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Blanca Wiethüchter: “… gostaria que você gostasse.”  

  • Maio 4, 2025
  • Cultura
  • Rosarita dos Santos

 

Blanca Wiethüchter López é uma poeta, ensaísta, docente e crítica literária que nasceu em La Paz, Bolívia, em 1947, e morreu em Cochabamba, sua terra natal,  em 2004.

Em nosso país, pouco se conhece sobre esta poeta, o que exatamente provoca a curiosidade que nos proporciona conhecer sua obre poética. Seus pais eram imigrantes alemães, ela se formou em Letras pela Universidade Superior de Santo André, a principal universidade boliviana, e após dedicou-se às Ciências da Aprendizagem pela Sorbonne, na França, onde ela obteve um mestrado em Literatura Latino-Americana, na Universidade de Paris.

Blanca foi editora do suplemento cultural “A formiga elétrica” (“La Hormiga Eléctrica”) ​​das revistas literárias “Hipótese” e “Pedra magnética” (“Hipótesis” e “Piedra Imán”) .

Ela atuou como diretora editorial de “Homenzinho sentado” e “Mulherzinha sentada” (“Hombrecito sentado” e “Mujercita Sentada”); e foi cofundadora do espaço cultural “Puraduralubia”, em 1993.

Ela lecionou na Universidade Católica da Bolívia e na Universidade Superior de Santo André, também nesse país. Wiethüchter foi casada com o compositor Alberto Villalpando, e tiveram três filhas. Sabemos que a autora morreu em Cochabamba, e suas cinzas foram espalhadas no Lago Titicaca.

Em 2024, em coordenação com o Goethe-Institut de La Paz e os herdeiros de Wiethüchter, quatro editores independentes publicaram os seguintes textos: Editorial O Corvo (“Editorial El Cuervo”): “Madeira viva e árvore defunta” e “Anjos do medo” (“Madera viva y árbol difunto” y “Ángeles del miedo”, Poesia; Editorial novo Milênio (“Editorial Nuevo Milenio”): “Assistir ao tempo” e “A lagarta” (“Asistir al tiempo” y “La lagarta”), Poesia; Editorial Louva-a-Deus (“Editorial Mantis”): “O jardim de Nora” (“El jardín de Nora”), Romance; Editorial Dum Dum (“Memoria solicitada”), Crítica literária e Memórias (Crítica Literaria y Memorias).

Quanto ao acervo de poesias da autora, contamos com aproximadamente vinte coletâneas, desde 1975 até 2005; os contos são três, a partir de 1989 a 1993; encontramos um romance, em 1998; os ensaios se expressam em três, inicialmente em 1976 até 1997.

Numerosos são os estudos sobre o trabalho de Blanca: devido a sua relevância, a obra da autora gerou uma bibliografia crítica considerável; os mais relevantes estão incluídos em aproximadamente vinte compilações, de 1995 a 2017.

Agora, aproveitamos um pouco da poesia da autora. Primeiramente, “Fora de tempo”: ‘Apenas a loucura persistente das chamas / encoraja você a continuar a jornada / lá, onde elas vivem sensíveis / as sombras / e atrasa escurecendo / a linguagem. / 1. / Eu contemplo a fogueira / subir como uma montanha / pacientes as chamas / lambem azuis tua madeira / envolvem-no / racham / absorvem / salamandras sensuais se agitam / celebrando a festa da chama. / Sim, é certo, / eu vivo na linha de fogo que me queima / na paragem do instante que sobe / até onde eu desconheço. / Um alegre sopro de palavras me sustenta / alucino na cinza o cume / o devoto, o antigo, o pálido descanso. / 2. / Eu me procuro no tempo / corcel a memória / galopa campo adentro. / Uma abóbada de ar é o passado / uma caverna invisível / povoada de claro-escuros / Onde está o fio? / Uns olhos que param de olhar / a casa guardada por pinheiros erguidos. / Lábios que falam palavras / em sua língua antiga. / Nomes de gatos perdidos em um quintal. / Mãos acariciando corpos perdidos. / Eu me  procuro no tempo / Onde está a linha imaginária? / Lá reside Yánez, o português / habitando o limiar da aventura. / O mendigo que queria me comprar, / na porta de um medo claro / dissipado. / Lá, a rainha de Sabá / aquele desejo sensível por tules e sedas / e na ilha de If / a vida que nos testa. / E o conde, tão pródigo o conde em meus amores. / Mompracem, apenas um mundo querido, / jamais foi / um exército de vagalumes / ainda me nublam os pensamentos / eu sinto, agora mesmo, a chama / que me força a experimentar o vazio. / Tudo me pertence / nada é meu / Não sou e sou a pedra que une os fios / não de um caminho / mas de um labirinto / ração de sono / de fábula / de ficção perpétua. / Eu me procuro no tempo / uma menina de frente para o mar / – ai do horizonte infinito – / pega a pedra de aflição / sem saber que acendia / a trama / uma invenção de Cassandra / um olhar navegante. / 3. / Se na eternidade / não és senão um relâmpago / um peixe perdido na grande noite / uma aranha melancólica no dia minúsculo / qual é a gratidão? / – me indagou uma sombra. / O fogo me inclina – disse / o desejo de viagem e escada / subir ao mar e descer ao sol / para deslumbrar a alma / com razão sexual / e merecer morrer / pelas mãos da morte. / O fogo me inclina – disse / esta paisagem que se eleva / em alta estirpe de neve / escondida de si mesma / na metade do sol / quieta na maré de luz / repousada sob as sombras / não de árvore / de nuvem / não de folha / de céu / no meio da lua, / recolhida / sempre indiferente ao olho comovido / que olha mudo o silêncio que lhe vê. / O Altiplano não é o mar / a palha selvagem não é a espuma / porém me inclina / fervorosa / sua redobrada beleza.’

Segundo: “O repouso”: ‘entro em minha casa / e fico em seu centro / esperando a temperatura / que silencia ruídos inúteis. / em um andar do silêncio / o mundo começa / com cheiro de fogo / em uma folha / em uma mudança de lençóis / no desejo de fazer coisas / nem sempre precisas. / já não sou a mesma / e meus passos na voz / ressoam mais escuros. / outro é o sol que queima / nos crepúsculos que contemplo / viajante imóvel / penso / quero apenas cuidar do que está vivo / e ter luz / para ele / e minhas meninas.’

Terceiro: “[Tenho apenas este corpo] / (fragmento) / Tenho apenas este corpo. Esses olhos e essa voz. / Essa longa jornada de sono cansada de morrer. / Conservo o temor ao crepúsculo. / Sem que se comunique com ninguém. / Por causa de meu modo de andar / algo descoberto esperando um pouco / mudo de ideia frequentemente. / Comigo não posso viver segura. / Habito um jardim de palavras / que deixaram de me nomear / para nomeá-las. Não me atrevo pois é preciso ser dito. É um segredo. / Na verdade, somos duas. / Agora devo inventar a outra.’ Blanca Wiethüchter López nos seduz pelas palavras, suas “chamas“ “continuar a jornada lá, onde elas vivem sensíveis”, e mais adiante nos permite o “repouso” em nossa “casa”, e finalmente, espalha todo nosso “segredo” poético. Blanca já se expressara, antes, perguntando se “… gostaria que você gostasse.” A nós de respondermos.

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