«Pesquisei a literatura científica em todas as direções e não encontrei melhor antídoto para o embrutecimento dos espíritos do que a leitura. Ela é uma verdadeira máquina a moldar a inteligência na sua dimensão cognitiva (aquela que permite pensar, refletir e raciocinar), mas também, de forma mais abrangente, na sua dimensão socioemocional (aquela que permite a alguém compreender-se e compreender o outro, para benefício das relações sociais).»
Depois de com “A Fábrica de Cretinos Digitais” o prestigiado neurocientista Michel Desmurget nos alertar para os perigos que a exposição excessiva aos ecrãs representa para o desenvolvimento das crianças, revela-nos agora, no seu novo livro “Ponham-nos a Ler”, qual é o grande antídoto – o principal, até – contra o surgimento do «cretino digital»: ler «por prazer».
A começar pela linguagem, os benefícios da leitura são enormes, conforme comprovam centenas de estudos realizados nos últimos cinquenta anos. Além disso, ler tem também um impacto tremendo na cultura geral, nos resultados escolares (incluindo na matemática), no sucesso profissional, na mobilidade social, na atenção, empatia e saúde física e mental. Preocupante para o autor deste livro é também o facto de este declínio de leitura e de aprendizagem se revelar apenas nos países ocidentais, que ao longo dos últimos quarenta anos se dedicaram a uma economia do lazer, de bem-estar, da imagem e do consumo.
«Uma coisa é certa: nunca conseguiremos inverter a tendência se não conseguirmos, em primeiro lugar, travar a atual orgia de ecrãs recreativos que está a esmagar a inteligência dos nossos filhos até ao ponto da repugnância. Teremos então mais possibilidade de reabilitar a leitura, cujos benefícios educativos são tão profundos como insubstituíveis».
Porém, PARA APRENDER A LER É PRECISO LER. Não nos podemos tornar bons em nada se não praticarmos muito. Ninguém se pode tornar um bom músico se tocar apenas durante a aula semanal. Nunca ninguém se tornou um bom atleta sem treinar regularmente. Da mesma forma, as crianças que só leem quando não têm alternativa não se tornarão bons leitores.
Há muitos anos que os professores dos vários níveis de ensino fizeram soar este alarme, porém o pouco que foi feito foi reduzir o nível de exigências e a complexidade dos manuais ou das matérias lecionadas, inflacionar as classificações, nivelar pelo mínimo para manter a estatística de aproveitamento em níveis fictícios que não corresponde minimamente à fraca aprendizagem adquirida.
A actividade científica que o autor tem desenvolvido incide sobretudo nos efeitos que a televisão e a exposição aos ecrãs de todo o tipo produzem na nossa saúde e no nosso desenvolvimento cognitivo, em especial na infância e adolescência. “Ponham-nos a Ler” é um livro imprescindível.
Não será uma conclusão desanimadora, mas um alerta de como a leitura e sobretudo a leitura crítica é uma ferramenta cada vez mais necessária e fundamental à sobrevivência da inteligência humana e da democracia.