UM TEMPO, UM ENCONTRO
A DESPERTAR SENTIMENTOS
NO VAI-VEM DA VIDA
DO IMPROVISO, O AMOR ACONTECE.
Somos seres ao anoitecer da vida, alimentados por lembranças dos acontecimentos ao longo do caminho; fomos peregrinos, repletos de esperanças, profetizando a largueza do porvir. Os que viveram, em plena intensidade, as festas juninas, as fogueiras e os rojões. Se digo fomos é porque no tempo real elas já não acontecem como dantes. E, mesmo que acontecessem, será que ainda pularíamos uma fogueira?
Fomos as crianças, em “chiqueirinhos” guardadas, brincando com bonecos de madeira e as singelas bonecas, do rosto enlouçado e corpo de pano. Aprendemos a ouvir e repetir, sem ao menos saber o significado; como era bonito olhar os adultos sorrirem a qualquer trejeito da imberbe criança.
Fomos os pequenos, cedo aprenderam a dar os primeiros passos ao descortinar do espaço disponível; durante a infância, a nós outros tudo foi possível: correr pelo pátio da casa, brincar na calçada e jogar bola na rua, visto o ínfimo número de carros eventualmente a passar. O mundo nos era largo e doce a ilusão do porvir.
Fomos os estudantes, em brancos guarda-pós, a subir a lomba da Igreja, em direção ao Grupo Escolar 14 de Julho. Os que comeram a sopa, preparada pela dona Anália e Josefina, sempre muito apetitosa. Brincamos, jogamos e tentamos namorar no grande pátio do educandário. Fomos os que garbosamente desfilaram pela rua principal, homenageando os vultos históricos de nossa Pátria.
Fomos os ginasianos do São João, Jacob Renner e São José, a correr por novos espaços, frequentar diferentes bancos escolares e desconhecidas matérias, como o latim e francês. Confissões, missas e festas dos padroeiros Marcelino José Bento Champagnat e São João Batista.
Fomos os adolescentes frequentadores assíduos da praça, negociantes de gibis na banquinha do seu Osvaldo, os que esperavam pelas moças, na saída do Colégio das Freiras. Os que compraram fatiota na Loja Renner e vestiram camisas Volta ao Mundo; calçaram sapatos, que invariavelmente causavam bolhas no calcanhar, quando novos. Sem esquecer das calças boca de sino e dos cabelos compridos.
Fomos os que dançaram nas reuniões em casas de famílias, compraram discos no Coussirat, com uma bela eletrola em casa. Frequentadores das matinés e vesperais nos cinemas da cidade; compraram pipoca das carrocinhas do seu Acácio e balas do Bebeto nas bomboniéres dos Goio-En e Tanópolis.
Namoramos, casamos e fomos pais; aprendemos as mais diferentes posições; por largos anos trabalhamos até a aposentadoria. Hoje, a largueza do mundo encurtou; o tempo joga conosco, em permanente equilíbrio na corda bamba. Hoje o TEMPO importa e a sua passagem, a cada cumprimento, limita o tempo ao horizonte.
“A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa./Quando se vê, já são seis horas!/ Quando se vê, já é sexta-feira!/ Quando se vê, já é natal…/ Quando se vê, já terminou o ano…/ Quando se vê perdemos o amor da nossa vida./ Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado…/ Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio./ Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas…/ Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo…/ E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo./ Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz./ A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará” (O Tempo, Mário Quintana).