No rescaldo das eleições que desarrumaram a Europa há quem pense que de tantas crises em Portugal, Europa e no mundo, a maior é a crise de maturidade das pessoas, políticos, governantes e outras pessoas que andam por aí. Bem, mas se é isso, explique-se o que é a maturidade nas pessoas. Nas crianças, não, são crianças; e nos adultos, há? Um jovem se cresce e se desenvolve atinge a maturidade de um adulto, dizem alguns, outros não concordam que idade signifique sempre maturidade.
Há maturidade num adulto? Perguntem a 20 pessoas e talvez nem duas respostas sejam iguais. É sensatez e idoneidade para missões de responsabilidade, para consigo e, ainda mais, para com os outros. Haverá? Este cumprimenta outro: está tudo bem contigo? E recebe a resposta: está tudo bem se eu estiver bem comigo e contigo, e tu comigo; e eu com a minha família e tu com a tua, e com as pessoas da tua rua e as pessoas desta rua com as pessoas da outra rua, e…
Maturidade será qualidade de quem é adulto? Nem sempre. A maturidade, seja lá isso o que for, é admirada nas pessoas? Os dicionários dizem que maturidade é atingir a fase plena da vida, a perfeição. E são essas pessoas as admiradas ou são as pessoas importantes por serem poderosas, ricas, famosas, grandes sumidades nos festivais e espetáculos, negócios de sucesso porque dão muito dinheiro? Tanto que nem se consegue contar.
Maturidade parece ter parentesco com ser equilibrado e dar prioridade ao essencial o vale já agora, sempre e para sempre; o secundário vale menos, pouco, e por pouco tempo. Mas o prejudicial não entra no jogo da maturidade. Maturidade avalia-se pela colaboração positiva com todos para o bem de todos. Outra noção afim é a ornamento de sabedoria face ao feio da imaturidade: esta parece rimar com estupidez. Integridade moral, deixem passar moral, palavra tabu, ela liga bem com maturidade, mas infelizmente está fora de moda e arredia de muitas pessoas que governam o mundo. Pessoa integrada, unificada entre o interior e o exterior, o ser e o parecer, está a caminho da maturidade; e num mundo de tantas personalidades divididas, para não dizer esquizoides, tais pessoas íntegras, políticos e pessoas-toda-a-gente são raridade preciosa.
Maturidade tem a ver com inteireza, (wholeness, do inglês, com holisticidade, desculpem o neologismo), e ainda não chegámos a outros termos, o de sanidade muito chegado a santidade, mas esta qualidade nobre, para sociedades que cultivam a imaturidade de extremismos, destruição e inverdade, soa a beatice.Santidade é conceito recalcado, reprimido, cancelado nas conversas como conversa inconveniente, mesmo no mês dos santos populares nos quais alguns veem mais as exterioridades galhofeiras que a verdade e santidade a sério. Ignora-se a sua coerência de vida pessoal, de relações de estar bem com todos, de se relacionar bem com Deus, o Santo, como pecadores que se arrependem das falhas e pecados, e O amam e amam os outros como a si mesmos.
Recorramos, então, aos psicólogos e usemos os seus sinónimos, que não são menos exigentes que a santidade sem beatice e hipocrisia. Maturidade não vale dois cêntimos, dirão eles, se não for regida pela coerência e consistência estudada, e bem, por Carl Rogers; que são harmonia do ser pessoa que se abre para o amor incondicional. Coerência é um benéfico fármaco para a vida infestada de contradições, hipocrisias, mentiras e agendas e vidas duplas ou triplas, que levam a clamat: corrução, corrução! Mas também se poderia dizer: podridão, podridão! A que torna as maçãs impróprias para consumo, e as pessoas, para o bem comum; em vez de maduras de maturidade sadia, passam a sorvadas e podres. Há pessoas corrompidas, mas os que falam e escrevem não gostam de usar a palavra podres, talvez, por haver o risco do cheiro a azedo.
Há tantos promotores de ecologia saudável aplicada aos rios, mares, florestas, ar, clima, e pouco à mente e coração das pessoas. Imaginem um partido de ativistas aplicado a promover a limpeza das sociedades meio apodrecidas de ideologias balofas, raiz de violências, feridas a sangrar e guerras odientas a matar. Que trabalheira am ter! Perguntem aos santos populares e aos seis patronos da Europa, não menos santos e alegres; e talvez menos populares, se eles atingiram a maturidade ou só o populismo galhofeiro em que os metem em muitos festivais. Eles dirão que foram alegres e espalharam alegria, mas viveram e seguiram a sério, a prioridade dos exemplos do seu Mestre e Senhor, com amor incondicional sem aceção de pessoas ou odiozinhos de estimação. E dirão, ainda, que para eles a maturidade e coerência estavam mais chegadas à santidade de vida que à popularidade de mau gosto. Santo António, S. João e S. Pedro partilhai a vossa santidade com quem a celebra!
Funchal, Tempo dos Santos populares