Imagem da internet (BBC)
“Uma ideia falsa, mas clara e precisa, terá sempre mais poder no mundo do que uma ideia verdadeira mas complicada.” (Tocqueville).
O tema da pedofilia na Igreja Católica, tem sido exaustivamente abordado, em debates públicos e privados, por letrados e iletrados, numa natural e legítima reação de perplexidade por um ato, que a todos nos revolta, e pela ideação pessoal que cada um fará de tão inimaginável e cruel comportamento.
As reações pessoais ou coletivas, expressas de modo impulsivo, exaltado, ponderado, critico ou tolerante, serão naturais expressões de uma indignação condenatória generalizada, aos intervenientes em tais situações, padres e outros elementos da Igreja Católica.
A Igreja, pela dimensão e intensidade do choque provocado, reagiu com desorientação, desorganização, e com perplexidade por tal mediatização, criando condições para que com uma inabilidade manifesta em estruturar, confrontar e expressar adequadamente a sua reação a este flagelo, de que se retratou, e originando uma dispersa, descoordenada e heterogénea multiplicidade de declarações, atitudes, justificações ou silêncios, protagonizadas por alguns dos seus mais representativos elementos.
Os procedimentos na abordagem avaliadora a ter em casos deste foro, terão que ter um enquadramento temporal e suas circunstâncias, as especificidades envolvedoras e a caraterização dos intervenientes, exigindo prudência na sua conclusão e divulgação, aspetos que adequada ou inadequadamente, a Igreja terá aplicado, dando apoio e promovendo o afastamento nas situações detetadas, num passado em que estas situações, não tinham um contexto de compreensão e respostas, estruturadas.
Expondo-se, e bem, a hierarquia da Igreja, após as inquietações iniciais, compreensíveis, na procura de extirpar os elementos abusadores do seu seio, manifestou total adesão para que fosse escrutinada, por elementos da sociedade civil, com a criação da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as crianças na Igreja Católica Portuguesa.
A natureza deste tipo de trabalho, tem uma dimensão inimaginável, pela sensibilidade do tema, pela rudez dos factos, pela heterogeneidade dos comportamentos envolventes e pelas circunstâncias temporais do contexto social e familiar do abusador e do abusado.
A abordagem das vivências traumáticas e suas repercussões, pelos abusados e a constatação do seu sofrimento, não terá deixado de marcar, também, emocionalmente os entrevistadores.
Com eles ficarão as memórias de tais partilhas.
Tarefa exaustiva, em tempo reduzido, que terá exigido muita e generosa entrega e dedicação.
Apesar da respeitabilidade técnica dos componentes da Comissão e pela dedicação e esforço manifestado, despoletou-me, contudo, um conjunto de interrogações, que também existiriam, se a abordagem deste problema fosse em qualquer outra instituição envolvendo crianças menores, por me parecerem pouco coincidentes com o seu diferenciado estatuto profissional.
Como foi possível com objetividade e rigor, num espaço de tempo tão curto, avaliar e concluir, com especificidade e verdade um facto, denunciado anónimamente, com expressões e interpretações diversas, a sua intencionalidade, a natureza do abusador e do abusado e as suas estruturas emocionais e requerendo a confirmação e perceção dum contexto que possui inúmeras variantes envolvedoras?
Como foi possível extrapolar exponencialmente, situações de casos prescritos, casos não denunciados, casos denunciados sem consequências, casos ainda não provados, casos projetados por logaritmos, estigmatizando os padres referenciados, denegrindo e lançando uma imagem de suspeição generalizada sobre os sacerdotes e a estrutura da Igreja?
Como foi possível que tendo na constituição da Comissão um ilustre Juiz, não tivesse havido a prudência, exigência, de na procura de um potencial ilícito criminal, feito por uma pessoa, denunciada anonimamente, salvaguardar a presunção da inocência, e a previsível generalização mediática, maioritariamente tóxica para o apurar da verdade dos factos?
Como foi possível que tendo a comissão, dois ilustres e reputados Psiquiatras, se tivessem permitido a uma narrativa tão abrangente e generalista, incluindo sugestões e opiniões, inquinando o tema, sobre o que a Igreja deveria ou não fazer em relação a outros aspetos, mediaticamente aproveitados, quando os factos e a narrativa feita sobre eles, requereria atenta, cuidadosa e profunda reflexão, numa observação em que a componente psicológica está tão presente?
Como foi possível não se ter explicado, que a pedofilia é uma doença, sempre com um contexto de relacionamento com crianças, mas que tem expressões distintas?
Os abusadores são doentes, que não têm cura.
Uma medicação adequada e um apoio psicoterapêutico, pode atenuar os seus impulsos, é a ajuda que a medicina pode facultar, assim como o alertar para o imperioso afastamento de contatos com crianças.
Como em outros crimes praticados por doentes mentais, a justiça avalia e condena, mas a atenuação da pena e o tratamento, são tidos em conta, na sentença.
Como foi possível que se tenha centrado a narrativa mediática e não só, no apoio à vítima e não se aborde o apoio ao criminoso doente, que preso mais ou menos anos, a possibilidade de rescindir é significativa, apesar de haver uma diminuição em idades mais avançadas?
Como é possível não reconhecer que atualmente, o premente e necessário apoio à vítima e ao agressor, é deficitário pela pouca ou inexistente rede de serviços e de técnicos com formação específica?
Como é possível, que não se tenha tido em consideração o que já aconteceu em tempos recentes, as consequências provocadas por falsos testemunhos, desmascarados e provados?
Qual será a reparação para o falso acusado, que ficará sempre com o estigma de suspeito abusado? Como se restabelecerá psicologicamente? Que retomará a sua vida eclesiástica, entretanto destruída?
Que preço terá está esta reparação pessoal e a da Imagem da Igreja, que tanto dá a tantos?
Como foi possível a inundação mediática, numa dispersão desconexa, sobre este tema, sobre o casamento dos padres, sobre a ordenação das mulheres, e outros da competência da Igreja, feita por comentadores, articulista, políticos, altas entidades governativas e pasme-se, por cristãos progressistas que “querem ajudar a Igreja” …, cuja posição que têm sobre o aborto, eutanásia , entre outros temas, não são coincidentes com os Ensinamentos Católicos?
Como é possível exacerbar este assunto, permitindo uma tal dimensão, se há relativamente pouco tempo, uns tantos, procuraram abafar, condicionando um processo judicial com temática semelhante, existindo já correntes ideológicas, que defendem a normalização da pedofilia…
A pedofilia é um problema transversal a sociedade.
O crime de abuso sexual por um pedófilo é hediondo.
A vítima tem de ser apoiada.
O abusador tem de ser punido e apoiado.
O pedófilo é um doente que não tem cura.
A pedofilia existirá sempre.
A igreja com a crença, na prática do bem
A justiça com as leis, na aplicação da justiça
A medicina com a caridade, para todos ajudar
Aprofundar as dimensões humanas e heroicas de tantos, a essência e os valores do seu sentido de vida, sabendo que o bem e o mal coabitam.
O outro, criminoso ou vítima, poderá ser um de nós.