No dia 11 de fevereiro de 2013, o mundo foi surpreendido pelo anúncio feito pelo Papa Bento XVI: renunciaria à Cátedra de Pedro. A renúncia foi efetivada no dia 28 de fevereiro, quando o Papa deixou os aposentos papais. “A vontade de Deus é sempre boa, perfeita e agradável, mas nem sempre é fácil obedecê-la, visto que somos vacilantes e “fazemos o mal que não queremos e não fazemos o bem que queremos”, como diria São Paulo (cf. Rm 7, 19)”.
No livro-entrevista “Conversas Finais – com Peter Seewald”, Bento XVI fala sobre tudo, desde a infância, passando pelo Concílio Vaticano II até chegar à renúncia e ao silêncio no convento Mater Ecclesiae, onde passou a viver ao tornar-se bispo emérito de Roma.
Os acontecimentos marcantes do seu mandato também são abordados, assim como a memória da sua família, a relação com aqueles que foram em vida os seus principais companheiros de “viagem” e as questões prementes em torno do futuro da Igreja Católica Romana.
Em todo o livro é possível perceber o grande desejo do Papa Emérito em agradar ao coração de Deus e fazer somente a Sua Divina Vontade. Nem todas as decisões foram ou são fáceis para ele, como no caso da renúncia ao papado, mas isso não o impede de seguir o querer d´Aquele que o chamou.
É de salientar nesta obra a elegância, o modo como o autor respeitosamente apresenta as questões e a singeleza e emoção, com que o Papa emérito responde a cada pergunta.
Ao iniciar o capítulo sobre a renúncia, Peter Seewald questiona o Santo Padre:
“Chegamos àquela decisão que, por si só, faz com que o seu pontificado já pareça histórico. A sua renúncia marca a primeira vez na história da Igreja em que um pontífice em pleno exercício da sua função deixa voluntariamente o cargo (…) Já em 2010 declarou no seu livro ‘Luz do Mundo’: ‘se um papa não estiver em condições físicas ou psíquicas de exercer o seu mandato, tem o direito, e às vezes até mesmo a obrigação, de abdicar de sua tarefa’. Ainda assim, houve forte conflito interior para chegar a essa decisão?”.
Bento XVI inicia a sua resposta com um profundo suspiro e diz:
“Claro, não é tão simples, naturalmente. Nenhum papa renunciou nestes mil anos, e isso também foi uma exceção no primeiro milénio: então, é uma decisão à qual não se chega com facilidade. (…) Por outro lado, para mim, a evidência de fazê-lo na época era tão grande que não houve nenhum conflito interior doloroso naquele momento. A consciência da responsabilidade e da gravidade dessa escolha, exige um discernimento contínuo e escrupuloso, também diante de Deus e de si mesmo, isso sim, mas não é que me tenha deixado, por assim dizer, em frangalhos”.
O jornalista questionou também o Papa Emérito sobre:
“Como foi o seu encontro com Putin?
Foi interessante. Conversámos em alemão. Ele fala perfeitamente o alemão. Não aprofundámos muito, mas acredito mesmo que ele, sente, de alguma forma, a necessidade da fé. É um realista e vê que a Rússia padece de uma destruição moral. Mais, como patriota e alguém que quer voltar a fazer da Rússia uma grande potência, ele sabe que a destruição do cristianismo ameaça destruir a Rússia. O ser humano precisa de Deus. Ele vê isso claramente e tenho a certeza de que isso o toca bem no seu íntimo. Também agora, quando ofereceu o ícone ao Papa Francisco, primeiro, fez o sinal da cruz e depois beijou o ícone…”
Conversas Finais é sem dúvida um livro essencial para se poder compreender a grandeza de vida do Papa Emérito Bento XVI, desde o seu nascimento até à renúncia ao cargo mais elevado da Igreja Católica.