O Governo do Canadá criou, a partir de 1870, uma rede de «residential schools» (colégios internos) para promover a educação das tribos selvagens. Em bastantes casos, confiou a administração destes colégios a entidades externas, entre elas a Igreja católica. A última escola desta rede, que chegou a ter 130 colégios, encerrou em 1996.
Em 2015, uma investigação com ondas subterrâneas de radar revelou que 215 crianças tinham sido mortas e enterradas clandestinamente nos terrenos de uma destas escolas, a Kamloops Residential School.
O organismo criado pelo Governo para apurar o sucedido nos vários colégios internos contabilizou 3200 crianças mortas, mas o próprio responsável desse organismo, o Senador Murray Sinclair, informou que eram pelo menos 6000 crianças, e que o número provável seria de muitas dezenas de milhar. Os responsáveis pela investigação explicaram que estas crianças morreram de desnutrição e que, entre 1940 e 1960, tinham sido vítimas de experiências científicas que consistiam em privá-las de alimentos.
O Governo reagiu imediatamente com 33 milhões de dólares para financiar a descoberta dos corpos, esclarecer os crimes e compensar as tribos indígenas pela perda destas crianças.
O Primeiro-ministro, Justin Trudeau, prometeu todo o apoio do Governo Federal, o reforço do financiamento inicial e a realização de cerimónias de luto para honrar as crianças desaparecidas.
O Departamento dos Direitos Humanos das Nações Unidas urgiu o Canadá a fazer o possível para encontrar todos os cadáveres. A China pediu que o Canadá fosse condenado por atentado contra os direitos humanos.
O escândalo aumentou ao longo dos anos e a dotação orçamental subiu em flecha. Em 2022, foi o principal assunto de que os meios de comunicação se ocuparam durante a visita do Papa Francisco ao Canadá. O Papa pediu sinceramente desculpa pelo acontecido e pelas condições de pobreza dos colégios, escassamente subvencionados pelo Governo. (Ocupámo-nos desta viagem apostólica num artigo desta coluna intitulado «Kateri Tekakwitha», de 17 de Julho de 2022).
A morte selvagem de crianças indígenas levantou uma tal comoção no Canadá que os activistas defensores dos índios se acharam no direito de destruir 60 igrejas católicas. Alguns índios católicos protestaram por lhes queimarem as suas igrejas, mas os grandes órgãos de informação acharam a queixa irrelevante. Talvez até um discurso de ódio, por serem uma crítica implícita aos activistas justiceiros.
Hoje, 10 anos depois das horrorosas descobertas, o balanço de todas as pesquisas é zero cadáveres de crianças nos terrenos das «residential schools» e 320 milhões de dólares de financiamentos estatais. Não admira que o Governo de Justin Trudeau, quase a terminar funções, tenha decidido acabar com o financiamento, que assim termina com a última tranche em 31 de Março próximo.
É interessante compreender como uma prospecção incompetente desencadeou acusações atrevidas, que nunca foram confirmadas. Hipóteses mirabolantes engrossaram continuamente e ganharam o estatuto de verdades óbvias. E conjecturas, tomadas como certas, serviram de desculpa para violentas explosões de raiva.
Logo em 2015, quando os operadores do radar de ondas subterrâneas pensavam ter detectado 215 crianças enterradas clandestinamente, seria lógico escavar o terreno. Mas passaram-se anos, e mais anos, até que, quando finalmente meteram mãos à obra, em vez de desenterrarem centenas ou milhares de pobres crianças maltratadas, e atiradas cruelmente para terríveis fossas comuns,… não encontraram um único osso humano.
Sim, nenhum osso humano. Mas, entretanto, 60 igrejas católicas foram arrasadas pelos activistas enraivecidos e correram 320 milhões de dólares do bolso dos contribuintes para o bolso dos activistas.