Quando chegou uma tribulação de saúde sem sequer bater à porta a pedir licença para entrar, aprendi que tinha duas maneiras de reagir: aceitava e lutava ou desanimava e barafustava com todos os que me apareciam à frente. Médicos incluídos. Resolvi escolher a primeira. “Cruz, trabalhos, tribulações: tê-los-ás enquanto viveres. – Por esse caminho foi Cristo, e não é o discípulo mais do que o Mestre”. (Caminho – 699)
Após assentar os pés na terra, percebo que tinha de arregaçar as mangas e ir à luta. Foi aí que percebi que não ia fazer este caminho sozinha. Tanto aqui em baixo como lá por cima.
Numa primeira etapa, senti uma onda de um amor que não esperava encontrar. Um Amor que tanto vinha de perto, do marido e das filhas como pelos amigos e dos amigos dos amigos. Era um Amor materializado em orações. Hoje sei que foram muitas as orações. E, se estou cá a escrever estes parágrafos a todos agradeço principalmente, a Nosso Senhor por me dar mais uma oportunidade.
Não vale a pena recordar o passado. Afinal, esse já lá vai. Nem tão pouco antecipar o futuro. Será que queremos saber como será? Por isso mesmo, durante os tratamentos, adotei a disposição de viver um dia de cada vez. No coração ecoava: vive o presente, faz do hoje o último dia. Põe tudo nele, aplica-te com todas as tuas forças. Quando te deitares a descansar podes dizer: missão cumprida, agradei a Deus. “Porta-te bem “agora” sem te lembrares do “ontem”, que já passou, e sem te preocupares com o “amanhã”, que não sabes se chegará para ti.” (Caminho – 253)
Depois, quando os sons das máquinas zuniam ao meu ouvido e começava a ouvir: não respire, era aí que começava a rezar. De forma simples como uma criança. Muitas Avé Marias e Pai Nossos rezei, todos seguidos sem parar. O tempo, esse nem dava por ele passar. Nesta experiência descobri que a oração pode ter frutos. Que o sofrimento não é em vão. Alcancei a paz de que tanto precisava e com ela a alegria que queria transmitir aos outros, aos meus mais queridos: à minha família. Quantas vezes dava por mim a pensar: Jesus sentiu uma dor muito maior; aguenta, São!
Hoje à distância parece pouco mas levou um ano este caminhar. Claro que ficam algumas sequelas. Mas, até servem para lembrar como fui feliz na dor. Parece estranho dizer estas palavras. Mas, é a verdade real. Imaginem-se num retiro onde o nosso tempo está para Ele. Onde a nossa intimidade com Ele enche-nos de um calor ardente, de uma paz inexplicável e de uma alegria sociável que sentimos pena quando temos de regressar a casa.
Só posso dizer que não anseio pela Cruz, mas testemunho que foi um tempo de proximidade com Ele.