No nosso tempo de juventude a cidade oferecida poucas opções de lazer e diversão. Tirando o cinema e o clube, pouco restava. Isto nos fins-de-semana. De segunda a sexta, não tínhamos permissão para sair. Ficávamos em casa, estudando e fazendo os temas (sempre de 3 a 4 temas diariamente). Quando surgiu a televisão a coisa ficou mais divertida.
Durante as tardes, de todos os dias da semana, sempre era possível jogar-se uma partida de futebol. Bastava encontrar uma bola (essa era a grande dificuldade). A “redonda” custava caro e poucos podiam comprá-la. Eu sempre fui ruim de bola. Sobrou-me a posição de goleiro (que ninguém queria). Creio que só jogava porque era o dono da bola.
Nas noites de sábados, quando não havia baile ou boate no Riograndense, partíamos para os bailes no interior. Eramos fregueses do Salão do Faxinal, com bailes em praticamente todos os sábados. O dificil era encontrar uma condução. Pouquíssimos os pais que tinham carro o emprestavam ao filho – raros tinham a carteira estadual de motorista, outro inconveniente.
Sempre havia uma alternativa. No nosso caso a locação da Kombi do Polenta. A negociação era um problema. Antes de fechar a corrida, o Polenta queria saber se tínhamos dinheiro. Não bastava dizer; tinha que mostrar. Qual o local do baile e o horário da volta. Tudo sob compromisso de não fazermos esculhambação dentro do veículo. Depois da promessa e da oferta de uma caução, seguíamos para o baile, logo depois da sessão das oito.
Entrar no salão era outra aventura, quando cobravam ingresso na entrada. A maioria dos salões só cobravam de quem dançasse. O cobrador ia no meio do salão, entre uma dança e outra, colocava uma fitinha e cobrava o valor correspondente. Na nossa turma, dois ou três dançavam e pagavam. Depois passavam a fitinha aos outros, para que também pudessem dançar. Assim saia bem mais barato.
Como disse, o dinheiro era curto e bem contadinho. O maior interesse num baile no interior era a comida típica alemã. Muitas vezes não dava para jantar. A solução era comer cuca com lingüiça fervida, acompanhada de chucrute e salada de batata.
Evidente que a cerveja não podia faltar. Por isso os dinheiros eram somados com antecedência. Sentávamos na grande mesa, onde a refeição era servida, já quase no horário de irmos embora; era uma questão estratégica. Pedia-se a comida; uns com maior, outros com menor fome. Mas num baile de antigamente, qualquer que fosse a comida, sempre era suficiente para alimentar um e com sobra o acompanhante perú, sem dinheiro.
Acontece que o comer no porão, ao lado da cozinha, sempre propiciava um espaço para fuga, sem pagar. Lá embaixo, num lugar circundando o salão, ficava o tanque, muitas vezes natural, com água para as moças e senhoras lavarem os pés, depois de uma caminhada pela terra de tabatinga.
Isto deixava uma abertura e muitos, dos sem dinheiro para pagarem a janta, escorregavam por aquele espaço e ganhavam a rua. Mas os organizadores do baile, já por previdência, supriam o prejuízo por outra fonte.