Aos cento e três anos de idade, saudamos a genialidade contemporânea de um dos maiores pensadores em todos os tempos. Edgar Morin, nascido Edgar Nahoum, em 8 de julho de 1921, em Paris, é um antropólogo, sociólogo e filósofo francês. Seria inverossímil definir uma biografia linear ou utilizar o tempo em linha reta para contar a história de Edgar Morin. O Filósofo completou recentemente cento e três anos de vida de uma existência bem vivida e repleta de viagens pelo mundo inteiro e de livros escritos por ele, sendo estes uma centena de obras indispensáveis ao pensamento e às humanidades. Judeu de origem sefardita, Edgar é filho de gregos que se naturalizaram franceses, sua mãe faleceu quando ele tinha apenas nove anos de idade e por isso ele foi criado somente pelo pai.
Desde muto jovem dedicou-se à leitura mais diversa, ao autodidatismo e à investigação; em 1940, aos dezenove anos de idade, prestou exame e ingressou na Universidade de Sorbonne, matriculando-se, simultaneamente, nas faculdades de Letras, de Direito e de Ciências Políticas. Mas seus estudos foram interrompidos devido à invasão alemã na França, ainda em 1940, em decorrência da Segunda Guerra Mundial; entretanto, em 1942, Edgar formou-se em Letras, Geografia e em Direito.
Segundo pesquisas realizadas por especialistas da Comunicação, sabe-se que desde 1938, o jovem Edgar passou a militar em uma corrente de estudantes defensores do socialismo e do nacionalismo, além de um rechaço à guerra; durante a Segunda Guerra Mundial, participou da Resistência Francesa. No ano de 1941, ele passa a viver na clandestinidade contra a invasão alemã, e aí então, com vinte anos de idade, ele muda seu nome Edgar Nahoum para Edgar Morin, nome com o qual se consagraria para sempre.
Na pesada época de guerra, seu posicionamento político evolui e chega até o turbulento contexto do pós-guerra, quando ele volta a morar em Paris. Ele retoma suas funções intelectuais, e uma de sus atribuições é a de pesquisador emérito do CNRS (Centre National de la Recherche Scientifique) ou Centro Nacional da Pesquisa Científica. Morin lançou seu primeiro livro, “O ano zero da Alemanha”, em 1946, no qual exime o povo alemão de uma culpa coletiva pelas atrocidades ocorridas na guerra; seu primeiro livro traduzido para o português foi “O cinema ou o homem imaginário”, publicado em 1958. Morin passa por muitas dificuldades, mudando de cidades, trabalhando em algumas atividades pouco rentáveis, embora todas voltadas para seu intelecto.
Em 1959, concretizou centros de estudos para estudantes e, em 1962, lançou a revista “Comunicações”, a qual dirigiu de 1973 a 1990. Ainda em 1973, assumiu o cargo de codiretor do Centro de Estudos Transdisciplinares francês, cargo que exerceu até 1989 e período em que trabalhou arduamente em sua principal obra, “O método”. Este tem seis volumes, mas igualmente importantes são suas outras obras, “Introdução ao pensamento complexo”, “Ciência com consciência” e “Os sete saberes necessários para a educação do futuro”. No total, a produção intelectual de Edgar Morin compreende mais de sessenta livros.
Atualmente, Morin vive entre o interior da França e o interior do Marrocos; é antropólogo, sociólogo e filósofo, realizou estudos avançados em Filosofia, Sociologia e Epistemologia e, pelo conjunto de sua obra, é considerado um dos principais pensadores contemporâneos e um dos grandes teóricos da complexidade. Sua história pode ser lida em diversos livros, revistas, sites, portais e em vários formatos, inclusive em quadrinhos e vídeos. Como exemplo do que expusemos sobre este pensador, transmito um pequeno trecho de seu texto quando respondeu a seu entrevistador.
Questão : “Nestes tempos trágicos, o que podemos esperar?” Resposta do Mestre: “A previsível falta de esperança é semelhante a nossos dias, mas as condições são diferentes. Não estamos atualmente sob ocupação militar inimiga: estamos dominados por poderes políticos e econômicos formidáveis e ameaçados pelo estabelecimento de uma sociedade subjugada. Estamos condenados a sofrer a luta entre dois gigantes imperialistas e a possível erupção bélica de um terceiro. Estamos em uma corrida rumo ao desastre.”
A pergunta sobre “Fraternidade, vida e amor” (temas recorrentes de Morin). Resposta: “A primeira e fundamental resistência é a do espírito – ou – A primeira e fundamental resistência é a da mente. Ela significa resistir à intimidação de toda mentira contada como verdade, ao contágio de toda embriaguez coletiva. Significa nunca ceder à ilusão da responsabilidade coletiva de um povo ou de um grupo étnico. Significa resistir ao ódio e ao desprezo. Requer a preocupação de compreender a complexidade dos problemas e fenômenos em vez de ceder a uma visão parcial ou unilateral. Requer pesquisa, verificação de informações e aceitação de incertezas.”
Ao final, quando o Filósofo foi questionado, “Nossos filhos crescerão em condições piores do que as nossas?”, ele respondeu: “É a união, dentro de nossos seres, dos poderes de Eros e do espírito desperto e responsável que alimentará nossa resistência à escravidão, à ignomínia e às mentiras. Os túneis não são intermináveis, o provável não é o certo, o inesperado é sempre possível.”
Bons pensamentos a todos nós!