Desafiado por amigo a voltinha ao Portugal profundo, e a ler sentidos (de vida) de terras, pessoas e monumentos, começámos pela subida à serra de Montejunto de vistas deslumbrantes a deplorar que tudo aquilo – ruínas de convento, capela, fábrica de gelo, moinhos, aldeia de camping, paisagens – não cabe numa hora apressada e deixa desejo de voltar. À beira do Tejo por Belver o restaurante já não tinha sopa para duas pessoas por falta de reserva. E agora?
Mais uns quilómetros à procura, a fome não é tanta como para 700 milhões no mundo! Ali, pela bela aldeia de Penha Garcia, o restaurante promete ensopado de borrego e saem duas batatas, carne dura e uma fatia de pão “esturrado ”encharcado de óleo amarelo. E esta? Esperar ensopado alentejano e… Não se pode ter tudo e já. Aqui e além trouxe à baila a barbárie do wokismo: imagine-se a loucura de destruir o religioso cristão a alastrar e reduzir a nada: obras de arte, igrejas, catedrais, capelas, pinturas, museus, estátuas de santos e santas, cruzes, edifícios, conventos…No mundo inteiro, tudo, tudo…Já não se veriam grupos em oração como vimos na bela igreja de talhas douradas em Oleiros e noutras. Seria triste celebrar o Jubileu 2025.
Oleiros, terra do atual bispo dos Açores oferecia leitura de sentido: um centro cultura,belo quadro do Pe. António de Andrade e livro disponível da sua vida. Não foi mercador de escravos, mas Jesuíta, nasceu ali em 1561, estudou em Coimbra, Lisboa e Goa onde foi ordenado. Quando superior em Agra, Índia, onde existe a velha catedral (1598) construída, por jesuítas, a pedido de Akbar (o Grande imperador mongol), demolida (1635) e reconstruida (1769) que visitei em 2013, subiu ao Tibete com outro, o Irmão Manuel Marques.
Caminhou quarenta dias de frio e cansaço, em romaria budista, até Chaparangue. Ficou 25 dias no Tibete, fez contactos, regressou e voltou ali em 1625 com outro jesuíta ficando até 1630, ano em que já era provincial em Goa.
Para mais leitura, o livro “Descobrimento do Tibet pelo P. António de Andrade narrado em duas longas cartas…” Coimbra 1921, fac-similado (Alcalá 2005), e em cuja apresentação participei em 2006 e lembrei a chegada do cristianismo a Xian (China) ali registada em estela que gostei de ver em 2002. (A.G. “Caldos de Cultura…”,(2015) pp.251-252.A sua vida faz parte da evangelização global por missionários que agora alguns wokistas querem rebaixar a escravatura.
Mais sentido se respirou na igreja, onde um grupinho adorava o SS. Sacramento a que nos associámos alguns minutos. Sentido, também lemos no desabafo escutado de mulher magoada a quem se perguntou de quem eram alguns edifícios degradados ali ao lado. Lamentou-se sentidamente por não lhe remediarem as carências.
Tinha trabalhado e agora na reforma era tratada sem justiça pelos empregadores e governantes que gastam com miradoiros caros e se esquecem dos idosos. (Referia-se ao belo Miradouro do Zebro em rochedo a 800 metros de altitude projetado por Siza Vieira que tínhamos contemplado). À pergunta se ela ia para a oração e se ali se queixaria a Jesus. Disse que sim, e muito, nem imaginam, acrescentou.
E por fim, surpresa, agradece por a termos escutado. A conversa entre os dois feriantes até abordou a hipótese de os Irmãos de S. João de Deus iniciarem obras de hospitalidade em vilas interiores com apoio de voluntários para responder a carências gritantes e reais dos seus moradores!
A visita às celas e restos da capela do hospital militar de Penamacor (agora de serviços municipais) foi surpresa. Nos séculos XVII e XVIII, a pedido de D. João IV, os Irmãos assistiam soldados feridos nas guerras de fronteira, ali, em Almeida, Elvas, Valença, Lagos, e outras praças. Um salto a Alcântara, além Tejo, Espanha, deu para admirar a ponte monumental com cerca de dois mil anos para homenagear o imperador Trajano (de 98 a 117) com o arco de triunfo a meio e um templo a este imperador na entrada sul. Natural de Bética (Andaluzia) foi famoso pelas conquistas e construções de monumentos e magnanimidade. Recordámos por ali o franciscano S. Pedro de Alcântara que na Arrábida e Azeitão fundou a reforma dos frades Capuchos e que D. João V convidou para o convento de Mafra.
Impressiona o vazio de aldeias e vilas com idosos, avós e poucos netos. Um raro grupo de cinco mulheres em esplanada de bar conversava: saudámos e sentámo-nos. Perguntámos se havia padres naturais da terra. Que sim, uns dois ou três, e logo se avançou que um ia celebrar 50 anos de padre por esses dias. E vieram as lamentações: “o padre agora já não mora cá. Vem só celebrar. Não é a mesma coisa”.
A saída para cidades e para fora deixa avós e idosos na solidão.
Vêm para as festas de verão, mitigam o isolamento, e logo partem com netos e jovens e volta a solidão de avós e idosos, como o Papa lamenta na mensagem no “IV Dia Mundial dos Avós e Idosos”. Santa Ana e S. Joaquim abençoem os cerca de 10.500 netos madeirenses a viver com os avós!
Funchal, Dia Mundial dos Avós e Idosos, 26 e