangelho a quem vive o poder ou os prazeres do mundo, mas tudo parecerá um grande fracasso. Se mostrarmos a Cruz de Cristo para o mundo, ele ficará horrorizado, pois ela representa o contrário de tudo aquilo que este mundo almeja. Porém, a força do Evangelho e da evangelização está justamente no poder da Cruz de Cristo.
À semelhança do grão de mostarda, o Reino do Céu é misterioso como uma semente que, no interior obscuro da terra, germina e cresce sem que nós fiquemos sabendo. Isso porque, tão logo recebemos as palavras do amor de Cristo, elas começam a nos transformar desde nosso interior.
Sejamos práticos: temos de admitir que, quando Jesus nos tocou, foi uma experiência real e concreta; nós não sabemos dizer como isso aconteceu, mas em algum momento de nossas vidas, Ele nos tocou, como fez com São Francisco.
É comum que a maior parte das pessoas converta-se em momentos de grande dificuldade. Geralmente, quando estamos no fundo do poço, recebemos o milagre do toque de Jesus. Foi assim com Francisco de Assis: no cárcere, aquele jovem viu que tudo neste mundo é vaidade: viu o vazio das coisas terrenas e percebeu o quanto era tolo ao buscar a felicidade do mundo.
Na prisão, São Francisco viveu a mesma experiência do filho pródigo. E é o que ocorre também em nossas vidas. O mundo moderno incentiva-nos a pedir ao Pai nossa parte da herança e, sem rumo, sair para desfrutar dos prazeres da carne. O mundo rejeita o Evangelho, e quer independência para conduzir a vida do seu jeito. Mas quem assim vive, termina fatalmente perdido.
Como o filho pródigo desejou comer comida de porco, e São Francisco de Assis esteve na prisão, a maior parte das pessoas se converte depois de ter a experiência do fracasso. É Deus quem permite, porque Ele nos ama.
Quando o filho perdido está no mundo, seduzido pelos acordes dissonantes dos pancadões, ele não pode ouvir a voz de Deus, que fala no silêncio do nosso coração. Obviamente, Deus está no pancadão, no baile, na festa noturna; Ele está tentando falar com as pessoas ali presentes, porém há muito ruído.
Quando Francisco saía para guerrear, montado no seu caríssimo cavalo e ostentando uma bela armadura, Deus estava falando com ele, o tempo todo; mas Francisco não ouvia.
No entanto, aconteceu algo paradoxalmente maravilhoso: o Espírito Santo permitiu o fracasso do jovem Francisco. Temos, por fim, novamente a figura do galho arrancado, do grão de mostarda, da Cruz de Cristo: ao cair, a pessoa encontra-se consigo mesma.
No meio do fracasso, o filho pródigo — que antes gastara sua parte da herança com prostitutas e bebedeiras — percebeu que o mais miserável dos empregados do seu pai era melhor tratado do que ele, que estava na condição de pecador. E, por isso, decidiu voltar.
Eis o milagre do pequenino grão de mostarda; do ramo de cedro arrancado da copa da árvore. A verdade maravilhosa é que, quando plantado no monte em Jerusalém, esse galho, que é a Cruz de Cristo, torna-se uma árvore frondosa, que estende sua sombra sobre o mundo inteiro. Eis o mistério do Reino de Deus.
Por fim precisamos ficar imensamente alegres ao ver o quanto Deus cuida de nós — até mesmo nas desgraças. Deixemos que essa dinâmica extraordinária de Deus — que age por meio da pequenez do grão de mostarda — seja para nós fonte de felicidade.
Lembremo-nos de que Ele está preparando para nós, assim como prepara para as aves do céu, sob a Cruz de Cristo, um lugar no qual possamos nos abrigar e encontrar a verdadeira felicidade.
Deus abençoe a sua semana!