Este período poderá ser uma boa altura para nos reencontrarmos, connosco e com os outros, com a nossa matriz de valores, com a nossa família, com a nossa vida profissional e social.
Este retorno à simplicidade e pureza, com que nos entregámos aos nossos projectos familiares e profissionais e dos quais nos teremos afastados sem nos apercebermos, ou racionalizando desvios.
Este retorno aos sonhos, que foram a força e a crença para ultrapassar barreiras, dores de esforços infinitos, numa loucura cheia de afecto.
Este retorno à objetividade e pragmatismo, com que eram confrontadas as etapas de um tempo, onde não havia espaço para o desânimo ou desistência.
Este retorno em que nós olhávamos para nós e para os outros, de forma mais tolerante, afectiva e leve.
Este retorno, que não será um saudosista regresso ao passado, mas um acreditar revitalizador, de em tempos diferentes, nós termos a coragem e o sonho de continuar os nossos sonhos, envolvidos pela cultura moral que consolida a nossa força lutadora.
Este retorno ao estar com os outros, amigos e colegas, que não se zangam, só amuam, e a capacidade regenerativa com que tudo era ultrapassado, era desejado ser ultrapassado e para isso contribuíamos.
Um retorno à sobreposição da afectividade sobre a racionalidade, com a ousadia de uma entrega firme e amorosa, despida de qualquer condicionalismo justificativo ou limitador.
Ao tentarmos melhorar o nosso modelo vivencial, optimizando-o, enriquecendo-o, criámos uma saturação asfixiante em que já não nos vemos a nós, nem aos outros, nem ao modelo, que numa névoa, se foi esbatendo.
A comunicação perdeu-se.
Tudo está diferente, os outros estão diferentes, nós próprios também estamos diferentes, mas não sabemos, porque os outros não nos dizem, ou se dizem, dizem coisas más, afastam-se, e quem nos diz ainda algo, somos nós, mas de forma egoísta, egocêntrica, narcísica e até racionalista. Rapidamente chegamos há conclusão que estamos sós e ainda acentuaremos mais o nosso isolamento.
Passámos a acreditar que estamos no caminho certo, tristemente já tão desviado do Eu de cada um de nós. Ser solitário, perdido num mundo infinito.
Não, viemos para estar com o outro, dentro da matriz original.
Encontrar o outro é comunicar, temos de comunicar, temos de não ter medo, temos de ultrapassar preconceitos e racionalidades bloqueadoras, temos de acreditar na regeneração e adaptação das pessoas e das circunstâncias, temos de acreditar que o impossível será possível, temos de acreditar que os tempos, não são os nossos tempos, temos de ser infinitamente tolerantes e caridosos, temos de ir ao encontro do outro, mesmo quando é fonte de dor, temos de aceitar o outro como ele está, como nós miseravelmente também estamos, pois só assim nos encontraremos e seremos amados, amarmos o outro com dor, nos bons e maus momentos, a dor da tristeza e a dor da alegria, a dor do Amor.
O Amor, doce brisa que passa, neste tempo que flui tão depressa.