E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José? (…) – Carlos Drummond de Andrade
Meus sinceros cumprimentos aos meus leitores. Não busco reviver o passado; tão somente alicerçar minha coluna na história do tempo de antigamente, da qual muitos foram protagonistas. Por agora, busco contar coisas que aconteceram em um tempo muito anterior ao nosso nascimento.
O Jornal O Progresso, editado na primeira quinzena do mês de outubro, noticiou efeméride de singular significado, tendo por data o dia 03/10/1931. Neste dia nossa cidade acordou ao som de música e repicar dos sinos; comemorava-se o primeiro aniversário da Revolução de 1930, marco do fim da Velha República e início de um novo período na história do Brasil. A luta armada culminou com a deposição do presidente Washington Luís e a ascensão de Getúlio Vargas ao cargo maior da república.
O episódio armado faz parte da nossa história e as instâncias da Internet o relatam pormenorizadamente. Como contador da história local, cumpre guardar as dimensões dos acontecimentos cá entre nós. Por isso a singularidade da festa, comemorativa ao primeiro ano da Revolução de 1930.
Abro um parêntesis: pelos dias que correm, o Governo Federal determinou o encerramento das escolas cívico-militares. Em alguns estados da federação, Governadores resistem em acabar com tais escolas; mantendo-as, terão que arcar com o seu custo. Agora retomo o meu relato, para mostrar uma realidade ao tempo de 1931.
No dia 3 de outubro daquele ano, no horário das 5h, aconteceu a alvorada festiva no Tiro de Guerra 87. A banda de música do Maestro Gustavo Koetz, defronte ao Palácio Rio Branco, executou hinos patrióticos. Eram 8h e no Mausoléu fronteiro ao Colégio Elementar 14 de Julho, o Prefeito Carlos Gustavo Jahn, com a presença do representante do General Flores da Cunha, Interventor do Estado, ocorreu cerimônia festiva com discursos e início do desfile patriótico.
Após a passagem dos integrantes do Tiro de Guerra 87, desfilou garbosamente, pela primeira vez, a COMPANHIA DE GUERRA INFANTIL, integrada por alunos do educandário. Após, na Igreja Matriz, para onde seguiram, teve lugar a cerimônia de batismo da Companhia Infantil, que recebeu o nome de Flores da Cunha. Paraninfou o ato o professor Antônio Machado da Rosa.
Seguiu a Missa de Réquiem, em homenagem aos mortos no episódio revolucionário. A missa foi oficiada pelo padre Felippe Marx. Seguiu desfile pela Rua Ramiro Barcelos; a companhia infantil de guerra foi comandada pelo sargento-instrutor Antônio Borba dos Santos. A festa terminou no quartel do Tiro de Guerra, com champanhe distribuída aos presentes.
O objetivo da coluna é deixar evidente a existência e preparação de alunos do Colégio Elementar na área cívico-militar, já ao tempo de 1931 … A companhia seguiu por um bom tempo depois. Os primeiros alunos da Companhia Infantil de Guerra Flores da Cunha receberam instrução do Atirador do T.G.87, cidadão Crescêncio Goulart, muito elogiado pelo sucesso da nova corporação.
Na semana seguinte à solenidade, nossa cidade recepcionou os integrantes do Tiro de Guerra de S.S. do Caí e da Escola de Tiro do Colégio de Bom Princípio, que vieram participar de grande competição esportiva com o T.G.87 e Companhia Infantil de Guerra, locais. As provas eram de atletismo, como corridas a distância, saltos, maratona e outras…
Nesse evento aconteceram provas especiais, as quais até desconhecia, como a CORRIDA DE CENTOPEIA. Os corredores deslocavam-se pelo chão, imitando uma centopeia – demonstração de suas habilidades motoras. Também lançamento de dardo (uma lança arremessada à distância). Os vitoriosos mereceram valiosos prêmios.
E agora José? O tempo passou; a nós resta o recordar e contar a história de um tempo daqueles que nos antecederam. A luz apagou, a noite esfriou … Ficou a lembrança.